13/12/2021

OUTRO ANO QUE NÃO ACONTECEU


Os passeios possíveis em 2021...

Se 2020 não tinha sido tão ruim para mim, 2021 fodeu de vez...

Já começou zoado - passei a virada aqui em casa, com um menino (que hoje é menina) louco de pó; eu mesmo não cheirava havia uns dez anos (e depois daquela virada posso ficar mais uns dez anos sem); então no começo de janeiro tive de mandá-lo de volta ao sul, ou eu acabava morto.

Em janeiro também passei uma semana com minha irmã internada no hospital, com um problema grave no pâncreas. Foi um ano de saúde ameaçada para toda minha família, minha irmã, minha mãe, eu...

Primeira dose.

Além da velhice progressiva, a cegueira, tive covid logo após tomar a primeira dose. Até que foi suave, só febre fraca e tosse, não cheguei a ser hospitalizado. Mas fiquei três semanas trancado sozinho em casa e já tava pronto para morrer...

Quem acabou indo mesmo foi a Gaia, minha amada coelhinha de seis anos. Ela estava normal até mês passado, mas de um dia para o outro parou de comer e mandei fazer exames. Gastei os tubos, paguei uma operação no útero, mas ela não resistiu. Morreu no começo de novembro e deixou uma solidão imensa neste apartamento.

Com ela ainda mês passado...

O ano não foi de total solidão porque comecei um novo namoro, com um menino bem bacana, o Nicklauz. Coisa de Tinder, que já dura 9 meses. Foi mesmo a melhor coisa do ano.

Passei meu aniversário com ele, numa pousada lindinha em Juquehy, litoral norte de SP. E foi a ÚNICA viagem do ano (tirando as viagens pra casa da minha mãe, no interior).  


Na pousada Tupinambá. 

Como não viajei nada, não saí nada, costumava aproveitar os fins de semana para pedir bons deliveries. Virou uma tradição de sexta postar a dica de um bom restaurante. Mas nem isso pude manter. 


Acho que o melhor delivery do ano foi o cordeiro com aligot do Sal Gastronomia. 

Se o trabalho tinha sido ok durante a pandemia, até o primeiro semestre, no segundo tudo estacionou e minhas economias foram se esvaindo. A veterinária levou uma parte, um calote levou outra, também tive cartão clonado. Termino o ano totalmente quebrado.

De novidade, teve a final dos prêmios - Jabuti, Oceanos, e o segundo lugar no Machado de Assis da Biblioteca Nacional - mas isso gerou mais ansiedade e frustração do que qualquer coisa. Já falei muito sobre isso. 

Agora não tenho mais plano nenhum, nem pra virada, nem pro ano novo, pra nada. Não tenho vontades, não tenho sonhos, não tenho nada a esperar. Ano passado não morri, mas quem sabe este ano ainda eu não morro?

09/12/2021

MEGA SPOILER

 

Começa assim. 


A Editora me pediu uma sinopse/argumento do livro todo, para o material de divulgação lá fora. Achei que valia colocar aqui também, para quem não vai ler, para quem já leu, para quem não se importa com mega spoilers (porque a história toda do livro taí, a grosso modo.) Serve também para estudo do vestibular... se o livro fosse cair no vestibular. Segue: 


FÉ NO INFERNO – Argumento completo

 

Cláudio é um jovem cuidador de idosos, homossexual, de ascendência indígena, passado traumático e passagem pela polícia. Ele é entrevistado por Dona Beatriz, uma senhora de idade, numa mansão nos Jardins, região nobre de São Paulo, Brasil. Ela precisa de alguém para fazer companhia para seu tio-avô, seu Domingos, um armênio de mais de 90 anos, ainda razoavelmente lúcido e independente, mas que, pela idade, inspira cuidados.

Cláudio começa a trabalhar na casa, em jornadas que às vezes passam de 24 horas seguidas, mas não tem muito o que fazer, já que o velho se locomove sozinho e passa a maior parte do tempo lendo e escrevendo. Cláudio aproveita o tempo para jogar um videogame portátil.

Um dia seu Domingos sugere a Cláudio que ele leia um livro, o que o jovem reluta um pouco. Acaba pegando um volume da biblioteca encadernada da casa, que conta a história de um menino armênio anônimo, de oito anos, fugindo da perseguição dos turcos durante a Primeira Guerra Mundial.

O romance dentro do romance começa com a vila do menino sendo incendiada. Ele marcha com seu irmão e outras mulheres e crianças, sendo conduzido por soldados turcos, para um destino incerto. No caminho, são atacados por bárbaros curdos (tchétes), a maior parte da caravana é morta e o menino e seu irmão fogem pelas montanhas.

Encontram abrigo na casa de um cego, que toma o irmão mais velho como servo. O menino menor permanece por perto, sem ser visto, se alimentando das sobras do irmão, dormindo com uma cabra num coberto fora da casa. Um dia ele se farta disso e decide seguir sozinho. Encontra alguns personagens pelo caminho – um garoto ruivo que parece alheio à guerra - é perseguido por turcos e curdos, e às vezes até mesmo é morto, mas continua vivo para seguir em frente.

Cláudio acompanha essa história enquanto pensa em sua própria vida como cidadão de segunda classe num Brasil preconceituoso, às vésperas da eleição de Jair Bolsonaro, de extrema direita. Ao deixar a mansão de seu Domingos nos Jardins, ele é parado pela polícia, simplesmente por ser “pardo e com cara de pobre.” Cláudio e seu namorado também sofrem ataques homofóbicos num bairro boêmio de São Paulo. Parece que Cláudio só encontra conforto quando trabalha com seu Domingos, que o trata como um filho.

Entretanto a saúde do velho vai deteriorando progressivamente. Ele começa a usar fraldas, tem lapsos de memória, até sua mobilidade piora. Dona Beatriz, sobrinha-neta de Domingos, começa a desconfiar de Cláudio.

Avançando na narrativa histórica, o menino armênio encontra abrigo na casa de uma viúva turca, que é coabitada por dezenas de crianças órfãs e comandada por Armin, um garoto andrógino que desperta os primeiros sentimentos sexuais no menino – que já avança para a pré-adolescência. Certa noite, ao avistar Armin se banhando escondido num lago, o menino percebe que Armin é na verdade uma garota, que se veste de homem para sobreviver em tempos de guerra. A partir daí, sua convivência na casa se torna tensa, e ele decide novamente seguir em viagem.  

Arruma emprego como pastor de ovelhas para um senhor curdo, mas é castigado severamente quando algumas ovelhas se perdem. As três esposas do senhor se alternam cuidando dele, à beira da morte. Ele se recupera apenas para ser castigado novamente, quando uma das mulheres se engraça com ele.

Fugindo novamente pelas montanhas, a fronteira entre vida e morte, realidade e fantasia já é bem mais tênue. Ele vê uma procissão de armênios mortos seguindo pela estrada; conversa com animais selvagens, lobos e raposas que querem seduzi-lo e se alimentar dele; encontra uma senhora turca moribunda que tenta sugar seu sangue.

