04/05/2020

NOTAS SOBRE O APOCALIPSE

Ontem, olhando a vida pela janela. 


Semana que vem é meu aniversário, já sei que ainda estaremos em quarentena. Não acho tão ruim, para mim. Apesar de tudo, ano passado eu estava pior, deprimido, obeso, mórbido, tinha acabado de me separar. Busquei colo nas amigas, convidei as mais próximas para jantar – mas nenhuma podia por causa do dia das mães (mesmo com filhos grandes, mesmo eu marcando na noite do domingo). Uma com uma sensibilidade tocante me disse algo como “terminar relacionamento não é drama nenhum.” Não falo com duas delas desde então. Sou rancoroso assim.

Acabei jantando com meia dúzia de rapazes queridos que puderam. Mas ainda foi meio deprê, porque eu estava deprê. E homem não oferece grande colo.

Este ano brinquei que não sabia se fazia uma LIVE ou me suicidava. Acho que vai ser live mesmo. Dá para eu pedir meu prato favorito, fazer uma gin tônica, responder embriagado com o soro da verdade às perguntas de quem assistir. Se bem que meu prato preferido é sushi – comer sushi nesses tempos equivale ao suicídio?

Um brinde a mim. 

O mundo está acabando e eu estou bem melhor do que quando EU acabava meu relacionamento – veja só. O sofrimento é subjetivo ou é puro egoísmo? Estou com bastante trabalho, por enquanto as contas estão pagas – não que eu esteja ganhando bem (como tradutor, a gente nunca está), mas também não há como/onde gastar. Com trabalho e o corpo em forma, a cabeça fica no lugar...

A não ser naquelas noites, naquelas madrugadas de insônia, em que acordo achando-sabendo que o mundo vai acabar.

Estacionei nos 74-76kg (74 nas sextas, 76 nas segundas, depois dos abusos  do fim de semana). Para mim está ok, desde que não volte a engordar. Continuo fazendo mais de uma hora de funcional todos os dias, acompanhando as lives da academia ou por conta própria. Até que tem dado um resultado legal, meu corpo está menos musculoso, mais definido.

Tenho acordado cedo, por volta das 7h. Tenho vontade de correr pelas ruas. Estou pensando em deixar meu celular debaixo do edredom, com um monte de travesseiros, assim o Dória não descobre que eu saí.

Tenho histórico de atleta. E de obeso. E de junkie. Qual será que vence?

Entendo a necessidade da quarentena, mas acho pouco sensível quem está em sua casa com jardim, piscina, varanda, família, xingando o pobre que vive no cortiço e só pode dar uma volta na praça. Não é à toa que agora querem fechar avenidas na Zona Leste, na periferia. É lá que o povo vive mais aglomerado, com menos espaço. Enquanto não for proibido, não cabe a nós julgar a necessidade do outro de sair.

Eu mesmo tenho buscado aquela fresta da janela, na sala, por onde consigo tomar meia hora de sol por dia. Olhando para fora, o que eu vejo? As varandas imensas dos apartamentos do primeiro andar – os únicos do prédio que têm isso. Imagino o prédio todo cobiçando aquele espaço (e os moradores de lá já reclamaram que cai de tudo das janelas – de cigarro aceso a camisinha usada). São moradores bacanas, de todo modo... (mas ainda tenho de ouvir, sozinho, na insônia, na madrugada, a vizinha que tem varanda-gramado-cachorro gemendo de prazer. Sim, ela também é bem servida de marido).

E ainda tem uma família de labradores. A grama do vizinho é mesmo mais verde. 


MESA

Neste sábado, 15h, na Martins Fontes da Consolação, tenho uma mesa com o querido Ricardo Lisias . Debateremos (e relançaremos) os livros la...