01/04/2020

OS MELHORES LIVROS SOBRE O GENOCÍDIO ARMÊNIO


Parte da pesquisa. 


Agora em abril está fazendo 105 anos do genocídio que matou mais de um milhão de armênios e criou a diáspora de 10 milhões que hoje está espalhada pelo mundo – e que inspirou meu novo romance.

O romance deveria sair em abril por causa disso, mas agora a data está em aberto. Está entregue, revisado e diagramado pela Companhia das Letras, mas não sabemos ainda do lançamento, por causa da pandemia - que situação surreal. (Por mim, eu já lançava o ebook para o povo poder ler na quarentena.)

A ideia de fazer o livro fermenta há tempos em mim, mas a pesquisa propriamente começou há 5 anos, quando visitei a Armênia. Ainda que eu sentisse o peso da responsabilidade de contar essa história, não me considerava apto. Então arregacei as mangas e fui pesquisar, para tornar a tarefa possível.

No museu do Genocídio em Erevan (2015), com o Ararat ao fundo. 

Foram algumas dezenas de livros, além de artigos de jornal, sites, pesquisas não só sobre o genocídio especificamente – mas sobre a guerra como um todo, coisas como a fauna e flora locais, vestimentas da época, costumes, etc.

Confesso que li pouquíssima ficção. Alguns clássicos (como o “Musa Dagh”) e outros interessantíssimo como “The Story of the Last Thought” (escrito por um judeu, Edgar Hilsenrath), que tem muito do folclore armênio, e até um livro de contos de fada armênios (“The Golden Maiden”). Mas eu não sentia que podia confiar totalmente em romances de ficção – que já tomariam liberdades em cima dos fatos. Então minha pesquisa se baseou principalmente em relatos de gente que “esteve lá”.

Peguei a primeira dúzia de livros da biblioteca da minha mãe (ela, como boa armênia, sofrendo para me emprestar). O historiador-professor-doutor e querido amigo Heitor Loureiro me emprestou generosamente outra dúzia. Algumas coisas achei para baixar, outras eu já tinha aqui. E ainda teve o professor aposentado da USP, Hagop Kechichian que com total desprendimento me presenteou com algumas raridades. 

Então vai aí a lista dos melhores livros sobre o tema que eu li. Infelizmente, há pouca coisa em português (e grande parte foi publicada pelo meu tio-avô, Fernando Gasparian, na sua Editora Paz e Terra); li principalmente em inglês (e alguns em francês e espanhol).  Quem quiser ir atrás vai ter de garimpar, como eu.



A UM FIO DA MORTE, Hampartzoum Chitjian
Esse é dos mais importantes, e mais fáceis de encontrar. Foi publicado no Brasil ano passado, pela Autonomia literária, com tradução minha, e foi das maiores bases para meu romance. É narrado por um sobrevivente quase centenário (hoje já falecido), que conta não apenas os perrengues que passou durante a guerra, mas também a vida antes, os costumes, a rotina de sua vilazinha na armênia turca. Um documento histórico riquíssimo.

FOUR YEARS IN THE MOUNTAINS OF KURDISTAN, Aram Haigaz
Dos mais prazerosos de ler, essas memórias de outro sobrevivente tem uma carga literária mais rica. Narra sua vida de pastor (e escravo) durante a guerra, coincidindo com sua entrada na adolescência, o despertar sexual, como um romance de formação. Eu AMEI. 

ARMENIAN GOLGOTHA, Grigoris Balakian
Aqui temos a visão do genocídio através de um dos intelectuais que foram pegos no 24 de abril de 1915 (a data que foi fixada como marco). Narra a rotina das caravanas de deportados – e a fuga – com um visão mais ampla e política da situação. Indispensável.

MAYRIG, Henri Verneil
Esse é um retrato pós-genocídio; uma família de imigrantes armênios sobrevivendo na França, pelos olhos do garoto Henri. Tem cenas antológicas – como a festinha de um colega em que ele leva orgulhoso um doce armênio, que acaba sendo dado aos empregados. Também foi feito um filme, dirigido pelo autor. O livro foi escrito em francês, mas há uma boa tradução em português de Charles Apovian (a se garimpar).

UM GENOCÍDIO EM JULGAMENTO, Paulo Sérgio Pinheiro (org.)


O registro do julgamento de Soghomon Tehiliran, jovem armênio que assassinou o ex-ministro turco, grande responsável pelas atrocidades cometidas, tem um quê de “Crime de Castigo”.  É uma das publicações da Paz e Terra.

OPERATION NEMESIS, Eric Bogosian
Este é um livro bem mais completo e investigativo sobre a história do assassinato cometido por Soghomon Tehilirian, revelando toda a trama criada para pegar os principais culpados pelo genocídio.


Do Chahinian. 

O PODER DO VAZIO, Norair Chahinian
Belo livro de fotografias de um querido colega armeno-brasileiro. Norair foi à Anatólia e registrou o que resta das “ruínas armênias”. Um livro inspirador não só pelas belas imagens, mas também pelo (curto) texto, em que ele narra, por exemplo, sua escalada no Monte Ararat.

PASSAGEM PARA ARARAT, Michael Arlen
Não focando exatamente no genocídio, é um registro do autor da sua primeira visita à Armênia (soviética), e sua busca pelas raízes, para compreender o que faz dele (de nós) armênios. Traz muitas questões que foram importantes para meu livro. Também foi publicado pela Paz e Terra.

THE BURNING TIGRIS, Peter Balakian
Aqui o genocídio é visto muito pelo ponto de vista americano, a participação dos americanos na região, as matérias jornalísticas da época. Um registro importantíssimo para a confirmação de um genocídio que continua sendo negado por seus perpetradores.

THE SOUNDS OF SILENCE, Ferda Balancar (org.)
Aqui temos depoimentos de armênios que vivem na Turquia hoje – que seguem segregados e não têm suas vozes e reivindicações ouvidas.


Muito se compara a situação que estamos vivendo ao nazismo, que é um movimento amplamente conhecido e registrado. Mas eu não posso deixar de fazer o paralelo dos tempos de hoje com o genocídio armênio: as minorias perseguidas, os nativos expulsos de suas terras, a religião se impondo sobre um povo. Por isso acho que essa história é tão importante de ainda ser contada, 105 anos depois. Torço para que o livro saia logo.




NESTE SÁBADO!