05/08/2005

BON JOUR, TRISTESSE

Continuando com as entrevistas, hoje saiu uma entrevista e uma resenha bem interessantes sobre "Feriado" no Paralelos: http://www.paralelos.org/

Ronize Aline, a entrevistadora, discorreu bastante sobre a capa do meu livro, da qual eu tive grande participação, para analizar minha produção atual. Conversamos também sobre Body Art, solidão e masturbação, está tudo no Paralelos.

Mudando completamente, totalemente, indo para outro universo de assunto, hoje estive em mais um desfile do Ricardo Almeida (estou ficando sócio dele). Sempre acho divertido. Mas fiquei vendo aqueles meninos 70% cyan desfilando e me deu uma tristeza. Todos eles me pareciam tristes, frustrados, tinham um olhar daqueles que sentem uma falta enorme de uma prancha, fosse de surfe fosse de skate. Quero dizer, sei que eles são treinados para aparentar um olhar de indiferença/apatia/superioridade, e às vezes até dá vontade, mas hoje só consegui captar tristeza mesmo. Afinal, quem consegue acreditar que meninos com aquelas franjas se sentem à vontade com ternos? Haha. Faça me o favor.

Depois do desfile, fiquei calibrando ao lado deles e me deu vontade de gritar: "Alô, caravana de Brusque!" Haha. Tenho certeza de que a maioria faria a "ola". É uma tristeza mesmo. Conheço bem esse meio, arrancam os meninos do meio da roça e os enfiam às dúzias em prédios alugados por agências, com as cuecas secando à meia sombra. Eles ralam o dia inteiro fazendo testes para castings e de noite trabalham de barmen (bem, eu já morei no sul, eu já fiz casting e eu já fui barman). Não há nada de glamuroso. Alguns conseguem bastante trabalho, mas ainda complementam a renda com bicos extra de michê de luxo (isso é o que há de mais comum nas agências de modelo, tanto para homens, quanto para mulheres. É, modelos top, passam por isso, obviamente).

Ah, me deixa triste. Ainda bem que nós, jovens escritores bem sucedidos que vamos no Jô e saimos na Quem, ganhamos fortunas só fazendo versinhos:

O que m’escapa por entre os dedos
penetra-me pelo nariz,
inspira-me gozo e medo,
me forçando a continuar e insistir.

E o qu’eu fiz? É o que sempre faço.
O que faço é o que sempre me faz.
Reciclando entre beijos e abraços
a poesia que o papel não tem.

E a poesia que o papel não traz,
é fluido no meu nariz,
Se me ajuda como respiração,
se invade minha circulação,
se domina a minha razão,
tampouco me faz feliz.


NESTE SÁBADO!