29/05/2012

O QUE ANDA LENDO?
Santiago Nazarian com Guilherme Weber, ator e diretor.

Nazarian: Me diz, o que anda lendo?

Weber: Role Models, do John Waters.

Nazarian: Opa, o que é?

Weber: Um livro dele falando sobre suas histórias e preferências. Sensacional. Tem desde um capítulo onde ele conta sua relação com a Leslie, uma das Manson Girls, que está presa há anos por assassinato e se tornou uma de suas melhores amigas, até um capítulo sobre alguns de seus livros favoritos. Fala de encontro com ídolos e dos heróis de Baltimore, sua cidade natal.

Nazarian: É uma espécie de autobiografia?

Weber: Acaba sendo, involuntariamente, porque ele fala do que constitui o universo dele. E as conexões e sinapses que ele faz no gigantesco e originalíssimo universo que forma a cultura dele são interessantíssimas. Ele começa um capítulo falando do encontro e fixação dele pelo Johnny Mattis, passando pela biografia da Margaret Hamilton, a atriz que fez a Bruxa Má do Oeste em O Mágico de Oz, e termina revelando que matou um homem em um atropelamento.

Nazarian: (Tá dando uns paus aqui.)

Weber: Ok, essa frase tem tudo a ver com o Waters, hahaha.

Nazarian: Haha. Eu acho a filmografia dele bem irregular. Quais filmes dele você mais gosta?

Weber: Acho, na minha opinião, claro, que ele está não acima, mas à margem do bom e do ruim. Talvez seus filmes não sejam agradáveis de assistir, e não são, mas ele é um artista que inventou um mundo, uma estética, um universo, então realmente acho que o lugar dele é outro. A mesma coisa com os filmes do Andy Warhol, é um universo de experimentação que felizmente não cabe em classificações. Não existiria nem a rua augusta de hoje sem ele... Eu gosto do universo todo... Pink Flamingos, Problemas Femininos, Cecil B. Demente...

Nazarian: Ah, o Cecil B. Demente, por exemplo, acho uma bobagem. Eu gosto bem do Serial Mom, que é uma bobagem, mas é um filme bem realizado, divertido. Tem um chamado Pecker de que eu lembro que gostei também...

Weber: É bobagem total, mas acho sedutor [o filme Cecil B. Demente]. A Melannie Griffith explodindo de botox, o Stephen Dorff pós Michael Stipe, só o cartaz já é incrível...

Nazarian: E eu discordo um pouco de você. Acho que ele pode ter criado sim esse universo, mas não teve uma influência lá tão marcante. Pouca gente assiste.

Weber: Não existiria nem Almodóvar sem ele. Quando a influência é grande, como a dele, as pessoas nem sabem que estão sendo influenciadas. Isso é o verdadeiro universo pop!

Nazarian: Não sei se é uma influência, direta. Às vezes há um parentesco, mas não há uma influência real...

Weber: É periférica, sim.

Nazarian: As pessoas não assistem os filmes dele, Gui. No Brasil, quase nenhum passou, é difícil de achar...

Weber: Então, por isso acho incrível. O universo dele já ultrapassou a própria cinematografia. Sabe que lendo esse livro dá para perceber o quanto o universo dele é extenso? Acho inclusive que ele abriu muitas portas para que os artistas misturassem o erudito com o popular, não necessariamente nas suas obras, mas no seu universo de referências. Bom, dá pra ver que estou adorando o livro!

Nazarian: Com certeza [a peça dirigida por Guilherme Weber] Os Altruístas tem muito dele, né?

Weber: Totalmente!!! E do Warhol. Eu falava para os atores: pensem nas heroínas deles, na Candy, Jackie, Holly, no Divine, na Pia Zadora...

Nazarian: Conhece o Alisson Gothz?

Weber: O artista plástico... Que parece o Boy George...

Nazarian: Isso, performático. Ele tem bem de John Waters. Esses dias inclusive postou uma foto do Waters com a Elvira.

Weber: É filho direto. Postei uma estes dias bem rara, do Divine com a Jackie Curtis. As divas do Village.


