21/08/2005

ANNIE LENNOX MERGULHADA EM ÁGUA QUENTE.

Esta semana foi pesada.

Passei todos os dias no CCBB, projetando as legendas de uma mostra de filmes do grupo Dziga Vertov, formado pelo (Jean Luc) Godard e o (Jean Pierre) Gorin. São todos filmes políticos dos anos 70, extremamente verborrágicos, a maioria com imagens aleatórias e diversos narradores simultâneos. Imagine para eu ouvir tudo isso em francês e lançar as legendas sincronizadas. 17 sessões. Mais foda ainda foi para minha mãe, Elisa Nazarian, que traduziu todos os filmes.

Mas o pior mesmo foi em 5 sessões que me tiraram para intérprete. Além de legendar os filmes, eu tive de traduzir palestras do próprio Gorin. Eu já tinha sido cogitado para esse trabalho, mas recusei porque não me sentia seguro. Arrumaram outra intérprete para a palestra oficial que ele deu no sábado, mas além dessa, ele resolveu falar antes de TODAS as sessões. Só sobrou eu lá para o serviço. Um terror. Traduzir é uma coisa, você faz em casa, bonitinho, lê a palavra ou ouve várias vezes, tem calma para pensar, eventualmente procurar no dicionário. Outra coisa é ficar de pé num cinema, de frente para o público, ouvindo um cara falar em outra língua por vários minutos seguidos, sobre o cinema novo e política francesa, depois ter de lembrar de tudo e ainda traduzir para o português. Eu me perdia, ficava nervoso demais, quando ele estava na terceira frase eu já havia esquecido da primeira. Meu inglês é bem melhor do que o meu francês, mas o Gorin falava em inglês com um baita sotaque francês e só confundia mais as coisas. Mas até que, no final, eu já estava mais ou menos dominando a situação... mais ou menos...

Por sorte encontrei uma amiga minha, a Maíra Mee, sexta na platéia, e a escalei para o trabalho. Assim pude ficar bem quietinho, só me preocupando com os filmes.

O mais gostoso dessas mostras, ao meu ver, é o clima que se forma. Todos os dias as mesmas pessoas, em todas as sessões, você começa a reconher os rostos, dá uma sensação de estar na escola, com os coleguinhas, assistindo às aulas, hehe, especialmente por eu ter cada vez menos experiências sociabilizantes.

Teve uma coisa que o (professor/diretor) Gorin disse que achei bem interessante (se é que eu traduzi corretamente). Disse que o artista não deve se preocupar só em acertar. Que nem sempre pode se ter sucesso. Que o melhor a fazer quando se quer chamar a atenção para um aspecto importante é rodear esse aspecto de questões insignificativas.

Taí.

No meio desse curso intensivo, também tive de ler um livro e mandar a resenha sob encomenda para a Folha. Ao menos era um livro bem interessante. Depois que a resenha for publicada eu coloco aqui e digo qual livro é.

Agora só me resta tomar o chá "Sweet Dreams" e dormir, dormir, sonhar, talvez.

ENTÂO VOCÊ SE CONSIDERA ESCRITOR?

Então você se considera escritor? (Trago questões, não trago respostas...) Eu sempre vejo com certo cinismo, quando alguém coloca: fulan...