07/09/2008

O KITSCH E O EXAGERO ENTRE OS ELEITOS


Mr. 1839? (Liszt por Ingres)


Esta semana fui ver a bela Hallé Orchestra de Manchester, na Sala São Paulo, com a jovem solista russa Polina Leschenko, no piano. Impressionante. Uma menina novinha e magrinha que perfurou meu coração com os dedos.

Toca Raul!

Primeira vez que ouço o 1º Concerto do Liszt ao vivo. Parece um hino do período romântico: a orquestra entra e Liszt entra atrás, arrastando o piano e derrubando tudo junto. Liszt sempre foi meu favorito – não só pelos cabelos compridos, ok? – mas por todo o exagero, o virtuosismo e, claro, pela mítica, um artista romântico para chamar de seu (ou de meu). Já li 3 biografias sobre ele. Foi o maior artista/pianista de sua época, e um dos primeiros a ascender como uma figura pop, não só pelo talento, mas também pelo marketing, pela beleza, por ser um personagem vivo da própria arte.

Até hoje alguns criticam seus exageros. Falam que é um compositor menor (não apenas em relações a mestres como Beethoven e Mozart, mas também contemporâneos como Chopin), pois suas composições existiam apenas para ressaltar seu virtuosismo como pianista. Suas transcrições para o piano de obras para orquestra de outros compositores (como Saint-Saens e Berlioz) são até cômicas nesse sentido. Mas assim que é bom. Assim que eu gosto. Assim que eu quero. E se um compositor “menor” pode influenciar, mais de cem anos depois, um adolescente a tocar piano, e até mesmo a escrever, (como foi meu caso) eu também quero ser um artista menor.

Até hoje Liszt é uma referência e uma influência para o que eu quero fazer.

Pedante, eu?

Ah... Na verdade era só uma introdução cult para dizer que esta semana também fui assistir ao MR. GAY BRASIL. Divertidíssimo. É aquilo que você espera de um concurso de Miss – o kitsch e o camp – só que com menos glamur (claro) e mais escrachação (oba!).



Tinha de tudo entre os candidatos. Não ficou só entre os esteriótipos de um concurso desses – morenos bombadões. Quem ganhou até foi um cacheadinho com padrão de beleza fashion, o Mr. Goiânia. Lindo. Achei que o segundo lugar – Mr. Rio de Janeiro – era o que tinha mais padrão do concurso, não só por ser uma beleza de "Mister", mas por falar bem e ter postura de “representante da classe”. Já o meu favorito pessoal foi o terceiro lugar, Mr. Floripa, que era um surfistinha serelepe.


Marcos Grabovski, o vencedor. Gostei.


O evento em si foi bem improvisado, com Leão Lobo como mestre de cerimônias, vestindo “roupa de faxina” e sem saber muito bem o que fazer no palco. As apresentações musicais também foram aquele clichê bisonho (“It´s Raining Men”, na voz de Ana Gelinskas) e os meninos não fizeram muita coisa além de desfilar de sunga, de roupa e responder umas parcas perguntas. Acho que eles podiam ter falado mais, podia ter um teste de conhecimentos gerais, ou ao menos perguntar qual deles lia “O Pequeno Príncipe”. Sem dúvida o mais divertido foram as intervenções da drag Silvetty Montilla. E a melhor frase da noite foi do Mr. Gay do ano passado: "Depois que ganhei o concurso, minha vida virou de pernas pro ar..."

Enfim, uma noite bem gay, como tem de ser.


Acho bacana o concurso. Acho bacana que haja Miss Gay (de travecas) e Mr. Gay (de rapazinhos). Acho legal que os meninos se assumam, apareçam, mostrem como são bonitos, como são divertidos e – por que não?- como são kitsches. Muitos deles também tinham um discurso politizado (meio decorado no piloto-automático, mas ok) sobre projetos de leis, união civil, criminilização da homofobia. São leis básicas que – ao meu ver – não tinham nem de ser discutidas. Acho um absurdo que evangélicos e organizações religiosas em geral lutem contra. O assunto não diz respeito a eles, eles não têm nada a ver com isso, não deviam nem ter direito de opinar. São leis básicas que só exigem direitos iguais aos que heterossexuais têm, e os heterossexuais não perdem nada com isso.

Essas são provas básicas de que, apesar de muita gente achar que a homossexualidade já está bem aceita ou até "está na moda", a coisa não é bem assim. E é preciso que os homossexuais não apenas dêem "O" exemplo, mas que dêem "exemplos", no plural. Que se assumam plenamente.

Acho estranho, por exemplo, que os homossexuais assumidos não tenham uma sexualidade assumida. Um homem pode falar de mulher, pode dizer quantas pegou, pode dizer publicamente que acha gatas tais e tais, que é uma mostra de virilidade. Para um gay, assumir a mesma coisa é uma mostra de fraqueza. E se o gay assume interesse por outro homem só pode ser na posição PASSIVA.

Por que não se pode dizer, eu COMERIA o Rodrigo Santoro?

(Bem, ele, definitivamente, eu não comeria, mas o Mr. Goiânia... ou o Mr. Floripa...)

Também acho ridículo algumas declarações enrustidas do tipo: "não quero me rotular" ou "eu gosto de gente, independentemente do sexo." Isso é mentira - covardia e subterfúgio para não se assumir. Acredito na bissexualidade, sim, mas não é o caso da maior parte que vemos aí. Eu já namorei meninas. Já transei com meninas. Transo com meninas raramente, e nem acho impossível eu voltar a namorar uma. De qualquer forma, não me considero bissexual por isso, porque tenho consciência das minhas preferências, sei o lado para qual o meu olhar está voltado primordialmente, o resto são acidentes e exceções.

Então acho que esses eventos de exposição são importantes, para tornar a coisa normal. Para banalizar a coisa, que seja, porque deveria ser banal. Claro que também não acho que "sexualidade é apenas o que acontece entre quatro paredes", isso não é verdade. A sexualidade de uma pessoa se reflete na vida toda dela, nas escolhas, nos modos, nas amizades. Mas isso não se restringe a homo e hetero, tem desdobramentos diferentes para quem gosta de gordas ou magras, de velhos ou novos, de sexo carinhoso ou selvagem, que é adepto do sadomasoquismo ou da zoofilia. A sexualidade é uma questão individual, reflexo do que o indivíduo é, e do que ele se torna por causa dela. E é fundamental que seja respeitada, desde que não interfira na sexualidade alheia, com direitos básicos - até porque não é uma escolha.

Enfim, acho que eventos como o Mr. Gay tem a dose certa de politização e divertimento, porque também não dá para vestir uma máscara sisuda e fingir que é tudo muito sério e que não há espaço para risada e auto-paródia. E, como bem disse o Mister eleito, tem de haver espaço pras pintosas, pras travecas, pros bofões e todo o resto.

Marcelino e Fábio.

Fomos eu, Fábio e o Marcelino – que já está acostumado com meus programas esdrúxulos. Até num forró gay, no Recife, já levei ele.

E nós dois.

Agora vou aproveitar que é domingo, que o Fábio está aqui, que a faxineira não veio esta semana e vamos cair na faxina ao som de divas. Começando, claro, com Rocio Jurado.







Madonna, você sabe, eu sou contra.

NESTE SÁBADO!