Exausto, com fome, perseguido por todos, o menino acaba num hospital. Lá recebe a visita do garoto ruivo, que o questiona sobre seu estado. Lá ele também reencontra seu irmão, que arrumou um novo senhor turco e o leva para trabalhar com ele, mas enfatiza que ele precisa se converter ao islamismo. O menino reluta, e teme ter de fugir mais uma vez.

Surgem então notícias de que a guerra acabou, assim como a perseguição aos armênios. Sobreviventes de todos os cantos saem de seus esconderijos e se reúnem numa igreja cristã ortodoxa. Mas era apenas uma armadilha. Soldados turcos trancam todos lá dentro e incendeiam o local. Para o menino, é apenas mais uma forma de morrer.

Nos tempos de hoje, seu Domingos sobre um AVC e Cláudio é dispensado por dona Beatriz. Ela investiga o passado dele e descobre que ele matou o próprio irmão mais velho, quando tinha dezesseis anos de idade. Desde os oito, Cláudio era abusado física e sexualmente, até que não suportou mais e esfaqueou o irmão na frente da mãe. Ele foi mandado para uma instituição para menores infratores (Fundação Casa), e lá que começou sua carreira de cuidador de idosos, num programa que aproximava os jovens internos de velhos abandonados.

Agora, Cláudio é visto com desconfiança por dona Beatriz, que o culpa pela deterioração no estado de saúde de seu Domingos. Ela não quer mais que ele se aproxime do velho. Cláudio deixa o emprego, mas fica com o livro, como uma última lembrança. Suspeitando que seja um relato ficcional da própria vida de seu Domingos, ele deixa de ler os últimos capítulos, não querendo que a história acabe.

Passam-se dois anos, Cláudio consegue entrar na faculdade de Antropologia, ainda trabalha como cuidador de um menino autista, mas se prepara para deixar esse serviço. Não teve mais notícias de seu Domingos e teve medo de ligar, pelas ameaças de dona Beatriz. Até que recebe uma ligação do velho, que quer vê-lo numa manhã de sábado.

Cláudio volta à casa dos Jardins e encontra seu Domingos razoavelmente saudável – um milagre para um senhor na casa dos 100 anos de idade. Dona Beatriz morreu antes, e agora seu Domingos quer contratar de volta os serviços de Cláudio. Cláudio lamenta, diz estar com seu último paciente, começando uma formação de antropólogo. Domingos fica feliz por seu jovem amigo.

Cláudio o questiona sobre o livro - se é a história de um irmão mais velho de seu Domingos, o quanto a história pode ser verídica; eles discutem sobre as possibilidades de retratar uma tragédia como aquela, como manter a memória de sobreviventes, e o poder da literatura e da ficção em representar e sublimar fatos históricos.

Domingos então pergunta o que Cláudio achou do livro como um todo, da conclusão. Envergonhado, Cláudio admite que não leu até o fim, tinha medo de que, quando terminasse, seu Domingos “deixasse de existir.” Seu Domingos acha aquilo uma bobagem e pede para que Cláudio leia o último capítulo.

Nele, o menino se encontra perdido entre campos e montanhas, com um incêndio destruindo tudo, como se estivesse de fato no Inferno. A salvação lhe surge ao longe, ao avistar o monte Ararat, montanha símbolo do povo armênio, além da qual fica a Armênia russa, livre da perseguição dos turcos.

Quando se prepara para seguir para lá, é abordado pelo misterioso garoto ruivo, com quem cruzou algumas vezes em sua jornada. O garoto pede para que ele permaneça com ele, e lhe oferece uma fruta fresca e rara. O menino percebe então quem a figura realmente é, e o ataca com fogo, revelando estar diante do próprio Diabo.

O menino armênio deixa o Diabo Ruivo entre o fogo e segue em direção ao Ararat. Mas, ao olhar para trás, não vê uma expressão de ódio nem de derrota. Com quase um milhão e meio de armênios mortos, o Diabo está satisfeito.  

(Fé no Inferno, de Santiago Nazarian, Companhia das Letras, 2020, 376 páginas.)



08/12/2021

OS PRÊMIOS (QUE NÃO GANHEI)



Não tenho mais Fé...


Passada a temporada dos prêmios, fica a lição: nunca tenha esperança.


Não, não é bem isso. Foi uma experiência nova para mim - e é sempre bacana ter experiências novas numa carreira que já chega a vinte anos. Com doze livros publicados, foi a primeira vez que fui finalista do Jabuti, do Oceanos (Prêmio SP ainda nunca), e levei segundo no Machado de Assis, da Biblioteca Nacional. Não é pouca coisa, mas não foi o bastante. (O que eu precisava mesmo era de um premiozinho em grana, para me tirar do sufoco. Estou muito, muito, MUITO quebrado.) 

Vejo a postura blasé - normalmente de quem já foi finalista, de quem já ganhou - de que os prêmios não significam tanto, que o importante é ser lido, blábláblá, mas os prêmios ajudam a ser lido, o livro a repercutir. Mesmo que seja só para a "classe", como dizem alguns, é a classe que vai te chamar para eventos, debates, para trabalhos que pagam as contas - e "a classe" se pauta muito pela lista de nomes. (Não só ela, minha irmã mesmo, que é do meio teatral, disse que costumava pautar suas leituras pela lista de finalistas do Prêmio SP.) 

Tem tanto escritor que escreve UM livro, ganha UM prêmio importante e passa a vida vivendo disso, sendo reconhecido pelos pares. Eu lancei uma dúzia e ainda estou camelando, ainda visto com desconfiança. Talvez eu não devesse escrever tanto...

Tenho uma carreira bem estranha, como tudo em minha vida. Tive um hype muito cedo, mas que nunca se refletiu em vendas, nem em prêmios, nem em respeito. Construí um nome que está longe de ser unanimidade, e tenho uma base forte de haters - mesmo nunca fazendo nenhuma grande merda... acho. Sempre cumpri prazos, sempre fui profissional, sempre fui gente boa e dei força para os colegas, mas até hoje é difícil me chamarem para trabalhos, eventos, orgias... 

"Fé no Inferno" foi um livro muito pouco lido, repercutiu pouco, foi pouquíssimo resenhado... e a gente se pergunta por quê. Com meu histórico de tantos "semi-fracassos", é inevitável eu questionar a qualidade da minha própria escrita. Eu mesmo não tenho como avaliar (e se quem é pago para isso não está avaliando positivamente...)

Sei que há muito o "perfil de livro premiável", que trate de questões relevantes do momento, que esteja inserido num contexto, e eu raramente escrevo coisas assim. Então não é surpreendente ter entrado agora nos finalistas, e menos ainda um livro como o do Jeferson Tenório ter ganho o Jabuti. 


Torcida, só de mãe.


(Eu até comentei brincando que, se eu ganhasse, as manchetes nos jornais seriam "Jeferson Tenório não ganha o Jabuti". Nas matérias dos finalistas, ele era sempre o destaque, meu nome mal aparecia...) 

