17/12/2018

RETROSPECTIVA 2018



Com Murilo, num raro dia em que ele não estava na cozinha. 


Que merda de ano.


Pensei em nem fazer retrospectiva – não tenho nada a comemorar, nenhuma conquista, nenhuma boa notícia, nenhuma viagem, nada de dinheiro, não aconteceu absolutamente NADA de bom em 2018 para mim. Mas sei que há milhares de pessoas ávidas, ansiosas em ler minha retrospectiva...


Vidinha. 

Passei metade do ano em Maresias, numa casa ao lado da praia, só para causar inveja alheia, já que eu mesmo não podia ser feliz.


Recebi pouquíssimos amigos, como o LF, na virada do ano. 


A realidade é que Murilo – meu namorido de quase 6 anos – é chef de um hotel por lá, e era o único jeito de ficarmos juntos. Ele ficava no hotel, do café da manhã até depois do jantar, e eu ficava sozinho em casa, sem internet, sem televisão e sem trabalho. Aproveitei para ler e escrever, é claro. Levei uma pilha de livros de pesquisa, botei um novo romance em pé e de resto passei cozinhando, bebendo, apanhando do marido quando ele chegava em casa tarde da noite, provava o feijão e dizia “falta sal” (exagero... mas nem tanto).

Nossos vizinhos lindinhos. 

 Essa nova temporada litorânea me trouxe uma relação intensa com a natureza. Dessa vez eu nem precisava me aventurar – eu mal ia para a praia – a natureza me invadia. O forro da casa era tomado de gambás, que se alvoroçavam de noite e me davam assombrações reais, tinha de fechar as janelas para eles não virem atacar minha coelha. A casa era vizinha de muro de um mangue, e éramos invadidos por pererecas; um dia encontrei uma suicida, seca dentro do pote de SAL. E tinha as cobras: teve uma que literalmente cutucou meu pé enquanto eu estava na varanda escrevendo. E nunca me esquecerei de quando acordei às seis de uma manhã chuvosa, fui mijar, olhei pela janela e vi uma cobra enorme entrando no quartinho de despejo; me deu uma sensação estranhíssima, surreal, de que os sonhos continuavam em vida...

Essa pequenininha foi que cutucou meu pé - nunca vi cobra vir atrás de gente. 


Mas essa foi a parte boa.


Gaia foi mais feliz na praia do que eu. E escapou das cobras. 

Voltei pra São Paulo no meu aniversário – em que não comemorei, não teve bolo, não teve presente, não fiz nada – daí passei mais seis meses trancado, com qualidade do ar pior, mas com internet e TV a cabo.

Com Sergio Biscaldi e Antonio Xexenesky, em Extrema. 

A ÚNICA viagem do ano, a trabalho, foi para fronteira de Minas, a uma hora daqui, para mediar mesas no Festival Literário de Extrema. Foi bacaninha e pagou direitinho.

Mediando Fernanda Young.
Tive mais três mesas em São Paulo – Bienal, CCJ e Cozinha da Doidivana – e só. Tudo bem que fiz VINTE E QUATRO mesas ano passado – mas ser ignorado assim, depois de nove livros lançados, é para a gente se sentir mesmo em baixa.


De resto, nada. As eleições serviram para acabar de vez com meu ânimo. Briguei com muita gente, batalhei para que vissem o óbvio – parecia que tudo o que escrevi, que fiz a vida toda não serviu pra nada, que ninguém entendeu- gente muito próxima que veio com “Bolsonaro nem é tão mal assim, pior é a roubalheira do PT” deixou claro que não é tão solidária com minha condição de homossexual e de escritor, que não liga em ter um presidente (um jegue) que me condena. Da minha família, só minha irmã ficou do meu lado.

Em novembro teve show do Blondie - bacaninha - único que fui este ano.  Na música, nem o CD novo do Suede prestou. 

Para ter um fiapo de ânimo, apesar da crise editorial, nesses últimos meses o trabalho deu uma boa melhorada, voltaram as traduções, estou com bastante coisa e parece que que ao menos o começo do ano está salvo. Eu tenho um infantil para sair – que deveria ter saído este ano, mas atrasaram horrores nas ilustrações – e um romance novo, que com muito otimismo sairá no segundo semestre (mas eu não apostaria). A falência das livrarias está inviabilizando tudo...


Nos últimos meses fiz um texto para a matéria de capa da Época, matéria de capa do jornal Cândido e ainda teve um punhado de resenhas para a Folha ao longo do ano. 

Agora tô pensando em aproveitar as traduções, ficar só no trabalho, esquecer natal, réveillon, carnaval e tudo mais – capaz de nem pra Maresias eu ir, porque Murilo fica no estresse total de verão.

Com Murilo, numa rara passagem dele por São Paulo. 

De todo modo, já fui muito feliz nessa vida, se tudo acabar para mim já deu...

ENTÂO VOCÊ SE CONSIDERA ESCRITOR?

Então você se considera escritor? (Trago questões, não trago respostas...) Eu sempre vejo com certo cinismo, quando alguém coloca: fulan...