Em Praga, Tchecolosv... digo, República Tcheca, quando eu ainda era um turista ingênuo.
Quando decidi ir à Praga, há alguns dias, ouvi de mais de uma pessoa: “Você assistiu ao filme 'O Albergue'?” Apesar da unanimidade afirmar sobre a beleza da cidade, me alertaram dos perigos, da violência, da insanidade.
Mas eu sou brasileiro...
Eu e Kafka.
Reservei um quarto triplo, o único disponível num albergue bem central, para meu ex e eu (à partir de agora vou me referir a ele assim, ok? Como “o ex” ou falecido... falecido é melhor – falecido polonês – para evitar processos na justiça). Chegamos de trem, uma viagem com vistas incríveis, e fomos muito bem recebidos pela mocinha do albergue. Recebidos até bem demais.
Um típico goulash.
“Vocês reservaram um quarto triplo?”
“É que temos um amigo imaginário.”
“Bem, quem sabe hoje de noite você não arrumam uma terceira pessoa pra trazer para o quarto?” disse ela.
Suspeito. Suspeito e pernicioso. Comecei a achar que o terceiro capítulo de “O Albergue” seria uma versão gay.
Muito bem, fomos passear pela cidade, fomos à ópera (Rusalka, de Dvorak) e eu sempre em atritos com o falecido. Meus advogados aconselharam a não expor aqui tudo o que ele dizia e fazia, mas comecei a pensar que era ele quem poderia ser o psicopata desse filme.
E acho que estava certo...
Me jogando nas buatchy.
Só posso dizer que acabei tendo de literalmente fugir dele. Passei a noite sozinho... ou com melhores amigos de ocasião, virando absinto (o verdadeiro, de 75% álcool) vodca barata (que no Brasil é a vodca cara) e afundando na fritura.
Devia ter trocado o falecido polonês por esse barmanzinho aí de vermelho.
!!! (e repara no detalhe do cinzeiro)
Só muito álcool para me fazer afundar num balde de KFC às 4 da manhã.
E não foi delírio meu, o KFC em Praga vende mojitos...
Minha vista tava assim.
Terminei minha noite de dia. Peguei as coisas no albergue, as chaves do falecido e fugi de volta para Berlim para tentar chegar antes dele, entrar no apartamento e tirar minhas coisas de lá em segurança.
Voltando sozinho de trem.
Ok, pode ser paranoia aditivada de absinto, mas melhor não arriscar, né? Me senti uma mulher espancada, fazendo as malas antes do marido voltar do trabalho, com medo de a qualquer momento ser surpreendida.
Agora estou num belíiiiiiiiiiiiissimo quarto de hotel, enooooooooorme, com varanda e vista para a Fersehturm (não posso dar a localização exata porque o falecido pode me encontrar), com um humor bem coquete, como você pode ver.
É que além de ter escapado em segurança, vivi mais uma história. Viajo para isso. O importante é fazer as histórias acontecerem. Claro que foi uma brincadeira cara, mas daí só precisei aceitar a encomenda de um texto para uma revista, que eu estava prestes a recusar.
Minhas histórias pagam as minhas histórias.
E tem um sabor especial viver isso em inglês (porque eu não falo tcheco, alemão nem polonês, claro), em frases que posso retirar de filmes que vi, livros que li, músicas que escutei.
E tem um sabor especial viver isso em inglês (porque eu não falo tcheco, alemão nem polonês, claro), em frases que posso retirar de filmes que vi, livros que li, músicas que escutei.
Em uma das discussões com o falecido, consegui até encaixar:
“You have your problems. But frankly, my dear, I don´t give a damn!”