O livro do Tenório não vai se beneficiar tanto, porque é um livro que já aconteceu, já vendeu horrores, já repercutiu, já foi lançado lá fora. Nesse sentido o Prêmio SP (para Morgana Kretzman e Edimilson de Almeida Pereira, que também levou segundo no Oceanos) e o primeiro lugar do Machado de Assis (para Marcelo Labes), todos autores pouco badalados, de editoras pequenas, cumpre mais uma função de revelar obras (do que premiar obras consagradas do ano).

Existe toda essa bandeira de premiar mulheres, negros, LGBTQ (bem, aí nem tanto) e editoras pequenas, mas acho que a questão daí não passa tanto por cotas e sim por esses grupos tratarem das questões mais em pauta atualmente, questões que historicamente ficaram à margem. 

Foi isso o que tentei fazer com o lugar de fala que me cabe - como gay, armênio e brasileiro. E foi um livro de quase 400 páginas, que exigiu um trabalho gigante de pesquisa. Agora, depois disso, não sei muito mais o que dizer, o que escrever, o que tenho de relevante para acrescentar... 

Sempre escrevi principalmente porque me dá prazer. Mas o prazer vai sendo minado pelos resultados (ou falta de resultados). Principalmente porque para continuar tendo tempo para escrever, para conseguir continuar publicando, e pagando as contas, eu preciso pensar em algo relevante para me dedicar. A impressão é que nunca sou bom o bastante. 

É muito por isso que nunca dou oficinas literárias. Primeiro que não me considero uma autoridade, segundo que acho que é alimentar sonhos terríveis no outro - eu não recomendo a ninguém ser escritor. 



Resta dizer que a posição de estar em "editora grande" é discutível. Sem dúvida a grife da Companhia das Letras gera uma atenção maior ao título, mas os lançamentos da casa não recebem todos o mesmo tratamento. Meu livro saiu em plena pandemia, não foi mandado a nenhum jornalista, não teve noite de autógrafos, eu mesmo tive de comprar e vender pelas minhas redes sociais, porque as livrarias estavam fechadas (e o livro saiu caaaaaro). Acho que a editora poderia ter trabalhado mais o livro depois com a reabertura... (Mas daí estavam lançando o livro do Jeferson, do Laub...). Eu fiz tudo o que podia, como um autor independente. 

A presença do livro nas finais dos prêmios fortaleceu um pouco meu laço com a Editora - que agora vai tentar publicações lá fora; uma segunda edição também está saindo. Mesmo assim, acho que foi uma obra desperdiçada... Não vejo muito mais o que pode alcançar, um ano e meio depois do lançamento.  

De resto, fica aquela merda que falei para a Tatiana Salem Levy, meio na brincadeira... mas não muito: agora não posso dizer nem que sou totalmente ignorado, nem que sou premiado. É mesmo uma maldição. 


Só me resta rir...


06/11/2021

GAIA



Perdemos a Gaia. Minha coelhinha de 6 anos morreu ontem de noite, depois de uma cirurgia.

Até quarta ela estava completamente normal (ou aparentemente normal). Na quinta não estava comendo. Notei um inchaço nas tetinhas. Levei ao veterinário.

Esqueleto fresco. 

Fizemos exame de sangue, raio-X, ultrassom, constatou uma infecção no útero. Deixei ontem (sexta) no veterinário para operar. Ela teve paradas respiratórias. Não voltou da anestesia. Perto da meia noite me ligaram para avisar.

Querendo colo...


Coelho é um bicho frágil – antes dela tive a Asda, comprada em petshop, que veio com diversos problemas, estava sempre doente, e morreu com um ano e meio. A Gaia eu peguei da cria de uma menina que estava doando (Victoria Gaia, uma adolescente lindinha, na época prestando vestibular para veterinária; tirei o nome da minha coelha daí). Em 6 anos nunca teve problema nenhum. (A expectativa de vida é de 8 a 10 anos...)

Ratinha, pouco depois de chegar aqui. 

Era um animal extremamente carinhoso, carente, destruía a casa, roía os fios, rasgava o sofá, estava sempre pedindo carinho (e petiscos), sempre dando lambidas; limpinha, não fazia um cocozinho fora da bandeja (como gato). Viveu a maior parte da vida aqui no apartamento comigo. Mas teve um ano feliz em Maresias (quando eu era casado com o ex-cozinheiro). Tinha um jardim enorme para correr, cavar, fazia tocas imensaaaas e desaparecia dentro. Eu tinha um pouco de medo, que era uma região de mata atlântica, com cobras, sarauês, aves de rapina. Mas ela viveu feliz por lá. Aqui no apartamento, ela tinha uma vida mais limitada, porém mais segura, e vivia solta comigo. Apesar de ser já "idosa", era extremamente ativa e arteira. 

Cavando tocas no litoral norte. 


Fez toda a diferença nesses 6 anos. Foi a alegria do meu dia-a-dia. Um motivo para levantar toda manhã; durante a pandemia, trancado aqui sozinho, se não fosse por ela não sei se teria aguentado...


Na bandejinha. 

Agora estou com o Klauz, meu namorado há 8 meses, que também se apaixonou por ela, e tem sido meu conforto nesse momento de luto. Bicho de estimação morre mesmo, quando não é o nosso a gente não acha grande coisa, mas quem tem sabe como é, a dor que é, a falta que faz. Minha rotina toda está alterada, não tenho mais o ritual de acordar para dar comida; vai demorar para acostumar que não preciso fechar a porta do quarto para ela não destruir minha cama...

 

Geralmente só deixava ela na cama mesmo para tirar foto, porque ela rasgou lençóis novinhos. 

Os procedimentos foram todos feitos pela Exoticare – clínica especializada em silvestres e exóticos, no Sumaré. Acho que fizeram o melhor possível, o que era possível, não havia mais o que fazer. Os exames e procedimento todos me foderam financeiramente, num momento difícil em que o trabalho está lento, recebi calotes, e TUDO resolveu dar defeito (de coelha a Macbook). Mas agora é tentar correr atrás do rombo financeiro, sabe-se lá o que vou fazer, porque no coração só com o tempo...

Para quem quiser saber mais sobre o que é ter um coelho de pet, escrevi algumas vezes aqui no blog. Acho que tem muito do que ainda penso – com exceção da castração, que é arriscada em fêmeas, mas sinto que é fundamental. Deixo um link do ano passado: 

https://santiagonazarian.blogspot.com/2020/02/como-criar-um-coelho.html


(No meu instagram tem uma pasta de "Stories" com fotos e vídeos. Quem quiser, segue lá: @nazarians)

Nossa última foto juntos, há quinze dias. 

03/11/2021

NOTAS PÓS-APOCALÍPTICAS

Meu deus, as pessoas estão voltando à vida...


600 mil mortes depois, entrei no shopping sem nem medirem minha temperatura. Como se eu não tivesse mais chances de morrer. Como se eu não tivesse mais chances de matar. Mas eu não tinha mais dinheiro para comprar nada...

Me lembra aquela canção do Assis Valente (ou um esquete do Porta dos Fundos). Investi no apocalipse e agora não tenho mais o que vestir.

O apocalipse só tinha igualado as realidades, para mim: todo mundo bonzinho, trancadinho, trabalhando em casa, fazendo tudo por delivery, pelas redes sociais. A vida como uma ideia virtual. Agora a vida volta a ser presencial; vejo os amigos se encontrando, viajando, os eventos literários... A vida como uma festa a qual eu não fui convidado...

