29/03/2020

NOTAS SOBRE O APOCALIPSE

Até minha sombra tem nariz empinado. 


Lembro que li em algum lugar que a maioria dos acidentes acontece dentro de casa. Penso se este confinamento não vai gerar uma onda de suicídios, homicídios, overdoses.

Estamos todos confinados, mas o meu prédio está estranhamente silencioso – não tem festa, não tem briga, não tem música; penso se estão todos mortos.

Já escrevi sobre isso: “Não é possível que o apocalipse seja assim, tão silencioso.Costumávamos ouvir rojões na avenida Paulista. O mundo comemorando, torcidas e foliões festejando, e nós achando que eles estavam apenas tudo implodindo. Como uma partida da Copa do Mundo pode gerar mais ruído do que o Armagedom?”

Mas as pessoas estão mais interessadas no meu projeto fitness do que na minha escrita. Me chamem de biscoteiro, mas é só dar uma olhada no meu feed e vocês vêem tantos trechos de livros, lançamentos, lembranças literárias – ninguém dá a mínima.

Então estou mais ansioso pela reabertura da minha academia do que pelo lançamento do livro novo.

Para curar a ansiedade, só a vodca. Tenho teclado com amigos tão loucos de álcool, de pó, subindo pelas paredes e se queimando nas redes. Eu felizmente não uso tóxicos há anos, e tenho conseguido beber só aos finais de semana – é a vaidade que me salva. Mas bebo BEM.

Ontem fiquei teclando e bebendo até cansar. Cansei de beber e me forcei a pegar no sono. Acordei 5 da manhã e acha que eu estava de ressaca? Acha que eu estava acabado? Estava pilhado, entumescido, pronto para comer o bairro e correr pela Paulista.

Como quem tem cachorro pode levar pra passear, caguei num saquinho plástico, saí na rua e fiquei gritando: “Toby! Toby! Volta aqui, seu maroto!” Assim corri por duas horas pelos Jardins.

ENTÂO VOCÊ SE CONSIDERA ESCRITOR?

Então você se considera escritor? (Trago questões, não trago respostas...) Eu sempre vejo com certo cinismo, quando alguém coloca: fulan...