30/11/2004

HORA EXTRA DE MIM MESMO

“Feriado de Mim Mesmo”, meu próximo romance, já foi revisado e diagramado. Ficou com 160 páginas (maior do que “Olívio”, menor do que “A Morte”), achei um tamanho bom para um romance contemporâneo, apesar dele ter uma estrutura mais próxima de novela (narrado linearmente – quase em tempo real – durante um curto espaço de tempo).

Como eu já falei, a foto de capa é assinada pelo Daniel Luciancencov e eu. Mas ainda não posso dizer o que é.

A orelha também já está pronta, mais uma vez escrita por mim mesmo (não me sinto confortável com alguém enfiando o dedo na minha orelha, heheeh). Ela já está há algum tempo aqui no site. Vocês podem ler, e ter mais detalhes do livro no link “Feriado de Mim Mesmo”, aí do lado.

Como eu sempre busco desafios pessoais ao escrever um romance, minha tentativa nesse foi de limpar um pouco o estilo, o exagero, e trabalhar mais os detalhes da trama. “Feriado de Mim Mesmo” tem um personagem só e se passa todo dentro de um apartamento. Ainda assim é um thriller, um livro de suspense, daqueles com final surpreendente.

O filme baseado no livro ainda não tem previsão de lançamento. Nem começou a ser rodado. Está em captação de recursos. Na verdade, a Eliane Caffé tinha lido “A Morte Sem Nome” e me chamou para escrever um roteiro original com ela. Eu já tinha escrito o “Feriado” e achei que daria um bom (e barato) filme. Dei os originais para ela ler e ela se empolgou em fazer a versão para cinema.

Tanto o livro como o roteiro foram escritos em cerca de vinte dias cada. Foi meu recorde de velocidade (“A Morte” foi escrita em quase um ano. “Olívio” levou 3 meses). Escrevi rápido por ser um livro linear de suspense, e eu queria saber o que iria acontecer.

O lançamento está previsto para março do ano que vem em SP e em maio na Bienal do Rio. Talvez eu faça Porto Alegre também.

E estou escrevendo um QUARTO romance sim, está bem avançado. Mas não vou dizer nada. Na melhor das hipóteses, ele será lançado em 2006.

Mas coloco novos contos por aqui ainda esta semana.

28/11/2004

A MULHER QUE EU NÃO FUI.

"A leitura angustia, levanta dúvidas. Mas, ao mesmo tempo, sublima sentimentos e cumpre bem o papel dos livros significativos - chegam na hora e libertam o inenarrável vazio preso no calabouço de cada alma." - A Voz Feminina de Nazarian, por Vivian Rangel

Resenha que saiu este sábado de "A Morte Sem Nome", no Jornal do Brasil. Veja só, seis meses depois do lançamento, a divulgação continua. Fora o JB, esta semana também saiu uma resenha do livro no Capitu, além da minha foto na matéria sobre os debates do Itaú, na Folha. E eu ainda descobri uma série de notas sobre o livro no Jornal do Comércio de Pernambuco. Bom saber que Lorena está indo longe.

Mas a crítica do JB sobre o livro não é inteiramente positiva. Ou eu não entendi direito: "O autor, com sua voz narrativa feminina, não se sai tão bem assim - Lorena oscila entre o masculino e o feminino e parece insatisfeita com a obrigação de escolher entre arquétipos delimitados pelo sexo."

Hum, isso é verdade, mas eu não vejo como um aspecto negativo. De qualquer forma, é uma crítica válida.

O que eu mais gostei mesmo foi de: "Apesar das inovações, o livro conserva uma atmosfera romântica - morte, bebida, solidão, depressão estão presentes."

Vocês podem ler a resenha inteira
  • aqui

  • 26/11/2004

    PORQUE EU SOU POBRE, BALAS DE URSINHO ME PERTENCEM

    Acabei de traduzir mais um livro para a Planeta, "When I Was Cool", do Sam Kashner. Ainda vamos definir o título em português. Ele deve ser lançado em março/abril.