Não é que eu não tinha planos pós-apocalipse, para o futuro, o ano que vem... É que não tinha expectativas, desejos, nem sonhos. O que faço agora que a gente tem de tirar a máscara? Não tenho vocação para sorrir.

Fui ao shopping não para comprar roupa nova, na verdade. Fui reativar meu celular. Uso tão pouco – a vida toda – que tinha perdido meu número. Ninguém NUNCA me liga. Até porque mantenho em modo avião. Permanente. Não recebo notificações. O atendente perguntou meu número e eu não tinha certeza.

“Não tem um nove a mais?”

“Pera, onde vê?”

(Se nesse tempo você recebeu mensagens minhas pedindo dinheiro, desconsidere. Mande por pix para o meu email: santiagonazarian(arroba)gmail.com)

Mas quem usa celular nessa vida em que não saímos, não saíamos de casa? Trabalho na frente do computador. Troco mensagens por email, Messenger, instagram... até Whatsapp, quando inevitável. (Mas Whatsapp checo uma vez a cada dois dias... Não, meu celular nunca recebe notificações).

“Que bonitinho, você troca e-mails com sua mãe?” Me perguntou esses dias meu namorado.

Sim, com minha mãe eu SÓ troco e-mails, porque ela não mora em São Paulo, não tem celular, nunca teve (eu já dei, ela repassou – detesta, e o sinal na casa dela é péssimo; e eu mesmo já fiquei tantos períodos sem celular...) e tenho fobia de fixo, esse zumbido invasivo. (Tenho um fixo, também, mas deixo fora da tomada.)

Isso não quer dizer que eu esteja desligado do mundo, veja só... Isso está longe de dizer que estou desconectado e “é por isso que você ainda não alcançou o sucesso, a felicidade, a fortuna, o Prêmio São Paulo.” JAMAIS furei um prazo. Eu trabalho o dia inteiro conectado (na frente de um PC de mesa). Também tenho um Macbook (prestes a falecer). E tenho um celular... Sou antenado acompanho a dancinha dos meninos bonitos seminus no Tik-tok, pelamordedeus!

O problema é a vida lá fora...


O professor Thomas Schmidt ao ser entrevistado pela Globonews sobre os maiores desafios nessa realidade pós-pandemia, colocou: “Uma única morte nunca terá o mesmo peso de antes; e uma simples tosse nunca mais será vista como inocente.”  Isso, obviamente, é frase minha.

29/10/2021

DIA DO LIVRO



Hoje é o Dia do Livro. E eu, como escritor, sempre considerei mais como uma praga, uma maldição...

(Sintomático que venha colado ao Halloween...)

Acho bonito o depoimento de tantos escritores, tantos leitores que falam como a literatura abriu um mundo para eles, foi uma forma de conhecimento e de ascensão social. Na minha vida, na minha família, foi justamente o contrário.

Minha mãe veio de uma família rica, armênia, sempre foi apaixonada pelos livros e no começo da idade adulta se apaixonou por um artista (plástico, no caso), que vinha de uma família quatrocentona, e que também viu a decadência financeira ao se dedicar à arte. Ela fugiu de casa para morar com ele, nunca mais viu meu avô, e não teve o destino próspero da maioria dos meus tios. Quando se separou de meu pai, teve de camelar em diversos empregos para sustentar os filhos pequenos – meu pai (“artista!”) nunca ajudou, nem com a presença nem financeiramente (“Você é de família rica, afinal”, dizia ele). Usufruíamos de algo dessa riqueza, é verdade, ganhamos uma casa nos Jardins, viagens para a Disney, mas as contas mensais sempre dependeram do trabalho da minha mãe.

No que ela trabalhava? Com livros, em livrarias, na Biblioteca José Mindlin. Os livros ocupavam cada vez mais espaço em nossa casa – a cada ano minha mãe tirava um quadro do ex-marido da parede, para colocar uma nova estante de livros...

Talvez eu possa agradecer que foram os livros que me garantiram uma criação de classe média... Ou talvez eu deva lamentar que foram os livros que me restringiram a uma criação de classe média...

Sempre estudei em colégios particulares. Me formei numa faculdade particular (Comunicação, na FAAP), e comecei uma carreira próspera como redator publicitário (aos 19 anos, por pistolão da família, veja só). Mas a maldição...

Aos vinte e quatro anos larguei a publicidade porque queria trabalhar com livros, escrever, publicar, traduzir. Hoje é o que eu faço... e só eu sei como é difícil fechar as contas... Com ensino superior... 5 idiomas... 12 livros... uma centena de traduções...

Para além do ganho financeiro, a literatura (ou o meio literário) sempre me recebeu com ressalvas. Sempre viram meu trabalho com desconfiança – nunca entenderam se eu era comercial, underground, descartável, literário ou o quê. Nunca vendi horrores, nunca ganhei grandes prêmios; minha maior (única?) conquista nesses vinte anos foi conseguir continuar sempre publicando, por grandes casas, fazendo só o que eu realmente acreditava, dizendo o que eu queria dizer.

Talvez não seja pouco. Talvez seja uma grande maldição.

Mas a maldição não se limita a isso. A praga se estende também pelo meu apartamento (que não é meu, a literatura nunca me deu casa própria), pelas paredes, os livros empilhados, a poeira os ácaros. “Você tem toc ou rinite?” tenho de perguntar a qualquer um antes de vir à minha casa. Se tiver os dois, ele MORRE ao entrar aqui. É mesmo uma praga.



28/10/2021

OS MELHORES FILMES DE TERROR DE 2021


Hora da minha tradicional lista de Halloween - dos melhores filmes de terror que vi desde o pós-Halloween passado até esse.

Foi um ano bem ruim, com poucas estreias em cinema, produções paradas com a pandemia; e eu também não garimpei tanto quanto em outros anos. Não consegui colocar NENHUM nacional, por exemplo. Mas tá valendo. Sei que algumas escolhas serão POLÊMICAS, que muita gente não gostou, mas tem para todos os gostos. 

Vamos lá: 


- RENT A PAL

Um quarentão solitário que cuida da mãe inválida tenta encontrar uma namorada através de um serviço de encontros, mas acaba ficando obcecado com um "amigo virtual" que encontra numa fita cassete e vai se tornando cada vez mais recluso e doentio. Uma ótima exploração de temas tão em voga ultimamente (relações virtuais, isolamento), com uma ambientação retrô dos anos 90. Ameeei. 


- SON

Uma mulher com um passado traumático tenta fugir de perseguidores com seu filho pequeno, que talvez carregue uma ameaça em si. Seria muito spoiler eu dizer que parece uma sequência-reboot de "O Bebê de Rosemary"?


- THE BOY BEHIND THE DOOR

Dois meninos são sequestrados por uma gangue de pedófilos e têm de tentar escapar de uma casa isolada. Ótimos protagonistas mirins e uma condução tensa e pesada, apesar do final meio meh


- WRONG TURN

Polêmica! Esse é um reboot de "Pãnico na Floresta", que não tem nada a ver com o original, e talvez só tenha usado o mesmo nome (em inglês) pelo marketing. Mas achei esse bem melhor do que o original (e que todas as sequências, claro). É um filme pesado e violento, de um grupo de jovens que se perde numa floresta e encontra uma seita. Eu adorei. 