[Role Models, de John Waters, ainda não foi publico em português, no Brasil.]

27/05/2012

RESENHANDO SÃO PAULO

Fafá de SP.



Estou nessa fase de redescobrir São Paulo, e tem sido bastante produtiva... ou ao menos divertida. Este final de semana fui visitar minha sobrinha, emendei numa festinha no Mis, emendei no show da Fafá de Belém, emendei numa festa na casa de amigos, emendei na Yacht, fui dormir, trabalhei domingo de manhã, fui almoçar no Apfel, emendei no show do Franz Ferdinand, emendei na Voodoohop, agora estou em casa esperando um sushi.

Minha sobrinha: esperneou, gritou, e não aceitou meu amor. Mas eu a perdôo porque ela ainda não tem nem um mês.

Festinha no Mis: É uma coisa chamada Green Sunset, e faz jus ao nome. Um povinho publicitário que não se importa de ficar na fila para beber, mijar e dançar. Nunca mais.

Fafá de Belém: Eu a entrevistei ano passado, mas nunca tinha visto o show. Uma coisa chachachá Pará Profundo muito, muito boa musicalmente, apesar de bem longe do meu universo. Gostei bem, foi algo diferente que me acrescentou muito.

De lá saí para festinha de amigos, que é sempre bom pelos amigos, mas que... sei lá. Essa coisa "buatchy" realmente não faz muito sentido para quem tem mais de trinta. E... Yacht? Um lugar bem cafona genérico, diz aí? Que são aqueles cavalos marinhos? Me lembra aquela "buatchy" chamada NAJA, dos anos 90, nos jardins, alguém lembra?

Pulo para o show do Franz Ferdinand, que eu não fui realmente. Queria ver a abertura, do The Horrors, mas cheguei no final da tarde e tinha uma fila, uma fila, uma coisa assustadora. Na verdade, semi-assustadora, porque era uma fila imensa, mas um povo bem bonitinho. Sabe como é, esses indie rockers magrelos, tatuados e cabeludos que eu gosto de chamar de "meu povo" (Porque no mundinho gay é tudo bombadinho, cabelo raspadinho e topetudo, camiseta polo, barba por fazer. Me dá certo asco.). Fiquei na fila, vendo aquele povo bonitinho, pensando se eu encarava, se pegava um táxi e ia embora... passa Gilberto Custódio de carro (amigo ancestral dos meus tempos de indie rocker, com quem eu ia ver showzinho de banda de garagem em Osasco, no final dos 90.). Daí peguei carona direto pra Voodoohop, que confesso que eu nunca tinha ido, e achei interessante. Um povo, assim, mais.... orgânico, uns cabelos (ruins) mais compridinhos, uns beques rolando pra cá e pra lá. Ok, bacaninha.

Mas....

Nada faz sentido. Se você não está aqui :)




Com minha herdeira e sobrinha, Valentina.

23/05/2012

O QUE ANDA LENDO?

Santiago Nazarian com Edney Silvestre, escritor e repórter.

[Publicado na minha coluna mensal da revista Metáfora, de maio]

Nazarian: Edney, tem uns minutinhos?

Silvestre: Deixa eu interromper o texto que estou a escrever. Meu personagem teve um filho.

Nazarian: Virou vovô! Então, o que está lendo?

Silvestre: Hehe. Estou relendo Tonio Kroeger. Vou falar do romance doThomas Mann durante uma viagem ("Navegar é preciso") com um grupopelo rio Negro. Vamos: Walter Hugo Mãe, Nilton Bonder, Clarice Niskier, Ignacio de Loyola Brandão e eu. É um projeto que está no segundo ano, organizado pelo Samuel Seibel, das Livrarias da Vila. No final cada um falará de seu livro preferido.

Nazarian: Nossa, que incrível. Amo esse livro. É muito cruel, e verdadeiro Eu tinha naquela ediçãozinha vermelha da Abril, capa dura com o Morte em Veneza... É seu preferido?