    É um livro de memórias "Beat". A história verdadeira de um garoto que foi estudar numa faculdade aberta por Allen Ginsberg, no final dos anos setenta. É bem interessante para quem gosta dos beatniks ou mesmo para quem quer conhecer mais. Ele dá um panorama da cena e da vida de seus professores, William Burroughs, Gregory Corso, Peter Orlovsky e o próprio Ginsberg.

    Não sei se é anti-ético eu dizer isso, mas o autor é um nerd de marca maior, haha. Bem, ele faz questão de passar essa imagem. Um nerd que era fascinado pelos Beats e foi estudar com eles para tentar ser "cool". Logicamente, não conseguiu. Mas a grande graça do livro é essa, o contraste entre um adolescente tímido e sem talento com poetas gays malditos em final de carreira, que também não tinham idéia de como "ensinar poesia" e tentavam levá-lo para a cama.

    Dessa leva "Beat", o meu favorito é o Burroughs mesmo. "Naked Lunch" é uma viagem psicodélica, quase incompreensível, mas ainda assim muito estimulante. "On the Road" do Kerouac eu acho "divertidinho". E aquela máxima dele "por eu ser pobre, tudo me pertence", praticamente criou o movimento hippie.

    Eu me lembro de ter visto a encarnação viva desse espírito em Bremerhaven, uma cidadezinha no Norte da Alemanha, onde tive um namorado, Patryk Recovsky. Conhecemos uma mendiga que comeu todas as nossas balas de ursinho, hahah. Fiquei conversando com ela sobre Herman Hesse, Robert Musil e outros escritores alemães (sim, ela falava inglês, eu nunca consegui aprender uma palavra de alemão). E ela vinha com esse papo de que não precisava comprar cds, que ela andava na rua e de repente ouvia uma música que ela gostava tocando. Que tinha vontade de comer balinhas, e de repente aparecíamos nós com um saco. Hahah, cara de pau. O Patryk em si tinha um pouco esse espírito. Queria andar pelas ruas de Londres descalço. E, imagine só, um alemão de 17 anos levar para casa dos pais um brasileiro de 25 (eu), que ele mal conhecia. Afinal, eu também vivi esse clima "On the Road " durante meu longo mochilão. E dependi muito da bondade de estranhos...

    Mas agora eu poderia colocar: "porque eu sou escritor, nada me pertence." Ah, sim, estou sempre no desespero atrás de freelas. Agora que terminei essa tradução, volto a mendigar balinhas de ursinho (e elas não são tão baratas no Brasil...). Este ano inteiro eu sobrevivi de brisa, do adiantamento dos meus livros ("A Morte Sem Nome" e "Feriado de Mim Mesmo"), traduções pra Planeta e freelas que fiz para Editora Abril, pra F Nazca e pra Eliane Caffé. O dinheiro de portugal e do roteiro ainda não entrou, talvez demore. E todo mês acho que a corda vai apertar no meu pescoço...

    Se eu pudesse manter meus dedos parados, comeria os fungos que cresceriam entre eles. Hahah.

    24/11/2004

    SE EU NÃO TE AMASSE TANTO...

    Dobrando a esquina hoje vi essa placa na entrada da minha rua. "Se eu não te amasse tanto." Só isso, sem dedicatória nem assinatura. Claro que foi escrita para mim. Para quem mais seria? Minha rua só tem uns 15 prédios, 30 casas e algumas centenas de corações partidos...

    Haha, mas eu cheguei a pensar... Não foi ninguém que passou por aqui não?

    Falando em EGO de escritor, foi algo impressionante nas palestras do Itaú. A gente fica quietinho escrevendo em casa e nem percebe que essas doenças não são só nossas. Que há muitos outros com "seis dedos", escritores com as mesmas questões, as mesmas pretensões, os mesmos problemas. Por isso sempre acho tão interessante esses debates...

    Ouvi coisas ótimas, outras nem tanto. É uma bobagem achar que os escritores só têm coisas interessantíssimas a dizer. Escritor só tem obrigação de ter coisas interessantíssimas para escrever ( e ainda assim, não me sinto com esse compromisso num blog, haha).