- BLOOD RED SKY


Vampiros num avião. É basicamente isso, um filme de sequestro de avião, mas com vampiros. Produção britânica-alemã da Netflix. Beeeem divertida e não totalmente descartável. 


- OLD

Continuando com as polêmicas, eu adorei esse do Shyamalan. Estou longe de ser fã dele (acho que só gosto de "Sexto Sentido" e aquele found footage dos avós), mas esse é daqueles ruins que é bom. Tem uns diálogos toscos, o roteiro é totalmente discutível, mas a ideia (que não é dele, é adaptada de uma HQ) é ótima e ele faz o serviço. A sinopse: Uma família vai para uma praia isolada e descobre que a cada meia hora envelhece um ano de vida.  


- CENSOR

Uma censora de filmes violentos da Inglaterra dos anos 80 começa a suspeitar que sua irmã desaparecida desde a infância pode estar sendo usada nessas produções. Típico terror indie delicinha.  


-CANDYMAN

Nunca gostei do Candyman original. Acho um porre (e até tenho o DVD, que ganhei). Nessa sequência (que não é um reboot, porque considera o original) o discurso é mais incisivo e mais bacana, entrando nessa linha de terror racial do Jordan Peele (de "Get Out" e "Us"), que é produtor do filme. Investigando a lenda urbana do "Candyman", um artista plástico começa a "receber" a entidade. Não gosto muito do final, mas de resto tá ótimo. 



- MALIGNO

Mais polêmica! O novo terror do James Wan dividiu opiniões. Eu não gosto de quase nada dele - o invocaverso, e tal, odeio tudo - acho que só gosto do primeiro Jogos Mortais. E assistindo a esse novo, eu mesmo tive opiniões conflitantes. Achei interessante. Depois tosco. Depois muito tosco. E no final, achei tão tosco, tão trash que adorei. É total terror trash 80´s, sobre uma mulher que tem visões com um assassino cometendo seus crimes. Não vou entregar spoilers, mas só digo que as soluções são tão absurdas, a estética tão cafona, que não dá para acreditar que queriam levar a sério. E o mais importante: é bem divertido. 



- HALLOWEEN KILLS


Posso falar que gostei mais desse do que o anterior? Bem mais, na verdade. Entendo o povo não gostar desse; não entendo gostarem tanto do anterior - que tem um drama totalmente sem sentido de uma mulher (Jamie Lee Curtis) traumatizada por um assassino que matou meia dúzia de gente, uns podcasters que não têm função nenhuma no filme (a cena de abertura do Halloween anterior é constrangedora). Aqui eles seguem uma sequência direta, com a cidade toda à caça do assassino, o que é muito legal. É um slasher safado, como deveria ser. 


E o MELHOR terror do ano pra mim foi... 


SPIRAL  - FROM THE BOOK OF SAW


(Tá, agora tô zoando.)


21/10/2021

PESADELOS NESTA NOITE ASSASSINA DE HALLOWEEN




É HALLOWEEN! (ou quase). Quando eu era uma criança gótica (e colonizada) e queria comemorar, ninguém sabia o que era. Me lembro até hoje quando me fantasiei com meu amigo Frederico, lá com uns 8, 9 anos de idade, e tocamos campainhas das casas dos Jardins pedindo "gostosuras e travessuras"; ninguém colaborou, só nos enxotavam... (matei todos). 

Hoje em dia a data está cada vez mais estabelecida; já se tornou tradição eu arrumar uma abóbora ENORME para minha sobrinha decorar. Há dois anos, antes da pandemia, tentei comprar adereços para fantasia no dia, e as lojas já estavam com tudo esgotado. Os cinemas também têm reservado estreias especiais para outubro (como o novo Halloween Kills) e na televisão há programas especiais. 

Nesse clima, comecei a pensar nas franquias clássicas de filmes de terror - algumas hibernando, outras em plena atividade - que gostaria de ver de volta. E pensei também o que EU faria com cada uma delas (como fã, ficcionista e terrorista... digo, roteirista). 

Semana que vem posto meus filmes de terror favoritos do ano. Hoje, coloco minhas ideias (ou "fanfics") para sequências de filmes bem conhecidos (me contrata Hollywood)!


NIGHTMARES ON ELM STREET

Freddy Krueger sempre foi meu vilão favorito. Mas esse é daqueles que está num hiato de mais de dez anos. Então deu tempo de pensar numa ótima sequência (ao menos para mim). Eu faria uma mistura de prequel com reboot: um jovem Freddy ainda vivo, trabalhando de guarda noturno numa refinaria depois de ter fugido de sua antiga cidade por ter sido acusado (injustamente?) de molestar crianças. O trabalho durante as madrugadas, com os gases tóxicos, faz com que ele tenha pesadelos constantes; sonha com um antigo funcionário da refinaria - de suéter listrado e chapéu - que morreu queimado por lá. Nos sonhos, o velho (interpretado pelo Freddy original, Robert Englund), o incita a raptar e matar crianças. O jovem Freddy vai ficando cada vez mais louco, alucinando, encontra as antigas roupas do funcionário morto e começa a cometer seus crimes. No final, ele seria morto pelos pais das crianças, dando início ao Freddy dos pesadelos. Assim, era uma forma de Englund "passar a tocha", ao mesmo tempo que rebootava a série. 

 

ARMY OF CHUCKY

Vi só o primeiro capítulo da série nova. Achei meio palha. Mas eu gostei da ideia plantada no filme anterior ("Cult of Chucky") de que não era mais um único boneco, e sim vários. Acho que a série poderia (pode?) seguir por aí. Cada capítulo seria um boneco possuído, numa casa diferente, uma história diferente, com Chucky querendo tocar o terror e dominar o mundo (tipo uma Audrey II, da Pequena Loja de Horrores). Poderia ter um fio condutor comum com os atores clássicos: Jennifer Tilly, Alex Vincent e tal...  (A série atual talvez siga um pouco por aí, mas a mim parece que vai seguir mais numa trama contínua, com o garotinho gay na escola). 

 

HALLOWEEN CULT 

Esse já foi tão rebootado, refeito, remendado que fica mais difícil. Eu até gosto dessa sequência atual, mas se fosse para EU fazer um novo filme, faria outra coisa. Não algo completamente deslocado (como o Halloween III), mas uma trama paralela, uma espécie de spin-off. Na noite em que Michael Myers voltou a atacar (na sequência atual), um grupo de crianças que está "trick-or-treating" entra numa casa decorada de Halloween, que promete oferecer muitos sustos. Na verdade, é lar de uma seita de satanistas que quer torturar as crianças para oferecer a uma entidade que só surge nessa noite. Poderia ter um protagonista mirim que escapa. E, no final, os vilões (ou um único vilão) sobreviventes encontrariam Michael Myers, achando que era a entidade que invocaram, mas seriam mortos por ele. 