Silvestre: Não tenho um "preferido", mas foi esse que me salvou a vida na adolescência. É portanto o livro mais importante pra mim. Foi um dos quatro que carreguei para NY quando me mudei pra lá. Os outros foram um roteiro detalhado de "Himmel Über Berlin", aliás, "Les ailes dudésir", do Wim Wenders; uma edição velhíssima de "O encontro marcado" [Fernando Sabino] e uma edição da história da Yeda Leite Linhares.

Nazarian: Adoro aquela coisa de ele [Tônio Kroeger] chegar ao ponto máximo que poderia, como escritor, mas ainda assim ser sempre um excluído, não conseguir tocar o "mundo dos belos"...

Silvestre: Sim, o artista como excluído, sempre. Lembra do capítulo em que ele vê o baile por trás das janelas, do lado de fora? O mundo dos ajustados não é o nosso. Não te parece?

Nazarian: Mas talvez todo mundo se sinta meio assim, talvez apenas os escritores tenham mais oportunidade de narrar, até porque narram sozinhos...

Edney: Talvez.

Nazarian: O que eu já encontrei de ex-colega que eu achava popular, integrado no colégio, que hoje é metido à artista. E eu digo: Você não pode ser artista, você era integrado! Haha. Mas ninguém se vê como integrado...

Silvestre: Hum... Não sei se concordo. Aliás, sei: não concordo. Sei de gente que se acha ajustada. Não é, mas se acha. Os escritores americanos, tantos, profissionais da escrita, trabalham das nove as cinco, com intervalo de almoço, nos seus romances, contos e peças. Conheci alguns perfeitamente, digamos, ajustados ao sistema.

Nazarian: Esses não me apetecem... Mas me diz, na hora de escolher esses livros, seus livros de cabeceira e tal, não se sente meio pressionado a apontar "autores brasileiros"?

Silvestre: Não, Santiago. Até porque, na minha juventude, os arrasa-quarteirões da crítica e dos leitores eram Jorge Amado etc. Not my cup of tea. Sou mais introspectivo. Dos brasileiros, gosto mesmo é do Graciliano Ramos.

Nazarian: Ufa, enfim um autor brasileiro que não paga pau pra Machado!

Silvestre: Nem Machado, nem Lobato.

Tonio Kroeger é uma novela escrita por Thomas Mann em 1901, quando ele ainda tinha 25 anos. Foi publicada em português no Brasil, além da Editora Abril, pela Nova Fronteira.

22/05/2012

SOBRE O CASO XUXA...




Ai, tô pouco me lixando para o que a Xuxa disse, não tenho nada a dizer e nada a pensar sobre a entrevista com ela. Minha pergunta é quando o FOFÃO irá contar tudo sobre seu passado. 

16/05/2012

O QUE ANDA LENDO?

Leo Dias, agente de modelos.


Nazarian: Boneco, o que leu recentemente?

Dias: Faz um tempinho li novamente Hell, por Lolita Pille. É bom. A história pode parecer meio fútil, mas retrata o drama de uma pobre menina rica francesa que testa seus limites. Me prendeu a atenção. Depois vi o filme e achei fraco. O livro é mais rico em detalhes.

Nazarian: Viu a peça, do Babenco, com a Barbara Paz?

Dias: Não vi... Estou realmente precisando de um tempo para ir ao teatro e ao cinema.


Nazarian: Hum, já sei para o que te convido... E o livro. Você morava em Paris, não? Você se identificou? Haha

Dias: Hehe. Tentei imaginar algumas cenas descritas na Av. Montaigne ou Champs Elysees. Paris é clássica e sempre igual, não muda. Hehe.

Nazarian: Mas como scouter você devia conviver com umas meninas bem no naipe da autora/personagem, não?

Dias: Sou agente. Scouter é quem procura modelos, eu cuido da carreira delas. Mas as meninas modelos normalmente optam pela carreira pela grana mesmo. Menina rica, de berço, não tem interesse em levar uma careira de incertezas, à sério.

Nazarian: Bacana. Por isso vão lá nos cafundós do sul tirar as meninas...

Dias: Hehe. Quase isso.

