Ano passado fui praticamente soterrado por livros a avaliar. Houve meses em que passei literalmente na cama, só lendo e escrevendo pareceres de livros para editoras. Grande parte do que li já deletei do meu HD mental, mas ao menos estão salvos (com sinopse, avaliação e recomendações) aqui no meu computador.
Um dos livros mais divertidos que avaliei foi Drink, Play, Fuck, do americano Andrew Gottlieb, que agora é lançado no Brasil pela Planeta.
É uma sátira do (bestseller de mulherzinha) "Comer, Rezar, Amar", por um ponto de vista masculino, uma coisa meio "Homer Simpson de ser". Conta a história de um publicitário que é chifrado pela esposa e resolve tirar um ano de férias, para ficar gastando suas economias em prazeres típicos de macho: Beber na Irlanda, jogar em Las Vegas e trepar na Tailândia.
É ficção. Mas dá vontade (para não dizer "inveja"). É daqueles livros com que todo homem (independentemente da sexualidade) pode se identificar, e que talvez algumas mulheres achem charmoso. E já foi comprado por Hollywood para virar filme.
Só não entendi o título em português "Beber, Jogar, F@#*r" - primeiro porque não vejo necessidade da "censura" (ainda que haja no título original em inglês; e entendo menos ainda aqueles filmes em que o ator fala "fuck you" e se traduz "vai se ferrar"; se Hollywood permitiu "fuck", por que por aqui tem de ser abrandado?), depois porque seria mais adequado sonoramente se chamar "Beber, Jogar, Trepar" ou "Beber, Jogar, Transar".
Anyway...
Ainda falando em literatura de macho, esses dias li em duas sentadas (ops!) o premiadíssimo do Cristovão Tezza, Filho Eterno. Já estava preparado para não gostar (principalmente por ter sido tão aclamado), mas gostei bem. É um relato autobiográfico da relação dele com o filho portador de síndrome de down, desde o nascimento até a "maturidade". Dolorosamente sincero, ele inicialmente apenas torce pela morte do filho, mas acaba sendo tomado e cativado pela criança. Esse amaciamento de sentimentos é obviamente esperado (para não dizer "previsível") pelo leitor, mas a maestria do livro se dá em como isso é conduzido sutilmente, subliminarmente, passando longe de um conto piegas de "criança deficiente conquista homem durão". Bem bom.
Em 2007 tive uma mesa com Cristovão Tezza na Bienal do Rio. Não lembro de nada do que ele disse, nada do que eu disse - ainda bem, porque acho que eu só disse merda... Mas também... que idéia esse povo tem de colocar numa mesma mesa eu, Tezza e o... Kledir Ramil (isso, do Clayton e Kledir), o que o curry tem a ver com a feijoada?