FRIDAY THE 13th – PART 13

Jason também está há muito no fundo do lago, devido a disputas judiciais, mas até para o espaço ele já foi, literalmente. Eu faria um filme clássico, num contexto atual. Um grupo de jovens vai acampar no mato, em plena pandemia, para escapar do confinamento/cidade/aglomeração. De noite, coisas estranhas começam a acontecer, aparições de fantasmas, pessoas desaparecem. O núcleo principal (quarteto?) se embrenha na mata tentando fugir e encontra... Crystal Lake, que eles conhecem como nós, como uma lenda. O acampamento está totalmente abandonado, mas Jason ainda está por lá, cercado de fantasmas de suas vítimas... Dava para rechear de referências às vítimas da série clássica, que apareceriam como fantasmas. 


ESTA NOITE REENCARNAREI NO TEU FILHO

Zé do Caixão morreu com seu criador, José Mojica Marins. Mas o maior ícone do terror brasileiro poderia ter uma sobrevida.... e aparentemente vai! Li notícias que o (teteia) Elijah Wood comprou direitos para fazer uma versão americana do Coffin Joe. Não sei se vai rebootar, se vai vingar. Mas se eu fosse fazer, continuaria de onde o último ("Encarnação do Demônio"), parou. Uma mãe tem cada vez mais problemas com o filho adolescente - violento, drogado, problemático. Os psicólogos não sabem como ajudá-la, uma cigana diz que o filho tem o encosto do pai e que precisam fazer um trabalho no cadáver dele. A mãe revela ao filho que ele é fruto de um estupro - ela foi estuprada pelo Zé do Caixão. O filme seria um road movie de mãe e filho-problema viajando até os restos mortais do Zé do Caixão, sendo perseguidos por traficantes (a quem o filho deve) por toda a estrada. A busca do Zé do Caixão sempre foi fazer o filho perfeito, e nunca acreditou no sobrenatural; então nada mais justo que o filho renegá-lo e ele se tornar uma assombração. A mãe ainda poderia ser a diva under Cléo de Páris, que foi uma das noivas do Zé no último filme.


E não me faltam ideias para tantos outros filmes, outras franquias... Mas de graça, por aqui, já está mais do que bom. 


Semana que vem posto a tradicional lista de melhores filmes de terror do ano!




30/09/2021

TRILHAS DE UMA VIDA


Já há um tempo com assinatura de Spotify, minhas playlists têm se multiplicado por lá, pela praticidade não só de pesquisar/encontrar músicas – muita coisa eles não têm, afinal – mas pela possibilidade de compartilhar as seleções.

É um hábito antigo, desde o colégio, gravando fitas K7 para os amigos, depois CDs-R, as discotecagens que eu fazia quando era baladeiro... O longo período do iPods (que ainda uso diariamente – ainda tenho um Classic com 25 mil músicas e dezenas de playlists, que torço para que resista mais um tempo; troquei a placa dele há uns três anos), desestimulou o compartilhamento; mas isso voltou com força no streaming...

Ou com força em termos, né? Compartilho quase que semanalmente uma nova playlist em minhas redes; é pouca gente que escuta, que curte. Em rede social... assim como fora dela... assim como na vida... assim como no pós-morte, as pessoas querem é escutar/ler/ver o que já conhecem. Se posto uma banda obscura, ninguém se interessa. Se posto David Bowie, todo mundo curte porque já ouviu.

Eu não ouço tanto playlists de amigos, porque são poucos que compartilham (e muitos não sabem fazer direito, não tem cadência, kkk...). Mas às vezes acho coisas bacanas (como a playlist de sons armênios do Heitor Loureiro ou o Paris-Brest do Alexandre Staut) e também pesquiso a de estranhos. Isso é bem bacana.

Ter a assinatura também faz toda a diferença (e isso aqui está parecendo um publi; ME PAGA SPOTIFY); só consegui engrenar no Spotify depois de ganhar aqueles três meses gratuitos, e acabar aderindo. Não faz o menor sentido estar ouvindo um jazz gostosinho e entrar uma propaganda de um sertanojo escroto – ou não poder ouvir as músicas na ordem correta. E minhas playlists TÊM a ordem correta. É pensada como uma discotecagem...

(Sinto falta, por sinal, de funções de mixagem, poder fundir uma música na outra, fazer transições – era algo que fiz por um tempo no meu blog, mas tive de tirar por problemas de direitos autorais com as gravadoras.)

Então, com a quantidade de playlists que já tenho, resolvi colocar no blog algumas de minhas favoritas... MAS TEM QUE OUVIR NA ORDEM!

 

TRILHAS QUE TRILHEI

Começo com a playlist de trilhas sonoras – de filmes favoritos, ou trilhas favoritas. É daquelas que a sequência faz toda a diferença, porque aponta, por exemplo, as semelhanças entre a trilha de “Império do Sol” e “Cannibal Holoucaust.”

https://open.spotify.com/playlist/1f3vGX6oVvFDZI2iy2wGwd?si=6a4d4dfb73ea44da

 

CHACHACHÁ

Das minhas favoritas para cozinhar. O nome diz tudo.

 https://open.spotify.com/playlist/0XyCQ0uo3ekO2KMuhJBlVF?si=23ea71304b324b24


FEIJOADINHA

Fiz há algumas semanas, para preparar uma feijoadinha como se deve, com um pagodinho. Mas aí tem outro ponto bem negativo do Spotify: as músicas podem sumir, se o artista/gravadora tirar do serviço. Não me conformo que tiraram aquele pagodinho japonês: “Ai, gatinha, me dá uma chance, pra esse lixoooo, MA-LA-VI-LHO-SO.” (Quem não entendeu, procura “pagode japonês” no Youtube, que lá ainda tem).

https://open.spotify.com/playlist/2dPwAjcGPvvMjoLefoZyXk?si=a74ea0cb45074423

 

SONS PAULISTANOS

Das temáticas de feriado, fiz essa no aniversário de São Paulo. Impressionante como há tantas músicas sobre o Rio, mas pouquíssimas sobre SP (impressionante, mas não exatamente surpreendente). De todo modo, achei uma boa seleção – e essas coisas são ótimas de se pesquisar no Spotify.

https://open.spotify.com/playlist/0IZGF7bFA6jiaiQC3zf2KK?si=6a40087102934568

 

TRILHA DA GRIPEZINHA

Playlist meio piada, com músicas sobre doença, vacina, covid. Muita coisa eu não conhecia e só achei na pesquisa.

https://open.spotify.com/playlist/0VMMKFdgQiRcvwjvqEgU66?si=9dfaeeb282fa478c

 

CAMURÇA

Tenho várias playlists dedicadas só a um artista/banda de que gosto. Nessa misturei todas as bandas/artistas/projetos derivados do Suede, minha banda favorita de todos os tempos.

https://open.spotify.com/playlist/66fuSuClEbloOiWbWmfTUm?si=f25ac7e92aab43e7

 

BIBAS DEPRIMIDAS

Das mais antigas, que já gravava para amigos em K7, em CD. Spotify não tem muita coisa dos meus clássicos (quase nada do Klaus Nomi!), mas tá valendo.