Nazarian: Tem um livro que é meio uma versão masculina... e gay [do Hell]. Ilusões Pesadas, do [francês] Sacha Sperling.

Dias: [...]

Nazarian: Na questão da futilidade e consumismo é meio o oposto, mas o niilismo é o mesmo.

Dias: [...]

Nazarian: ...talvez você goste...

Dias: [...]

Nazarian: VOCÊ TEM DE RESPONDER! SENÃO O BATE-PAPO NÃO ACONTECE!!

Dias: Haha, desculpe, amore. Tocou o telefone aqui. Estou na agência.

Hell foi publicado pela francesa Lolita Pille em 2003, aos 19 anos, baseado em sua vida, e é uma crítica ao modo de vida dos jovens parisienses, mergulhados nas drogas e no consumismo. No Brasil, foi publicado pela Intrinseca.


13/05/2012

RESENHANDO O CUMPLEAÑOS

Jantar de aniversário no Bareback Obama Mountain, com Paulinho, Luis Fernando, Laerte, Cesar, Fabiano e Marcelino.


Grandes comemorações de aniversário. Estou descobrindo que é possível ser feliz na terceira idade. Sexta eu estava bem bonzinho em casa, pensando em passar a virada tranquilo, mas decidi ir ao Sonar. Evento muito legal, principalmente pelo show do Kraftwerk, com um telão em 3D atrás, pontuando com imagens o som matemático do grupo.

Foi também uma ótima opção de comemoração, porque pude encontrar TODO MUNDO por lá, por acaso. Fui solito-solito, e acho que muitas vezes é melhor sair sozinho mesmo. Não entendo essa crise de auto-estima que o povo tem, de não poder ser visto sozinho em público. Eu encontrava o pessoal, vinha a pergunta: "veio com quem?" Eu dizia que tinha vindo sozinho e o povo se compadecia: "Fica com a gente então." Eu ficava meia hora em cada "núcleo", até ouvir um "preciso ir ao banheiro" ou "vou pegar uma bebida, você fica aqui?" Daí eu dava um perdido e ia para o próximo círculo. Deu para colocar muita conversa em dia, rever muita gente querida.

Só fica um pouco difícil acompanhar esse ritmo da "noite paulistana" a seco. Esse povo todo é muito chapado, muita bala, muita cocaína, e eu já tive mais do que a minha cota e hoje em dia tenho meio pânico em passar por essa "montanha russa de sentimentos". Se eu tomo alguma coisa, fico destruído (é a idade, é a idade). Prefiro a felicidade e o desânimo em parcimônia. Sexta nem beber eu estava bebendo, e foi interessante conversar com aquele povo todo pastilhado numa "superioridade sóbria"; preciso fazer isso mais vezes.

Os excessos ficam no prato.

Sábado que foi propriamente meu aniversário, convidei os amigos mais próximos para um jantar. Queria uma coisa comidona, gente falando alto e cantando parabéns, então tive a ideia do Outback. Eu nunca tinha comido lá, e não achei a comida muito boa não. É gorda e não muito saborosa. Mas valeu bem pelo clima todo do lugar - a cada cinco minutos alguma mesa cantava parabéns - e pelos amigos, é claro.

De lá esticamos de novo para o Sonar, mas dessa vez não foi tão divertido. Eu já tinha comido muito, bebido muito, não estava lá com muito pique e não durei muito. É a idade, é a idade...

Encontrando a Lívia, querida amiga do sul que eu não via há séeeeeeculos.


Aos poucos vou reencontrando meu lugar em São Paulo. Bem ou mal, é aqui que morei a maior parte da vida, é aqui que estão minhas raízes e a maior parte dos meus amigos. Também é muito legal poder sair sozinho - não só na noite, mas até numa volta no quarteirão - e encontrar gente querida. Sempre cruzo com alguém que me chama para um café, ou ao menos rende uma conversa de dez minutos numa esquina. A solidão é mais viável em São Paulo.

09/05/2012

O QUE ANDA LENDO?

Com Ana Maria Santeiro, agente literária.