    Acredito eu que a série de debates do Itaú Cultural não tinha a intenção/pretensão de trazer respostas, apenas de estimular a conversa entre escritores. Foi uma iniciativa maravilhosa e me senti honrado com o convite. Os temas expostos ganham uma dimensão única analisados por quem escreve, mas não é uma dimensão absoluta.

    O tema da minha mesa, por exemplo – Cadê a Nova Clarice? Cadê o Novo Rosa? – certamente poderia ser discutido por críticos e acadêmicos que dariam um panorama mais verdadeiro da produção e da importância da literatura atual. Para falar da Clarice e do Rosa em si, há muitos especialistas maiores do que nós. Estamos trancados em casa, preocupados com nossa própria produção, não devemos olhar muito para os lados nem para trás. O peso do passado e a situação do presente devem ser observados, claro, mas pelo retrovisor, sem tirarmos o olho da estrada à frente.

    Uma das perguntas que fizeram à minha mesa era de nossas "pretensões como escritores". Respondi que devem ser as maiores, obviamente. Devemos acreditar que poderemos ser os maiores, melhores, únicos, e trabalhar para isso. Eu deixei de tocar piano exatamente por isso. Meu sonho era ser maior do que Liszt, haha. Mas talvez ele tenha um peso muito grande sobre mim, e eu nunca me considerei minimamente talentoso como pianista.

    Como escritor, acredito (e tenho de acreditar) que posso fazer algo realmente expressivo, mesmo que o tempo não esteja a meu favor, mesmo que a literatura hoje em dia não tenha o alcance que teve em outros dias...
    Aliás, nenhuma arte tem. Isso eu também expus na minha mesa. Não surgirá outros Beatles, outro Picasso, porque o tempo não é para isso. O tempo é para verdades relativas, heróis segmentados, não absolutos. Com certeza muitas bandas tocam e compõem melhor do que os Beatles hoje, mas a oportunidade social que eles tiveram para transformar o mundo não irá aparecer tão cedo.

    E eu me contento em ser o Guimarães Rosa de quem me ama : )

    Quanto à Clarice, fiz questão de relativizar sua genialidade. Eu me esforcei muito para gostar dela. Hoje tem coisas que eu acho fabulosas, mas vai aí um motivo para odiá-la:

    ANIVERSÁRIO - Clarice Lispector

    Amanhã faz dez anos. Vou aproveitar bem este último dia de nove anos.
    Pausa, tristeza:
    - Mamãe, minha alma não tem dez anos.
    - Quantos tem?
    - Só uns oito.
    - Não faz mal, é assim mesmo.
    - Mas eu acho que se devia contar os anos pela alma. A gente dizia: aquele cara morreu com vinte anos de alma, mas era com setenta anos de corpo.

    Arggggggggh! Esse é o conto todo. Haha. E foi esse conto que eu li na mesa. Veja só, se Clarice tivesse blog ela podia estar se queimando muito mais do que eu... Hahaa.

    Para terminar meu "Relatório Itaú", coloco uma questão que fiz diretamente para o Ignácio de Loyola Brandão, na última mesa do encontro. Ele dizia que "o tempo é o senhor dos críticos", aquela história de que "os bons de hoje só serão conhecidos amanhã", etc etc. Mas a minha pergunta foi: "E os bons de ontem? Será que todos são conhecidos hoje? Não se suspeita de que muitos foram esquecidos para sempre, por falta de sorte, de oportunidade, de compreensão? E os bons de hoje, será que todos ficarão? Será que muitos não se perderão por aí?"

    Nenhuma resposta concreta foi obtida, também nem era minha intenção. Mas gostei do Luís Vilela, que disse observar dezenas de "bons escritores" desaparecerem todos anos, sempre que há concursos de contos, de romances, e tem de se escolher apenas um vencedor. "Eu me lembro de livros maravilhosos que julguei em concursos anos atrás, mas que acabaram não ficando com o primeiro prêmio. Sempre procuro esses livros pelas livrarias, esperando que de alguma forma eles conseguiram ser publicados", disse ele.