https://open.spotify.com/playlist/0Qne2hY6YAJLg596f213o7?si=79d5b93cd5d64c8f

 

FOREVER ALONE

Essa é só de músicas de fossa “héteras.”

https://open.spotify.com/playlist/0vNmEmErNFtq2uOmWsuwYq?si=9296f0e1371d4ba6

 

SELEÇÃO HIPNÓTICA

Das mais “funcionais”. Músicas para dormir. Funciona mesmo. (No meu iPod eu tenho DOZE playlists diferentes que fiz só disso).

https://open.spotify.com/playlist/6w2lwKOvuxssOiNwzurpNI?si=67e60ede38914dc6


FUK-FUK

Essa é a mais recente... ao menos no Spotify (porque fiz seleções semelhantes em K7, CD-R, iPod, a vida toda). Músicas gostosinhas para o sexo. A ordem também faz diferença – até porque a última música é um convite para seu date ir embora pós-sexo.

https://open.spotify.com/playlist/4Ppns6M6pS9UYf6CQRCCik?si=2cf304bedb594e06


Também tenho uma maaaara de festa junina, uma de Natal... Mas é só me seguir por lá. 


Para encerrar, fazendo o "coach" das playlists, dou dicas para a sua fluir melhor (aos meus ouvidos):


- Playlist tem que ter ritmo, tem que criar um clima. Não pode ser aleatória.

- Se é playlist de um artista só, para apresentar aos amigos, limite-se a DEZ músicas. Ninguém vai ficar duas horas ouvindo um artista que não conhece. Coloque suas dez favoritas, por mais difícil que seja. Se o amigo gostar, ele vai ouvir mais. 

- Se a playlist é variada, temática, varie. Coloque uma música só de cada artista. 

- Variada não significa bagunça. A playlist tem que ter um norte, um tema, um clima. 

- Tente colocar um número de músicas mais ou menos redondo: dez, vinte, vinte e cinco - senão me dá toc. 

- Playlists temáticas, para festa (Natal, Junina, sexo) podem ser mais longas e ter menos compromisso com a ordem, porque ficam fluindo, mas ainda assim não devem ser totalmente aleatórias. 


Para mais dicas, vejam minha oficina sobre playlists na escrevedei... Mentira. 





27/09/2021

NOTAS SOBRE O APOCALIPSE

 

A vida não vai voltar ao que era antes, porque já temos quase dois anos a mais...

Geralmente a vida vai mudando pouco a pouco, dia a dia, a gente envelhecendo, as fases passando. Mas a pandemia obrigou que tudo mudasse de um dia para o outro – e agora que se pensa em afrouxamentos, que se pensa em voltar atrás, já passamos tempo o suficiente para termos outros desejos, outra rotina...

Hoje um amigo me falava dos programas do fim de semana – foi ao parque, foi beber na Praça Roosevelt – “mas ainda não me sinto seguro pra balada...”, disse ele. Eu também tenho arriscado flexibilizações, mas não me sinto seguro pra balada desde que cheguei à meia-idade, há quase dez anos. Ano, passado, começo do ano, depois de me reaclimatar com a vida de solteiro, até ensaiei umas saídas, carnaval, umas festinhas, mas BALAAADA, acho que nunca mais...

Agora ainda menos, ainda mais.

Penso se para algumas pessoas isso ficou em suspenso – o envelhecimento... ou a passagem do tempo. Não importa que dois anos se passaram, querem voltar a fazer o que fariam em 2020. E isso não é, está longe de ser, uma crise de meia idade.

Eu conversava com minha sobrinha esses dias, que tinha oito, já fez nove, está com quase dez anos. “Mas você passou de ano?” Me pareceu tão esquisito ela ter passado da terceira para a quarta sem o ano ter passado. Ano que vem ela vai para o “ginásio” sem os ritos de passagem, os bailinhos, o bullying, a mudança de escola... Ela deixou de brincar com os amigos no início da pandemia. Agora, se a pandemia acabar, ela não estará mais na idade de brincar...

Todos se reencontrarão pré-adolescentes, tendo que se apaixonar instantaneamente, prestes a se casar...

... ou pior! Os moleques com buço de office-boy estarão cantando baby-shark? Meninas com seios protuberando camisetas da Peppa Pig?

Eu, que sempre fui um ser solitário, muito pouco sociável, não passei a pandemia mais solitário do que ninguém. Minha mãe, minha irmã, sempre falavam que eu precisava sair de casa para conhecer pessoa, mas a vida toda – ou toda a vida adulta – eu conheci pessoas online. Desde bate-papo do Uol até Grindr, passando por todas as redes sociais. (Poderia fazer a defesa: conquisto melhor as pessoas por escrito, mas considerando que como escritor não conquistei tantos leitores, talvez seja o contrário: Achei que meu chaveco poderia se tornar uma carreira...)

(“Chaveco”, você vê, me formei como escritor nos chats dos anos 90.)

Meu namorado conheci há seis meses pelo Tinder. Seguimos todos os protocolos. Por dois meses só nos beijamos de máscara. Ansiava que ele visse meu nariz empinado, temia o que ele acharia da minha barba grisalha...

Semana passada tomei a segunda dose (astrazeneca, sem nenhum efeito colateral, como da primeira vez, mas da primeira vez eu tive COVID cinco dias depois). Ele também já tomou a dele. Já fomos ver uma peça da minha irmã. Uma exposição no IMS. Nesse domingo comemos num barzinho bem gostosinho do Bixiga...

Eu e Klauz no Bixiga. 

E sentado lá, tomando caipirinha no bixiga, coisa que nunca fiz (mesmo morando no Bela Vista há uma vida), olhando as fotos do Adoniran Barbosa,  senti que a vida segue só pra gente mesmo... No tempo, a vida continua sempre a mesma, a gente só muda de assento...

07/09/2021

CEGO, SURDO E MUDO

 

Flagrante verde e amarelo da esquina...

Fui hoje de manhã pra academia. Moro do lado da Paulista. Deprimente ver a quantidade de bolsominions, gente com camiseta do Brasil, muitos tiozões e velhinhas. 

Confesso que soltei uns mugidos, identificando o gado; se me xingaram eu não sei, estou sempre de fones de ouvido - os fones salvaram minha vida, como diria aquela música da Björk (lembro de uma vez, louco de cogumelo em Amsterdã, em que a música nos fones foi o que me deu a noção de tempo, para eu conseguir voltar ao hostel...) 

(Não entendo esses autores sociabilíssimos, que dizem ouvir "as vozes das ruas" - as conversas dos transeuntes, dos taxistas - hoje em dia é melhor não ouvir. Eu estou sempre de fone; sempre trancado comigo mesmo; a minha trilha é o que faz com que eu me sinta em casa, onde quer que eu esteja...)

(Mas estou divagando.)

Provavelmente o gado achou que meu mugido era só eu cantarolando; ou um "hmmmm" apreciativo, uma cantada. (Uma vez descobri um bolsominion no meu chuveiro, depois do sexo; se fosse antes, talvez eu tivesse broxado... ou não, às vezes é bom foder com raiva...)

