07/08/2005

MENINAS SUPERPODEROSAS

Tem uma mocinha de Uruguaiana que uma vez, no Teatro de Arena, veio falar comigo que tinha lido meu livro. Não entendi direito o que ela disse e perguntei se ela falava português - sabe como é, sotaque da fronteira. Ela não me levou a mal e daí começamos a trocar emails e ela me falou que tinha uma pequena editora de livros caprichosos e veio aqui em casa e saímos pra dançar e ficamos amigos e ela me deu presentinhos e eu li os livros que ela editou e eu li o livro que ela escreveu e... ufa, a menina é boa demais.

Ela é Cristiane Lisbôa, PRESIDENTE da Fina Flor, uma editora que faz pequenas tiragens de livros que unem literatura e artes plásticas, numerados e assinados pelo autor, com interferências à mão, como gravuras para folhear. Vocês podem saber mais sobre a editora aqui: www.editorafinaflor.com

O livro dela, "Deles e Quase o Resto", é uma coisinha. Não vou dizer que são "micro contos", porque acho que esse termo está meio desgastado. É um livro de "prosa ligeira" que mistura afetividade com uma certa bizarrice, para todos saírem ganhando. Quero dizer, ela não pesa como "louquinha" porque tem sua ternura. E não é apenas "meiguinha" porque tem uma estranheza. E o bom dessa "ligeireza" é que dá para colocar um conto inteiro dela de exemplo aqui:

Se orgulhava de sempre sentir as mudanças do tempo. Quando ia chover, sentia um não sei o que nas pernas, como quando se entra no rio vestindo calças de lã. Em dias antecedentes a noites de vento, os cílios faziam barulhinhos engraçados chocando-se uns contra os outros. Já perto de futuras manhãs de sol, a parte de lado dos lábios, ali no final das bochechas, ficava ruborizada e quente. / Quando ele chegou perto, sentiu uma coisa que não conseguiu descrever. Era amor, disseram. Gostou do nome e para tudo o que sentia gostava de dizer "é amor". Só amor.

E tem outra mocinha que me mandou um livro uma vez que eu não entendi direito, porque era escrito em primeira pessoa por um menino adolescente paulista e era uma coisa meio Sallinger, mas diferente, e eu achei o menino um pitéu, mas não era um menino, era uma menina escrevendo, e uma menina carioca, e daí ela veio aqui em São Paulo e nos encontramos e eu dei meu livro pra ela e ela me deu os originais do segundo romance dela e eu terminei de ler neste final de semana.

Essa é Ana Paula Maia, de quem eu já falei várias vezes aqui no blog. Uma jovenzinha com fôlego de garoto punk... ou algo melhor, que escreve romances enormes e cinematográficos como esse novo, "Acossados" (ainda inédito). Coisa das mais difíceis hoje em dia é mulher com história para contar. Quero dizer, tem mulher com poesia, com confissões literárias, com análises panorâmicas, tudo muito bem escrito, mas mulher que não esteja contando sua própria história é difícil, ainda mais em romance. Ana Paula Maia é assim, cria personagens verdadeiros, em sua maioria masculinos, desenvolve tramas, amarra tudo muito bem amarradinho. Eu me esforço bastante para tentar descobrir o que há de "ideologia pessoal" nos livros dela, o que é a autora falando. Acho que, nos meus livros, por exemplo, é fácil de se identificar isso. Mas nos dela não, não se ouve nenhuma menina carioca de vinte e poucos, apenas seus personagens esdrúxulos. Isso é ótimo.

E tem uma de quem eu sempre ouvi falar, que tinha um nome meio de personagem de RPG e eu imaginei que ela soltasse raios laser ou escrevesse por lazer ou tivesse outras coisas para fazer além de escrever, sei lá. Daí a gente se encontrou e ela foi sempre super querida e eu fui ver uma leitura dela e eu gostei demais e procurei outras coisas no blog e coloquei o link do blog dela aqui e comecei a achar que ela é que achava que eu era personagem de RPG.

O codinome dela é Índigo, escreve livros infanto juvenis sem babaquice nenhuma, com um humor absurdo, inteligentíssimo, uma criatividade de piá anfetaminado. Aliás, se ela escrevesse em inglês, seria a autora favorita da Björk... Dá para ler algumas coisas aqui: http://73obsessoes.zip.net/

E tem mais, tem mais, fico feliz que ultimamente começou a chover mulher na minha horta... quero dizer, escritoras, porque eu achei que só tinha homem escrevendo e só homem bom... ops, quero dizer, homens ruins, mas escrevendo... ops, quero dizer, só homens ruins escrevendo bem, porque homem bom escrevendo eu ainda não encontrei, GRAÇAS A DEUS! Haha.

Mas essa outra aí é boa, em todos os sentidos, parece que até já saiu na Playboy, mas é boa sim, quero dizer, claro, se saiu na Playboy... mas escreve bem sim, com uma sensualidade... não, não é uma sensualidade Maryeva, é uma sensualidade literária, um texto feminino e orgânico, também com o nome dela... Andrea del Fuego.

Também tem blog: http://delfuego.zip.net/

Recentemente ela me demonstrou outro de seus talentos analisando um sonho super profundo que eu tive com o Junior (da Sandy).

Ah, e tem a Ivana Arruda Leite, mas hoje não vou falar dela porque ela é bem famosa e não precisa de mim, mas eu gosto dela e coloquei o blog dela aí do lado e ela também é minha amiga, minha amiga famosa e daí eu fico falando que tenho amigas famosas e escritoras e minha fama de só ter amigos do submundo vai por água abaixo, mas pela água da sarjeta, olhando para as estrelas, sei lá. Haha.

E tem, acima de tudo, Elisa Nazarian...

ENTÂO VOCÊ SE CONSIDERA ESCRITOR?

Então você se considera escritor? (Trago questões, não trago respostas...) Eu sempre vejo com certo cinismo, quando alguém coloca: fulan...