CIDADE IDEAL
Se alguém pode destruir São Paulo, sou eu. Não há ninguém mais paulistano do que eu. Às vezes tenho a impressão que sou o único escritor genuinamente paulistano que ainda vive, nascido e criado por lá. Então não tenho pudor em falar mal. Se alguém pode destruir São Paulo sou eu. É uma cidade feia, sufocante, estressante, onde tudo requer tempo, paciência, tudo é caro e complicado... mas que de certa forma ainda funciona. São Paulo é que destrói a mim.
Mas como estamos de aniversário (da cidade), isso deveria ser uma homenagem. E eu, que já morei (e moro) em alguns outros lugares, não posso desprezar o que só São Paulo tem a oferecer.
Trabalho em casa, e meu apartamento em São Paulo fica lá naquela zona, perto da Paulista, baixo-augusta, então eu tenho a São Paulo ideal. É perto de tudo, eu não pego trânsito. Dá para fazer tudo a pé. É pertinho de Higienópolis a pé, é pertinho dos Jardins a pé, dá até para ir a Pinheiros a pé (mas paisagem já outra questão...).
Em termos de cultura, vida noturna e restaurantes, São Paulo também é imbatível, e não só em relação ao Brasil. Sempre há o que fazer. Eu me lembro no ano passado, numa sexta-feira, escolhendo qual peça de teatro eu iria ver à meia-noite, e havia várias, várias opções. (Na maioria das cidades da Europa, depois das 23h você não tem nem direito aonde jantar).
Eu vou voltar para São Paulo - não ainda - mas eu sempre volto. E acho que talvez meu traço tão paulistano seja de ficar eternamente insatisfeito. Nenhuma opção me basta. Nenhuma cidade me oferece o bastante. Talvez o melhor de São Paulo seja poder ir e voltar.
E isso não é exatamente saudades, é mesmo apenas uma homenagem. Saudades tenho de Florianópolis, Porto Alegre, São Paulo já carrego em mim.
Tirei essas imagens de um antigo post meu, de anos e anos atrás, aqui mesmo do blog. Acho que eu estava com uma digital nova... e tempo de sobra. Foi tudo desenhadinho a mão e recortado no Paint, com o talento para as artes e design que me é peculiar. Acho que a poesia desse ensaio nunca foi compreendida, então o trago de novo, anos depois, para ver lhe fazer justiça. Quanto será que a cidade mudou? E quanto da minha profecia sobre esses cenários realmente se concretizou?