Hoje foi só broxada. Não tenho mais esse ímpeto. Não tenho mais vontades. Vejo os amigos postando no feed: "se ainda tiver bolsomion aqui, caia fora, blábláblá" - isso desde 2018, quando eu também, eu ainda tinha esse espírito, ainda tinha esperança... Meu vizinho de baixo ainda grita "fora bolsonaroooo", e eu só faço um joinha. Minha voz não tem mais projeção; já tive um falsete tão agudo...

Surdo, mudo e broxa... a cegueira também avança. A cada semana fica mais difícil para eu ler sem óculos - é impressionante; e ainda insisto. Mas também já li muito, já vi de tudo, não há mais nada de bom a ver, por vir... (Isso também não é uma música da Björk?)

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27/08/2021

OS MELHORES GAMES DE TODOS OS TEMPOS

Castlevania - Lords of Shadow. Meu vício atual. 

 


Tá, o título do post foi puro clickbait, faz parte do jogo... 

Mas voltei a uma fase gamer e achei que merecia um post. Eu poderia analisar a influência dos games na literatura - minha geração cresceu há mais de 40 anos mergulhada nos "videojogos", e isso já está presente de maneira clara em obras que vão de Salmon Rushdie a Dennis Cooper, Daniel Galera e Simone Campos (essa última talvez possa analisar o movimento bem melhor do que eu.)

Mais do que temáticas - que já vieram dos quadrinhos, dos filmes, da literatura - os games trouxeram estruturas que também influenciaram essas artes. A divisão em fases. Os chefes de fases. A possibilidade de morrer, renascer e seguir adiante... Isso está presente em muitas obras contemporâneas, como está presente em várias obras minhas, desde "A Morte Sem Nome"; "Pornô fantasma" (a novela no livro de contos) é total inspirada em Silent Hill; e "Fé no Inferno" tem muito disso também, não só na parte contemporânea, com Cláudio jogando seu PSP, mas principalmente na parte histórica (a vila queimada do protagonista se chama "Lurplur" - literalmente traduzido do armênio: Montanha Silenciosa - Silent Hill - basicamente um easter egg pra ninguém.) Meu sonho era que fosse adaptado para game (mais do que para o cinema). Acho que daria um belo "survival horror" - canto a bola no próprio livro, inclusive. Alguém tipo Rodrigo Teixeira bem que podia lançar uma coleção de "games expressos", baseados em obras nacionais. 

Esses dias meu namorado trouxe seu PS3 aqui, e voltei a jogar como louco. É um prazer único. E ainda que a gente (eu) se sinta culpado, ainda que se esteja queimando horas e horas em movimentos repetitivos, em que a gente poderia estar lendo, trabalhando, a gente também poderia estar roubando, a gente poderia estar matando, a gente poderia estar se drogando; já gastei pior minhas horas e os games já salvaram minha vida, como você vai logo ver...

Estou longe de ser um gamer inveterado ou especialista. Sou de fases. Não tenho nenhum console recente. Mas quando começo...

Então decidi colocar aqui os 10 games/franquias que mais joguei na vida. Tudo coisa das antigas, que sou velho. Vão aí: 


- CASTLEVANIA

De longe a série que mais joguei na vida, desde o Nintendinho até "Lords of Shadow" (que estou jogando só agora). É basicamente uma adaptação bem livre de "Drácula", um herói que tem de matar o vampiro, com todos os elementos que um moleque gótico como eu adoraria. Ainda prefiro os 2D (Symphony e Rondo no topo). (Ah, detestei a série de animação da Netflix). 


- SILENT HILL 

Tenho boas lembranças de virar a noite jogando o original em Porto Alegre, logo que me mudei para lá, com amigos novos. Depois joguei continuações do PSP, vi os filmes; mas o melhor sempre foi o clima. "Silent Hill" estabeleceu o padrão da cidade fantasma (no qual um protagonista busca por alguém desaparecido) melhor do que qualquer filme. (Nessa pegada gosto bem de "Obscure" também, que é um survival mais... obscuro. De "Resident Evil" nunca consegui gostar.)


- MONSTER HUNTER










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O Monster Hunter Freedom Unite pro PSP talvez seja o game que mais joguei na vida, porque é vício puro. Você tem de caçar monstros, fazer armas para caçar monstros, cultivar alimentos para caçar monstros; um game que exige horas e horas de cultivo, de planejamento, para uma caçada que pode levar quase uma hora. Tem algo de predatório - porque enquanto você caça coisas parecidas com tiranossauros, também caça unicórnios, golfinhos, veadinhos... Mas se você se dispõe e pega o jeito... é um vício terrível. (Por isso tenho evitado os mais recentes...)

- LIMBO

Jogo de plataforma bem simples - um garoto tentando sobreviver no limbo- que é elevado não só pela arte absurda (em preto e branco) como pelos quebra-cabeças que é preciso resolver. É uma beleza de visual e clima. Também gosto bem da pseudo-sequência, "Inside". 


- TETRIS 

Adoro jogos de quebra-cabeça tipo Tetris e Lumines. No Tetris cheguei a ficar bem bom. Lembro de uma época em que estava bem viciado (não só no game) e depois de uma noitada de pó, em que estava surtado, com a cabeça rebootando, foi jogar Tetris no Nintendo DS que me fez fixar na realidade. O videogame salvou minha vida. 


- PATAPON

Nessa franquia você tem que conduzir uma tribo por batalhas, seguindo a cadência de ritmos de guerra. Daqueles bem viciantes também. E adoro as músicas. Mas só consegui mergulhar no primeiro (também do PSP). 


- FRIDAY THE 13th

Tem uma versão mais recente bem bacana pra PC e Xbox, que é tudo o que eu queria quando criança. Mas o que mais joguei mesmo foi o do nintendinho, que é considerado por muitos como um dos piores games de todos os tempos. Discordo. Acho um belo game de estratégia, com temática de horror, mas se torna muito fácil depois que você pega os truques. (Quando criança eu adorava esses jogos baseados em filmes de terror - do Jason, do Freddy, Tubarão, etc - grande parte lançada pela LJN, e grande parte não presta mesmo). 


- FROSTBITE

Provavelmente o primeiro jogo que joguei e me viciei, quando era bem pequeno. Esse jogo de Atari é bem simples: você controla um esquimó que tem de saltar em placas de gelo e ir construindo um iglu, enquanto desvia de ursos, peixes, etc. Mas é uma delícia de jogar. 


- SUPER MARIO

Dos grandes jogos da minha infância - principalmente o primeiro e o terceiro. Ainda me lembro de jogar pela primeira vez, na casa do meu primo, quando ninguém tinha Nintendo ainda no Brasil. Os gráficos, a extensão do jogo, a possibilidade de pular fases, tudo me parecia revolucionário. O mais recente que tenho é o do DS, mas não gosto tanto. 


- HUNGRY SHARK

Único jogo de celular que já joguei. Um ex baixou e foi um vício que durou algumas semanas. Mas é daquelas coisas que fica sempre tentando te arrancar dinheiro...


E como menção honrosa...


O GAME DO HOMEM COXINHA (PC), claro. 






NESTE SÁBADO!