24/08/2005

ANNIE LENNOX EM ÁGUA FRIA.

"Good things would happen soon, cause I knew that I was going to be a legend in my living room."

Uma lenda... apenas na sua própria sala de estar. Annie Lennox pode não ser Madonna, mas é muito mais para mim.

Ei, ei, os comentários estão intensos por aqui, hein?

Fico tentando entender algumas críticas ou ofensas, por que acho engraçado alguém que me detesta tanto freqüentar diariamente o meu blog. São muitas as respostas possíveis e eu não poderia saber realmente sem essa pessoa se identificar. Geralmente são comentários tolinhos, o que sugere que meu opositor é alguém bem jovem que tem algum problema pessoal comigo, não literário. Mas, sinceramente, isso me aborrece tanto quanto me instiga, e acho que se os comentários negativos cessassem completamente eu sentiria falta, como no término de um soluço persistente, sabe?

Também sei que isso é normal e acontece com vários outros escritores, independentemente de gênero e qualidade. A Clarah Averbuck fez escola nesse campo. Marcelino Freire recentemente tirou os comentários do seu blog por causa disso. Eu prefiro continuar estudando-os, tentando entender as motivações.

A conclusão mais óbvia que podemos tirar é que se trata de inveja. Mas acho isso tão tolo, tão tolo que continuo na dúvida. Quero dizer, inveja do quê? Tenho orgulho do que conquistei, sim, uma enorme satisfação de ter meus livros publicados, um público que me lê, matérias positivas na imprensa, mas sinto que isso tudo é apenas um satisfação pessoal. Não quer dizer muito para os outros. Ganho muito menos grana hoje do que antes de publicar. Não estou sendo parado por fãs na rua nem furo filas de boate. Não há status nenhum. É muito raro alguém me reconhecer como escritor e, mesmo quando digo meu nome, é raro ouvir alguém dizendo: "hum, sim, já li algo sobre você". E se reconhecessem, qual seria a diferença?

Então essas pessoas têm inveja do quê? Sinceramente, e sem modéstia, acho que só poderiam ter inveja da qualidade do que eu escrevo, não do resultado que obtenho. Vão trabalhar numa agência de publicidade, vocês vão ter mais sucesso e reconhecimento.

Essas pessoas que jogam pedra nos "novos escritores" não sabem como somos fodidos, quão pouco recebemos pelo nosso trabalho e como fazemos isso por amor.

Podem questionar a qualidade do meu trabalho, mas eu continuarei fazendo, simplesmente porque sinto prazer com isso. Ao contrário de muitos, eu escrevo por prazer, por isso mesmo tenho uma pilha de contos e até romances que não foram lançados e nunca lançarei, escrevi apenas por satisfação pessoal.

Talvez o pensamento dessas pessoas (e já ouvi isso por aqui) seja de que "estamos roubando o lugar delas". Ah, sim, "esses escritorzinhos moderninhos estão se dando bem enquanto que ‘os verdadeiros’ estão se fodendo". Bem, se existem outros escritores "mais verdadeiros" eles não deviam se preocupar tanto com o sucesso, e sim em continuar escrevendo. O que eles querem, ganhar dinheiro? O sucesso é conseqüência de várias coisas que não englobam necessariamente qualidade, é verdade. Então, ou eles entram no esquema e "se modernizam" ou se satisfaçam apenas escrevendo seus continhos anônimos.

Eu me satisfaria.

Ninguém está roubando o lugar de ninguém. No mercado editorial, é exatamente o contrário que acontece. É preciso que uma editora tenha escritores rentáveis para poder investir em outros em início de carreira. No caso da Planeta, eles precisam do Fernando Moraes para eu lançar meu feriadinho...

Também acho que muitos escritores que conquistam destaque não tem realmente qualidade, mas, como disse, essa é outra questão. Para ser escritor, profissionalmente, não basta apenas saber escrever. É a mesma coisa de dizer que para ser professor de inglês você só precisa saber a língua. Não, é preciso outras coisas, infelizmente. Você depende de uma boa editora, e do relacionamento com ela. Do relacionamento e acesso com a imprensa. Da apresentação visual e distribuição do livro. Enfim, tantas coisas além da escrita, mas que também demandam um certo talento (e sorte).

Não quero dizer com isso que exista "uma máquina" por trás dos escritores. Existe sim, uma geringonça. haha. Quero dizer, é um esforço tremendo para pouco resultado. Nenhuma editora está investindo mensalões em mim ou em qualquer escritor que seja (novo ou velho). Bem, com raríssimas exceções...

É claro que também acho que quem está publicando tem uma responsabilidade. Recentemente uma menina que não conheço pessoalmente me pediu para escrever o prefácio do livro dela. O livro era uma coletânea de um blog. E era um blog "blog", legal, divertido, assim como o meu (haha). Quero dizer, um blog sem nenhum pretensão literária, apenas um diálogo com o leitor, uma reflexão sobre o dia-a-dia, algo que envelhece uma semana depois. Recusei o convite pensando exatamente nessas pessoas. Essas pessoas que estão se fodendo e dando o sangue para escrever um livro e não conseguem publicar. A própria menina admitiu que o livro era "apenas um brincadeira", mas eu não acho que um livro deva ser visto assim. Pelo menos, não um livro de estréia. Ela tem capacidade de escrever algo mais literário e devia lutar por isso. Eu jamais publicaria os textos deste blog num livro.

Mas eu também devia rever meus conceitos. Porque isso de que livro precisa ser sempre muito denso e muito profundo não é saudável. Livro deveria ser algo mais leve, para fazer parte das pessoas, abrir o apetite com torradinhas para depois servir ostras. Isso é o que aumentaria o número de leitores, faria as pessoas perderem o medo do livro, a deixa do presidente de que "livro é que nem esteira de correr..."

De qualquer forma, eu ainda não me sinto confortável em colocar meu nome num livro "de diversão". Não viram na quarta capa de "A Morte Sem Nome": Isto não é diversão, não é para você se divertir....

Só mais um recado para meus detratores. Vocês não tem nada a ganhar com seus ataques a mim, pelo contrário. Eu faço o que posso por quem eu leio e gosto e acho que não teve ainda sua chance. Claro que entendo a inveja, nem sempre a gente pode ter sentimentos nobres. Mas quando sinto inveja de alguém, fico quietinho, por vergonha, e espero o sentimento passar.

Bem, bem, parafraseando mais uma vez nosso presidente, o negócio é continuar correndo na esteira. Quem escreve com qualidade, de repente terá sua chance. Quem não escreve, pode ficar com o corpo em forma... e daí resolver os problemas pessoais comigo, numa noite dessas...

NESTE SÁBADO!