06/09/2006

ARANHA NO AÇÚCAR

Assisti neste final de semana o espetáculo de Denise Stoklos sobre Louise Bourgeois – "Faço, Desfaço, Refaço". Para quem não sabe, Louise Bourgeois é uma artista-plástica francesa, hoje com 95 anos, mais conhecida pelas esculturas de aranhas gigantes que espalhou pelo mundo (tem inclusive uma aqui no MAM).

Denise Stoklos é aquela "mímica esquisitona", brasileira, fazendo espetáculos cults e premiados há mais de três décadas, pelo Brasil e pelo mundo. Mas isso é pouco, pouco para definir o que se pode esperar de Denise em ação.

Não há nada flagrante, nada representativo nem nada isoladamente perfeito. Denise não é exatamente engraçada, não choca, não faz acrobacias, tem um ritmo bem neurótico. Assim que o espetáculo começou, pensei "isso não vai dar certo". Dramatização dificílima de definir o tom, sintonizar com o clima, a poltrona continuava macia. Ao se compor, decompor e recompor, a biografia de Louise serve como palco de discussão sobre fundamentos da arte, mas tudo num clima meio estranho, não deixa de ser didático, nem se entrega totalmente a isso.

É assim que a coisa vai se desenvolvendo, o texto vai se desdobrando, acontecendo, e, de repente... acaba.

É isso, a peça acaba quando você está aquecido, preparado para assistir mais duas horas de espetáculo. Quando você QUER mais duas horas de espetáculo. Quando eu finalmente entendi qual era a dela, fecham-se as cortinas. E pronto. Ponto. O espetáculo se torna perfeito.

Agora só posso ser mais um a se ajoelhar aos pés da Denise Stoklos. Incrível, fabulosa, sensacional. E ela atinge isso exatamente por não entregar nada fácil, não ser em nenhum momento óbvia, impressionante, impactante, é tudo no ponto certo para que o espetáculo tenha uma força como um todo. E acredito que isso só pode ser atingido por uma artista que se conhece tanto, que chegou a um nível tão grande de segurança... para não dizer "maturidade".

Não conheço quase mais nada do trabalho da Denise. Acredito que ela tenha realizado diversos atos impressionantes", tenha feito incríveis "piruetas e pirotecnias". Eu certamente gostaria de ver, eu acharia incrível. E talvez por ter feito tudo isso, hoje ela é "DENISE STOKLOS" e não precise mais de fogos-de-artifício, já tem estrelas em seu próprio nome.

Por tudo isso, Denise Stoklos é uma das maiores artistas que já assisti. E eu quero ver de novo. Esse mesmo espetáculo. Não é daqueles que corta tão profundo que você não quer estragar a primeira experiência. É daqueles que você gostaria de ver todos os dias. Decorar o texto. Deliciar-se ao perceber que cada coisa está no lugar certo, mesmo que pareça ter sido largada ao acaso.

Ai, desculpe, desculpe a pagação de pau. Haha. Mas é tudo de coração.

Serviço: "Louise Bourgeois - Faço, Desfaço, Refaço"- Texto e cenários de Louise Bourgeois, direção, adaptação e dramatização de Denise Stoklos. Em cartaz no Instituto Cultural Capobianco - R. Álvaro de Caravlho, 97, em São Paulo, até dia 1 de outubro. (os horários vocês procuram, bah!)

Bem, fora isso, o quê? M. N. Shyamalan? Fui ver o "Dama na Água". Sim, entendi o trabalho dele. Achei interessante a forma como ele lida com algumas questões, ok.. Respeito um pouco mais, apesar dele já ter dado emprego para o Mel Gibson. O problema é que as questões não me interessam... e são questões... rasas... Tudo bem, tudo bem, ele pode transformar uma piscina num portal para o outro mundo, mas isso não vai impedir o cloro de fazer meus olhos arderem. "Oh, o ser humano esqueceu de sonhar..." Hahaha. Nunca mais falarei sobre ele. Esquecerei, esquecerei.

Melhor ir ver "O Sabor da Melancia" do Tsai Ming-Liang. Não é o filme dele que eu mais gosto. Talvez seja o que eu menos gosto. Mas já vale pela trilha. Vi ano passado na Mostra e vou ver amanhã de novo.

Literatura? "Mastigando Humanos". À venda à partir de semana que vem. Lançamento oficial, dia 20. Hoje gravamos a entrevista para o C-Rom do release.

ENTÂO VOCÊ SE CONSIDERA ESCRITOR?

Então você se considera escritor? (Trago questões, não trago respostas...) Eu sempre vejo com certo cinismo, quando alguém coloca: fulan...