24/01/2012

CIDADE IDEAL


Se alguém pode destruir São Paulo, sou eu. Não há ninguém mais paulistano do que eu. Às vezes tenho a impressão que sou o único escritor genuinamente paulistano que ainda vive, nascido e criado por lá. Então não tenho pudor em falar mal. Se alguém pode destruir São Paulo sou eu. É uma cidade feia, sufocante, estressante, onde tudo requer tempo, paciência, tudo é caro e complicado... mas que de certa forma ainda funciona. São Paulo é que destrói a mim.


Mas como estamos de aniversário (da cidade), isso deveria ser uma homenagem. E eu, que já morei (e moro) em alguns outros lugares, não posso desprezar o que só São Paulo tem a oferecer.



Acho São Paulo uma cidade extremamente receptiva - provavelmente porque a maior parte do povo veio de fora. É claro que existe preconceito - mas em São Paulo isso não se traduz em bairrismo. Não tem essa coisa de "orgulho gaúcho", não tem essa coisa de "jeitinho carioca"; em São Paulo não importa de onde você veio, e a gente acaba convivendo com muita gente que a gente nem sabe direito de onde é.


Isso se reflete também na variedade de opções: de gostos, programas, estilos, mentalidade. Você consegue encontrar o que procura, e muito mais. É possível sempre se renovar. É possível sempre encontrar pessoas novas. Acho que essa variedade é a qualidade principal de São Paulo para mim.


Trabalho em casa, e meu apartamento em São Paulo fica lá naquela zona, perto da Paulista, baixo-augusta, então eu tenho a São Paulo ideal. É perto de tudo, eu não pego trânsito. Dá para fazer tudo a pé. É pertinho de Higienópolis a pé, é pertinho dos Jardins a pé, dá até para ir a Pinheiros a pé (mas paisagem já outra questão...).

Em termos de cultura, vida noturna e restaurantes, São Paulo também é imbatível, e não só em relação ao Brasil. Sempre há o que fazer. Eu me lembro no ano passado, numa sexta-feira, escolhendo qual peça de teatro eu iria ver à meia-noite, e havia várias, várias opções. (Na maioria das cidades da Europa, depois das 23h você não tem nem direito aonde jantar).


Eu vou voltar para São Paulo - não ainda - mas eu sempre volto. E acho que talvez meu traço tão paulistano seja de ficar eternamente insatisfeito. Nenhuma opção me basta. Nenhuma cidade me oferece o bastante. Talvez o melhor de São Paulo seja poder ir e voltar.


E isso não é exatamente saudades, é mesmo apenas uma homenagem. Saudades tenho de Florianópolis, Porto Alegre, São Paulo já carrego em mim.


Tirei essas imagens de um antigo post meu, de anos e anos atrás, aqui mesmo do blog. Acho que eu estava com uma digital nova... e tempo de sobra. Foi tudo desenhadinho a mão e recortado no Paint, com o talento para as artes e design que me é peculiar. Acho que a poesia desse ensaio nunca foi compreendida, então o trago de novo, anos depois, para ver lhe fazer justiça. Quanto será que a cidade mudou? E quanto da minha profecia sobre esses cenários realmente se concretizou?




Giz de cera sobre São Paulo.


TIREM AS CRIANÇAS DA SALA

(Publicado na Ilustríssima da Folha deste domingo) Do que devemos proteger nossas crianças? Como não ofender quem acredita no pecado? Que ga...