Agora em abril está fazendo 105 anos do genocídio que matou mais
de um milhão de armênios e criou a diáspora de 10 milhões que hoje está
espalhada pelo mundo – e que inspirou meu novo romance.
O romance deveria sair em abril por causa disso, mas agora a data está em aberto. Está entregue, revisado e diagramado pela Companhia das Letras, mas não sabemos ainda do lançamento, por causa da pandemia - que situação surreal. (Por mim, eu já lançava o ebook para o povo poder ler na quarentena.)
O romance deveria sair em abril por causa disso, mas agora a data está em aberto. Está entregue, revisado e diagramado pela Companhia das Letras, mas não sabemos ainda do lançamento, por causa da pandemia - que situação surreal. (Por mim, eu já lançava o ebook para o povo poder ler na quarentena.)
A ideia de fazer o livro fermenta há tempos em
mim, mas a pesquisa propriamente começou há 5 anos, quando visitei a Armênia.
Ainda que eu sentisse o peso da responsabilidade de contar essa história, não
me considerava apto. Então arregacei as mangas e fui pesquisar, para tornar a
tarefa possível.
Foram algumas dezenas de livros, além de artigos
de jornal, sites, pesquisas não só sobre o genocídio especificamente – mas
sobre a guerra como um todo, coisas como a fauna e flora locais, vestimentas da
época, costumes, etc.
Confesso que li pouquíssima ficção. Alguns
clássicos (como o “Musa Dagh”) e outros interessantíssimo como “The Story of
the Last Thought” (escrito por um judeu, Edgar Hilsenrath), que tem muito do
folclore armênio, e até um livro de contos de fada armênios (“The Golden Maiden”).
Mas eu não sentia que podia confiar totalmente
em romances de ficção – que já tomariam liberdades em cima dos fatos. Então minha pesquisa se baseou principalmente em relatos de gente que “esteve lá”.
Peguei a primeira dúzia de livros da biblioteca da minha mãe (ela, como boa armênia, sofrendo para me emprestar). O historiador-professor-doutor e querido amigo Heitor Loureiro me emprestou generosamente outra dúzia. Algumas coisas achei para baixar, outras eu já tinha aqui. E ainda teve o professor aposentado da USP, Hagop Kechichian que com total desprendimento me presenteou com algumas raridades.
Peguei a primeira dúzia de livros da biblioteca da minha mãe (ela, como boa armênia, sofrendo para me emprestar). O historiador-professor-doutor e querido amigo Heitor Loureiro me emprestou generosamente outra dúzia. Algumas coisas achei para baixar, outras eu já tinha aqui. E ainda teve o professor aposentado da USP, Hagop Kechichian que com total desprendimento me presenteou com algumas raridades.
Então vai aí a lista dos melhores livros
sobre o tema que eu li. Infelizmente, há pouca coisa em
português (e grande parte foi publicada pelo meu tio-avô, Fernando Gasparian,
na sua Editora Paz e Terra); li principalmente em inglês (e alguns em francês e
espanhol). Quem quiser ir atrás vai ter
de garimpar, como eu.
A UM FIO DA MORTE, Hampartzoum Chitjian
Esse é dos mais importantes, e mais fáceis de
encontrar. Foi publicado no Brasil ano passado, pela Autonomia literária, com tradução
minha, e foi das maiores bases para meu romance. É narrado por um sobrevivente
quase centenário (hoje já falecido), que conta não apenas os perrengues que passou durante a
guerra, mas também a vida antes, os costumes, a rotina de sua vilazinha na
armênia turca. Um documento histórico riquíssimo.
FOUR YEARS IN THE MOUNTAINS OF KURDISTAN, Aram
Haigaz
Dos mais prazerosos de ler, essas memórias de
outro sobrevivente tem uma carga literária mais rica. Narra sua vida de pastor (e
escravo) durante a guerra, coincidindo com sua entrada na adolescência, o
despertar sexual, como um romance de formação. Eu AMEI.
ARMENIAN GOLGOTHA, Grigoris Balakian
Aqui temos a visão do genocídio através de um dos
intelectuais que foram pegos no 24 de abril de 1915 (a data que foi fixada como
marco). Narra a rotina das caravanas de deportados – e a fuga – com um visão
mais ampla e política da situação. Indispensável.
MAYRIG, Henri Verneil
Esse é um retrato pós-genocídio; uma família
de imigrantes armênios sobrevivendo na França, pelos olhos do garoto Henri. Tem cenas
antológicas – como a festinha de um colega em que ele leva orgulhoso um doce
armênio, que acaba sendo dado aos empregados. Também foi feito um filme,
dirigido pelo autor. O livro foi escrito em francês, mas há uma boa tradução em
português de Charles Apovian (a se garimpar).
O registro do julgamento de Soghomon Tehiliran,
jovem armênio que assassinou o ex-ministro turco, grande responsável pelas atrocidades
cometidas, tem um quê de “Crime de Castigo”. É uma das publicações da Paz e Terra.
OPERATION NEMESIS, Eric Bogosian
Este é um livro bem mais completo e investigativo
sobre a história do assassinato cometido por Soghomon Tehilirian, revelando
toda a trama criada para pegar os principais culpados pelo genocídio.
O PODER DO VAZIO, Norair Chahinian
Belo livro de fotografias de um querido colega armeno-brasileiro. Norair foi à Anatólia e registrou o que resta das “ruínas
armênias”. Um livro inspirador não só pelas belas imagens, mas também pelo
(curto) texto, em que ele narra, por exemplo, sua escalada no Monte Ararat.
PASSAGEM PARA ARARAT, Michael Arlen
Não focando exatamente no genocídio, é um registro
do autor da sua primeira visita à Armênia (soviética), e sua busca pelas raízes,
para compreender o que faz dele (de nós) armênios. Traz muitas questões que
foram importantes para meu livro. Também foi publicado pela Paz e Terra.
THE BURNING TIGRIS, Peter Balakian
Aqui o genocídio é visto muito pelo ponto de vista
americano, a participação dos americanos na região, as matérias jornalísticas
da época. Um registro importantíssimo para a confirmação de um genocídio que
continua sendo negado por seus perpetradores.
THE SOUNDS OF SILENCE, Ferda Balancar (org.)
Aqui temos depoimentos de armênios que vivem na
Turquia hoje – que seguem segregados e não têm suas vozes e reivindicações
ouvidas.
Muito se compara a situação que estamos vivendo ao nazismo, que é um movimento amplamente conhecido e registrado. Mas eu não posso deixar de fazer o paralelo dos tempos de hoje com o genocídio armênio: as minorias perseguidas, os nativos expulsos de suas terras, a religião se impondo sobre um povo. Por isso acho que essa história é tão importante de ainda ser contada, 105 anos depois. Torço para que o livro saia logo.