Nazarian: Ana. Então, o que está lendo?


Santeiro: Estou lendo dois originais.


Nazarian: Hum, mas sobre isso você pode falar?

Santeiro: Why not?


Nazarian: Podia ser algo sigiloso, escabroso, ou em processo sei lá. Mas me diz?


Santeiro: kkkkkkkkkkkk Não são. kkkkkkkkkkk. Estou lendo Claros Sussurros de Celestes Ventos do, Joel Rufino dos Santos. Um romance que é composto de novelas que podem ser lidas independentemente, e que se passa em torno do Cruz e Souza, Lima Barreto (de repente o nome dele me escapou) e a cena do país naquele tempo. Bem bonito.


Nazarian: Nunca li nada dele. Você agencia?


Santeiro: Estou começando agora. Mas sou amiga do Joel há mais de 30 anos.


Nazarian: Bah, então não vale!


Santeiro: hahahahaha.


Nazarian: Nah, pior que quem trabalha no meio não tem como escapar, né? Ou é amigo ou detesta a pessoa. Não dá pra ser totalmente imparcial...


Santeiro: Mas eu sou amiga de muita gente de quem em não curto especialmente a literatura. Não detesto ninguém


Nazarian: E o romance dele, já está vendido? Pode falar Tem data de lançamento e tal?


Santeiro: Não. Estou finalizando a leitura e vamos começar os trabalhos. O Joel é um autor reconhecido no universo dos livros para crianças, nos ensaios de história (ele é historiador) e também nos seus romances. Mas acho que está precisando de maior visibilidade como romancista.


Nazarian: Sempre há tempo, né? Felizmente, nesse mundo, sempre há tempo...


Santeiro: Sempre. E, como diz a Nélida Piñon, há que se fazer um pacto com o tempo. Ela é um exemplo disso. Aliás, ela é um desses casos de amor e ódio. Eu curto.


Nazarian: É, não adianta ter ansiedade, não é à toa que o maior prêmio literário se chama Jabuti.


Santeiro: kkkkkkkkkkkkkkk. a nossa ansiedade poderia ser menor se soubéssemos que há um público querendo consumir histórias em livro. E a batalha de todos é aumentar a aculturação da população brasileira. Acredito que se a sociedade brasileira entender que é através do conhecimento que se evolui, vai ser sopa no mel vender livro.


Nazarian: É, mas nisso de "histórias" eu discordo um pouco. Acho que o público quer mais é ler "mensagens". Querem "algo que acrescente", como se diz por aí. O espaço para a ficção pura é cada vez mais restrito. Acho que um livro como o Joel tem mais potencial, por ter raízes históricas, ligação com personagens reais.


Santeiro: O livro do Joel trabalha ficcionalmente os personagens da história, inclusive com nomes diferente, como um romance a clé..

08/05/2012

INFERNO ASTRAL MY ARSE



Minha sobrinha Valentina.  


Esta semana faço 35 anos - já posso me considerar um senhor escritor? Acho que idade está na cabeça. Sim, idade está na cabeça. Você pode ter 40 anos com mente de 20... se for um retardado mental. Ha-ha. O importante é aproveitar ao máximo cada idade, cada fase e oportunidade, para não ficar correndo atrás do tempo perdido. Faço isso, mas daí não posso evitar a sensação de que não há muito mais a fazer, não há muitos sonhos a realizar, vai se acumulando uma preguiça, uma sensação de que tudo já foi visto...


E assim chega a Valentina, minha primeira sobrinha, filha da minha irmã mais velha. Nasceu semana passada - saudável-saudável, lindinha-lindinha. Já peguei no colo e ela nem chorou. Vai ser ótimo ver a menina crescer, se tornar uma menina de fato, mas não afasta a sensação de final da história. Quero dizer, Valentina tem pai e mãe, tem avós, segue com a ordem genealógica; utilidade eu não tenho na vida dela, posso esperar apenas ser uma distração positiva.


Pois é, o existencialismo bizarro permanece em mim...

