19/06/2020

FÉ NO LANÇAMENTO



TEMOS FÉ EM PAPEL!

Recebi esta semana meu primeiro exemplar físico de “Fé no Inferno”, meu novo romance, publicado pela Companhia das Letras. Tem sido um parto longo e problemático.

Entre o começo de pesquisa, escrita, entrega para editora, reescrita e revisões foram 5 anos, de 2015 para cá. Estava prestes a ser lançado em abril, quando tivemos a pandemia. A noite de autógrafos estava marcada para 9 de maio, às vésperas do meu aniversário, num bar de um amigo aqui em São Paulo, incluindo um debate comigo e um historiador especialista no genocídio armênio.  Não deu para fazer nada.

A Editora congelou num primeiro momento. Depois resolveu começar a lançar ebooks, para quem quisesse ler na quarentena. Finalmente optou por um excelente esquema de publicação “on demand”, que estão usando agora. Sinceramente, eu tinha dúvidas quanto ao resultado – mas o livro chegou em três dias úteis no (alto) padrão usual da editora: bom papel, boa impressão – já tive publicações mais feias, feitas no esquema tradicional, em outras editoras.

Bela edição. 

Pode ser uma nova alternativa? A mim me parece. Imprimir só o que será vendido me parece não só esperto como “ecologicamente correto”.  Conversei um pouco com o Otávio Marques da Costa, publisher da Companhia, que disse que estão já trabalhando ocasionalmente com esse modelo há um ano e meio: 

Em tempos de varejo físico fechado, ou quase integralmente fechado, como os que correm, eu diria que são poucas as desvantagens. E vale dizer que hoje há maneiras mesmo de atender ao livreiro exclusivamente físico. A principal vantagem, do ponto de vista da editora, é a possibilidade de manter o catálogo – muito vasto, em nosso caso – ativo, o que antes era um grande desafio, pelas limitações, naturais em toda empresa, de recursos para atender a demanda de reimpressões.

Já quem alardeia o fim do livro em papel, ou ebook como o futuro do livro, não parece ser um grande leitor. Os bibliófilos todos parecem preferir o livro impresso – e se bibliófilos são hoje uma parcela ínfima, são esses que consomem literatura contemporânea brasileira.

Para mim, o principal problema do “POD” (ou “print on demand”) é que dificulta a exposição do livro em livraria, chega menos ao leitor casual; ainda que Otávio diga que o livro PODE ser comercializado em livrarias, a grande maioria opera em consignação - e esse também é um modelo completamente absurdo, com grandes redes pegando tudo consignado e devendo milhões às editoras.

Perguntei a ele também se as livrarias estavam retaliando esse novo modelo: 

Por ora não houve retaliação, não. Alguma reclamação aqui e ali, mas de modo geral há uma compreensão de que é um processo que veio para ficar. E, como disse, é possível atender o livreiro físico, observadas algumas limitações.

Voltando ao MEU lançamento, parece que ele será apenas assim – se nem carnaval devemos ter ano que vem, quem dirá noite de autógrafos -, então a editora venderá pelos grandes sites e eu mesmo estou comprando alguns livros para revender autografado.  Consegui um desconto, que me permitirá revender o livro pelo preço de capa, R$60 já com o frete (e autógrafo). Quando receber os livros aqui, aviso nas redes sobre a venda – provavelmente no final da próxima semana.

(Quando avisei do adiamento do livro, povo sugeriu para eu lançar em ebook, quando saiu em ebook o povo disse que ia esperar para comprar em papel, quando saiu em papel o povo disse que queria autografado comigo. AGORA VOU VENDER AUTOGRAFADO, ENTÃO VÊ SE COMPRA, CACETE!)

E para os amigos, familiares e “influencers”, realmente eu não tenho NENHUM livro para dar – por enquanto o único em papel que tenho aqui em casa foi porque eu comprei, preço cheio (R$60 com frete) nas Americanas, só para ter um. Por contrato eu teria uma cota de 30 livros, mas só devo receber isso quando a editora fizer uma edição regular...

E para isso acontecer, toda ajuda/divulgação é bem vinda. Povo acha que porque a gente está na Companhia das Letras está com o jogo ganho, mas não é nada assim, ainda mais eu, que estou no “Lado B” da editora (para não dizer “segunda divisão”). Editoras pequenas muitas vezes conseguem fazer mais pelo autor, porque têm menos lançamentos, menos autores; e o momento atual está terrível: povo sem grana, livrarias fechadas, a mídia só focada na pandemia...

Mas enfim, temos livro, tá lindo, e o conteúdo melhor ainda. Coloco novamente o release:

Estamos numa época de minorias perseguidas, de nativos expulsos de suas próprias terras, da religião majoritária se impondo sobre um povo. Estamos no Brasil de 2017, às vésperas de uma eleição reveladora; e estamos em 1915, em plena Primeira Guerra Mundial. Quem une essas duas épocas é Cláudio, um jovem cuidador de idosos que vai trabalhar para Domingos, um senhor armênio, no bairro dos Jardins, em São Paulo. Como homossexual e neto de indígenas, Cláudio sabe bem o que é ser minoria, e na convivência com Domingos conhece uma história que remonta a mais de um século: o genocídio armênio perpetrado pelos turcos. A partir da leitura de um livro de memórias, Cláudio começa a suspeitar de que possa estar diante de um dos últimos sobreviventes de um dos maiores massacres do século XX, e sua responsabilidade como cuidador é mantê-lo vivo. Com Fé no Inferno, Nazarian se firma como um exímio contador de histórias, mestre indiscutível do ritmo e da condução. Com duas linhas narrativas que se cruzam e se entrelaçam, e mesclando pesquisa histórica, folclore armênio e uma observação mordaz do Brasil contemporâneo, este romance mantém o leitor emocionado e absolutamente envolvido até seu desfecho surpreendente.

(Para quem já quiser comprar em papel ou ebook, o site da Companhia dá as opções: https://www.companhiadasletras.com.br/detalhe.php?codigo=14687

Semana passada dei uma entrevista ótima na CBN sobre o livro:


E um novo (e ótimo) youtuber fez uma crítica excelente (por enquanto, a única que tive):




NESTE SÁBADO!