01/09/2005

ARANHA NO AÇÚCAR

"Antes que pudesse abrir qualquer página, uma aranha subiu na minha mão, prendeu-me com teia ao livro, passeou por entre meus dedos. Melado eu estava, melados meus dedos. Tinha medo. De que ela me mordesse pelo açúcar. "Aranha não come doce", minha consciência dizia. A mãe do Santiago diria: "aranhas se alimentam de livros". Ou dos insetos que vivem entre eles, daqueles que escalam lombadas. Eu queria puxar minha mão para longe. Mas estava grudada."

Saiu na revista Bravo deste mês um conto inédito meu, "Aranha no Açúcar" (trecho acima). Este conto inaugura a última página da revista, que agora será dedicada todos os meses à ficção. É um dos meus favoritos, apesar de ter sido bem editado para caber na revista.

E tem mais uma pá de contos, da minha melhor safra, saindo neste segundo semestre:

"Como Desovar Cogumelos": "Nunca fui de falar de futebol e meninas, queria falar sobre fungos, mas acho que nisso eles não se interessariam. É por isso que sou escritor - penso com aquele orgulho tolo, secreto e exclusivo." Será lançado em setembro, na antologia 4X Brasil, da Artes e Ofícios Editora/RS.

"Ismália": "Ela era muito mais mulher do que eu. Mas não quero dizer com isso que ela tinha algum traço de esquizofrenia." Sairá na antologia "De Verso em Prosa", a ser lançada pela Editora do Senac/RJ.

"O Vendedor de Mancebos": "Ele era cronista, e isso lhe trazia cada vez mais vergonha. Não estava esclarecendo os fatos, como seus colegas jornalistas, nem sublimando-os, como seus amigos escritores. Ele tinha compromisso com a verdade, mas essa não poderia lhe salvar." Deve sair na revista do Sesc, em outubro.

"Serpentes com Braços": "O sorriso do garoto colocava os pés na cadeira da frente. Mostrava-lhe a sola para que o professor tivesse certeza de que estava sendo pisoteado. Ah, era pisoteado. Por mais que tentasse ver os garotos como serpentes, por mais que quisesse ser apenas um rato para alimentá-los, por mais que desejasse ser textura entre os dentes, tecido constituinte, proteína animal, ele sabia, eles sempre teriam pernas para lhe pisar." A ser lançado em livro durante os debates sobre literatura latino americana no CCBB Rio, em outubro.

Além disso tudo, terminei e registrei recentemente meu quarto romance (ainda não negociado). O título... é a primeira vez que digo em voz alta: "MASTIGANDO HUMANOS".

Com certeza meu melhor livro, de longe. Mas esse vai ficar guardadinho um bom tempo...

(agora escuto "and he stole from the rich and the poor and the not-very-rich and the very poor and he stole all hearts away". Morrissey. A coisa mais previsível que um rapaz como eu poderia ouvir... depois de Bowie)

NESTE SÁBADO!