COMO DESOVAR COGUMELOS EM PORTO ALEGRE
Nesta terça, às 18:30, na Casa de Cultura Mário Quintana, em Porto Alegre, acontecerá o lançamento da antologia "4X Brasil", organizada pelos professores Fernando Schüler e Gunter Axt.
A antologia é uma reunião de ensaios e contos sobre a cultura no Brasil, nas últimas décadas... ou algo assim. Conheci o Gunter no lançamento do "Feriado" em Porto Alegre e ele me convidou para escrever um artigo sobre "a nova literatura" para o livro. Como não sou teórico nem acadêmico, e não tenho nenhuma intenção de ser, fiz a contra proposta de escrever um conto sobre o mesmo tema. Felizmente ele aceitou, e o resultado está no livro.
É um conto bem extenso chamado "Como Desovar Cogumelos". Nele, eu faço uma sátira da cena literária atual, da qual eu também faço parte, descrevendo alguns tipos de escritores como "aquele que escreve blogs, tem banda e faz fotos, mas ninguém nunca viu livro"; ou "aquele que organiza antologias, participa de debates e freqüenta a cena literária, mas não escreve’; e ainda "o autor de micro-contos". Tem provocação para todo mundo, porque estou aqui para isso. Podem levar na brincadeira ou me tacar pedra, hehehe, em trechos como:
"Certamente é uma obra pesada. Tem o peso exato que eu preciso. O peso exato que eu preciso sobre o crânio do meu colega. Acerto-o. Rachado. Ele vem ao chão. Ninguém precisa de mais um escritor que escuta Chico Buarque."
Bem, mas eu mesmo não vou estar no lançamento. Não vai dar para ir para Porto Alegre. Não que eu esteja pobre, o que é isso, sou milionário, não é? Mas meu jatinho está trocando os pneus...
De qualquer forma, adoraria ir. Adoro Porto Alegre. Morei lá entre 2000 e 2002, dos 22 aos 24, e foi uma das melhores experiências da minha vida. Decidi ir a esmo. Não conhecia ninguém lá. Não tinha trabalho. Mas havia acabado de me formar, tinha uma certa grana e queria me afastar de São Paulo, morar em outro lugar, experimentar uma outra vida. Deu certo. Claro que o primeiro ano foi bem difícil, sem conhecer ninguém, indo morar sozinho pela primeira vez. Arrumar emprego acabou sendo a parte mais fácil. Mas depois, com o tempo, acabei fazendo grandes amigos, que vão ficar para a vida toda, e consegui escrever meus dois primeiros romances, tudo graças ao clima da cidade e da nova inclinação da minha vida.
Saí de lá porque queria viajar pela Europa. E depois não fez mais sentido voltar. Quero fazer isso de novo, em várias cidades, no Brasil e fora, mas o cotidiano cada vez mais me engessa...
Para quem quer conhecer literariamente Porto Alegre, recomendo "Rastros do Verão", novela de João Gilberto Noll. Acho que está esgotada em volume independente, mas pode ser encontrada em sebos ou na publicação "Romances e Contos Reunidos", lançada pela Companhia das Letras, que reune tudo o que o Noll lançou até 98 e é umas melhores coisas que eu tenho na estante (ainda mais depois que ele autografou carinhosa mente).
Bem, "Rastros do Verão" narra a chegade um homem à rodoviária de Porto Alegre, seu percurso meio a esmo pela cidade, sempre deixando questões inexplicadas, dúvidas que incomodam, o que eu considero uma das melhores características da narrativa "nolliana".
E eu li esse livro da melhor maneira possível, numa das minhas primeiras viagens a Porto Alegre, no ônibus, quando eu ia e voltava seguido, preparando a mudança.
Depois, cheguei a rondar pela cidade com o Jaspion, meu namorado na época, procurando os cenários e prédios descritos no livro.
Foi assim que me perdi de vez...