"Art, the Clown." |
Estamos todos trancados, mas algum olham as
estrelas...
Não, pera, isso já postei (?).
Estou me perdendo nas minhas próprias notas e começo a achar que estou postando sempre a mesma coisa. A vida não pode mudar tanto num mês, em setenta metros quadrados.
Povo trancado podia estar lendo, podia estar
maratonando séries, mas a vibração que sinto é que o povo está mais é
cozinhando. O que mais vejo é receitas, em fotos feias, pães embatumados,
pudins molengas. Nem pedir delivery o povo tem mais coragem.
O resultado é que o povo poderia ficar grato aos artistas,
que fizeram livros, que fizeram filmes, que agora o povo pode consumir para
passar o tempo – mas sei que isso vai ser considerado cada vez mais como
supérfluo; povo é mais grato ao entregador de pizza. Então vai, enche esse
bucho de pão!
Eu não tenho lido mais, não tenho cozinhado mais,
não tenho feito nada a mais. Estou seguindo como um soldado, na rotina de
sempre (que não chega a ser espartana): traduzo de segunda a sexta. Fim de semana
reviso. Faço dieta de segunda a sexta. Jejum de 24h duas vezes por semana. Funcional
90 minutos por dia. Sigo emagrecendo.
E começo a me perguntar para quê?
A resposta mais óbvia é a boa forma (para quem?),
mas acho que a mais certeira está no fim de semana. Eu faço dieta, sigo na
programação, para que no final de semana eu possa comer, possa beber tudo o que
eu quero. É a velha lógica de recompensa, infantil, capitalista, de poder
aproveitar a vida só dois dias por semana. Mas faz sentido, porque ao menos a
gente sabe que tem algo ali a se esperar. Eu, que trabalho em casa há tantos
anos, sempre precisei disso para separar um dia do outro.
Um dia após o outro, o mercado literário vem sendo
destruído. Se essa crise servir para destruir de vez o mercado, as chances de
se reinventar já estão há muito sendo dadas: editora comercializar os próprios
livros; ebooks mais baratos; povo que quer comprar o livro físico quer autografo
do autor... Ou povo não quer comprar, como já não compra mais música, filme...
chegaremos ao streaming de livros?
A literatura, como sempre, sobrevive, porque para
realizá-la não é preciso muito mais do que papel e caneta. Mas, para que ela
volte a circular pelas ruas, é preciso um novo sopro.
E um sopro hoje pode ser fatal.