Ao menos suavizou um pouco seu caráter de crise, não tem me atingido tanto como crise existencial. Tenho trabalhado muito, tenho recebido razoavelmente bem, e ainda que eu não consiga mais aproveitar São Paulo, tenho conseguido viajar regularmente.

Isso é vida.

Voltei a Florianópolis este final de semana. É lindo ver que posso sempre voltar. É lindo ver que ainda tenho uma vida lá. Cumprimento a mocinha do mercado, converso com a mocinha da farmácia, tenho uma familinha afetiva sempre pronta para me receber, encontro surfistas conhecidos e amigos de ocasião na praia. Dá saudades. Mas é uma vida bem restrita, que também não mais me bastaria. Funciona bem como uma vida paralela; a vida cultural e o trabalho estão em São Paulo.


Quem sabe não seja hora de eu também fazer um bebê? Tem planos para hoje à noite? Bem, se eu não consegui nem criar um iguana...

E ontem, em Floripa, fiz minha 15a tattoo (3a com a gatíssima Magéli): D.A.A.M.T. Quer saber? "Don´t ask about my tattoos" Meio para deixar o número novamente impar e me livrar da encheção de ter de diariamente explicar cada uma das outras. 


02/05/2012

O QUE ANDA LENDO?

Com Liandro Lindner, jornalista.

Nazarian: Liandro, me diz aí: o último livro, ou um dos livros recentes que você leu...

Lindner: Li A Maquina de Fazer Espanhóis, de Valter Hugo Mãe e O Evangelho Segundo a Carne, de Guilherme Junqueira, estou terminando Clube dos Imortais de KizzyYsatis e paralelo lendo com calma “A Montanha Mágica” do Thomas Mann.

Nazarian: Lendo tudo-ao-mesmo-tempo-agora-assim?

Lindner: Não, um depois do outro. A Montanha Magica que é de mais fôlego, estou lendo devagar e paralelo. li “a maquina”, “o evangelho” e “o clube” nesta ordem.

Nazarian: Não tinha lido A Montanha Mágica ainda?

Lindner: Não. Estou na metade. Você já leu?

Nazarian: Li sim, talvez meio novo, talvez eu devesse reler. Achei um pouco cansativo, mas lembro de umas passagens bem bonitas, mais emotivas, dos "olhos quirquizes" e tal. Prefiro na verdade as coisas mais curtas do Mann, como Tônio Kroeger, Morte em Veneza, adoro os contos dele em Os Famintos.

Lindner: “Morte em Veneza” eu li também há muitos anos; existem alguns livros que acho que vale reler de tempos em tempos; como Cem anos de Solidão, O Lobo da Estepe… São os chamados “livros de formação”. Incluiria Crime e Castigo do Dostoiévski na lista.

Nazarian: Do Hesse eu colocaria Demian, é um ótimo livro para o final da adolescência.

Lindner: Este acho muito bom, foi dos livro que mais presenteei. Tem uma parte do“Montanha” que acho muito boa, quando o médico fala da origem da doença, das batalhas dentro de nós entre o amor e a contenção e que o amor negligenciado eclode metamorfoseado de outra forma: a forma de doença.

Nazarian: Eu acho que o Mann pesa um pouco quando o texto se torna muito dissertativo, muito filosófico, e pouco narrativo.

Lindner: Na real é uma técnica, né? Acho que hoje pouco utilizada, mas que me agrada muito; o detalhe da cena descrita e sua divagação filosófica faz parte, eu acredito, de um tipo de autor. Proust é famoso por seus parágrafos imensos e pela riqueza de detalhes. No fundo é um estilo de narrativa. Os autores contemporâneos, em geral, acredito, tem um estilo narrativo mais rápido e com mais intensidade nos diálogos. Nem bom, nem ruim apenas diferente.

“A Montanha Mágica”, do alemão vencedor do Prêmio Nobel de Literatura, Thomas Mann, foi publicado em 1924. Narra a visita do jovem Hans Castorp a um sanatório nos Alpes Suíços, de onde se torna cada vez mais difícil ele sair. Publicado no Brasil pela Nova Fronteira.


NESTE SÁBADO!