27/06/2020

A ZONA DAS PRATELEIRAS


Em casa, esta semana. 

He said he had a horrible house. I looked in and learned to shut my mouth...

Nessa temporada de quarentena já fiz post sobre meu corpo, minhas tatuagens, meu pau... (ou quase), faltava sobre minha casa...

A zona das prateleiras. 

O cenário de fundo de tantas fotos, algumas lives, tem causado horror e fascinação de alguns. "Queria ir aí arrumar sua biblioteca", bradam os mais convencionais. E a questão é essa, eles poderiam vir aqui arrumar minha vida, se não fossem convencionais...

Nesse período de isolamento temos visto a sala/escritório/quarto de tanta gente - Guga Characra tem uma biblioteca interessante sobre oriente médio; e tanto se zombou da "biblioteca" do Paulo Guedes" - a minha se tornou chacota pelo excesso.

"Você tem toc ou rinite? Se tiver ambos, você MORRE ao entrar na minha casa", já falei de brincadeira (mas não muito) para tantos dates. Quando fiquei solteiro novamente, talvez influenciado pela cultura de "mercado de luxo" em que o falecido estava inserido, tinha certa vergonha do meu apartamento, da zona, confesso, mas logo deixei isso de lado. Vi que era um ótimo termômetro.

Não é mais bonito do que um móvel reto?
O problema com minha casa... é que é minha casa. E tem a questão de ser casa de escritor, recebo muito livro, não dou conta, mas não quero me desfazer, não tenho onde guardar. Soma-se a isso o fato de eu ter uma coelha que rói tudo o que está à altura do chão, então esse ou é um espaço que eu perco ou é um espaço que fica deteriorado por ela.


Tem menino que fica horrorizado, tem menino que fica chocado de maneira positiva, tem gente que nem liga (como seria comigo) pras montanhas de livros, de CDs, DVDs, para os móveis tortos, paredes rachadas, a desorganização geral. Entendo a necessidade de limpeza, higiene, é claro, agora ORGANIZAÇÃO pra mim é algo que já esbarra no supérfluo... ou fútil.

Prateleiras retas para quê?

(Durante as pesquisas para meu livro novo, fui à casa de um velho professor armênio, que parecia uma caverna de livros - fiquei tão feliz, porque vi que eu ainda faltava algumas décadas para ficar como ele.)


Sinceramente, quando vejo um escritor com uma sala organizadinha, de livrinhos todos encaixados, desconfio. Pior ainda é sala clean, minimalista. Já visitei amigos que mantinham (meia dúzia de) livros dentro do armário. Gente organizada me passa a pior das impressões e eu já percebo que jamais poderia namorar um ser desses...

Mas ainda queria um garotinho de cueca com pompom passando espanador aqui em casa...

Eu tive uma faxineira por muitos anos, trazida da casa da minha mãe - ela que levei para conhecer o mar pela primeira vez, num post de dez anos atrás -, mas nunca fiquei confortável com essa relação. Por mais esnobe que eu seja, eu não gosto de ser servido, me incomoda (e acho que tem mais a ver com meu espírito independente do que com qualquer ideal humanista - se eu mesmo puder fazer, eu prefiro do que alguém faça por mim).

Voltando à zona, isso se restringe ao cenário, como eu já disse, não exatamente à minha vida. Sou absurdamente metódico com trabalho, prazos, até relacionamentos. São departamentos diferentes. Mas para mim simplesmente não faz diferença se uma prateleira está reta ou torta.

É o "anti-toc", se preferir.

Mas não tenho apego pela bagunça. Se alguém quiser realmente vir aqui dar um jeito nas prateleiras (e na minha vida), pode vir. Mas não pode ter toc, nem rinite, e tem que ficar bem só de cuequinha com pompom e espanador.







MESA

Neste sábado, 15h, na Martins Fontes da Consolação, tenho uma mesa com o querido Ricardo Lisias . Debateremos (e relançaremos) os livros la...