    E muitos escritores sem sorte acabam desistindo, se tornando políticos, traficantes, sendo atropelados pelo trem. Mas, também segundo Luís Vilela, "a vida pinça aqueles que ela quer que sejam sublinhados."


    23/11/2004

    RESULTADOS, CONCLUSÕES E INTERFERÊNCIAS

    Sim, sim, o Daniel Dutra de Barros, do Rio, ganhou a promoção.

    Na verdade, eu tinha pensado em Lorena (SP) e Lusiânia (GO) – ambas com nomes alternativos em "L" (Letícia e Lívia), mas ele me surpreendeu com uma "Vitória" que eu nem lembrava.

    Os que responderam depois, chegaram tarde. Não sabia dessa história de "Letícia" ser nome de cidade, mas, de qualquer forma, eu escrevi que eram DUAS personagens, e Letícia/Lorena é uma só.

    Bem, bem, acabo de voltar do "Encontros de Interrogação" no Itaú Cultural. O meu debate em si foi bem interessante e lotado. Li um conto horrível da Clarice, dei a minha resposta para pergunta e falei um pouco sobre minhas ambições e predileções literárias... Assim que eu descansar a mente coloco mais considerações...

    O encontro como um todo foi ótimo. Conheci o Luís Vilela, Nelson de Oliveira (que eu só havia conversado por emails), Daniel Galera – gente finíssima, João Filho, João Silvério Trevisan – também muito simpático, Ignácio de Loyola Brandão e outros mocinhos e mocinhas, além de reencontrar o pessoal: Joca, Ivana, Cuenca, Cecília, Marcelino. Também recebi outros convites - e livros - e armei novos projetos com essa "gente que faz".

    Estou preparando umas leituras "com interferências" para breve. O Diogo de Nazaré está fazendo a produção de áudio. Está ficando bem interessante.

    Outros dois contos devem sair por aí até o final do ano em sites literários. Quando tiver o link, aviso.

    E por falar em link, ontem saiu uma resenha de "A Morte Sem Nome" no Capitu, assinada pela Ana Laura Diniz. Pra ler:

    http://capitu.uol.com.br/P.asp?p=22,11,2004,2842

    Saiu também ontem uma fotinho minha na Folha, numa matéria sobre os debates do Itaú. E por enquanto é só.


    22/11/2004

    PROMOÇÃO CULTURALÍSSIMA

    Hey, hey, como anda o movimento? Faz tempo que não lanço uma promoção aqui, né? A última quem ganhou foi o Lu Gastão, um exemplar de "Olívio".

    Queria sortear um "A Morte Sem Nome", mas fica pra próxima. Agora, tá valendo um cd-r com AS 20 MELHORES MÚSICAS POP DE TODOS OS TEMPOS, gravado por mim mesmo. Ganha quem responder corretamente primeiro aí no "comments/vermelho":

    "Qual são as duas personagens minhas que têm nomes de cidades."

    Eu mando o cd para qualquer lugar dentro do território nacional. As músicas são aquelas das listas (MPB e Pop Rock). Segue o track list:

    1- David Bowie - The Motel
    2- Scott Walker - Mathilde
    3 - Mutantes - Panis et Circenses
    4- Pato Fu - Eu
    5- Marina Lima - Deixe Estar
    6- Kid Abelha - Eu Contra a Noite (acústico)
    7- Adriana Calcanhotto - Pelos Ares
    8- Annie Lennox - Legend in My Living Room
    9- Suede - So Young
    10 - Sinéad O'Connor - John, I Love You
    11- Angela Maria - Garota Solitária
    12 - Les Rita Mitsouko - Les Histories D'A
    13- Cidadão Instigado - Minha Imagem Roubada
    14- Cauby Peixoto - Bastidores (ao vivo)
    15- Roxy Music - H2B
    16- Lori Carson - Sixteen Days
    17- Nelson Ned - Meu Jeito de Amar
    18- Sex Gang Children - Arms of Cicero
    19- Júpiter Maçã - A Marchinha Psicótica
    20 - Rufus Wainwright - Imaginary Love

    É isso.

    *'s



    18/11/2004

    DUZENTOS DEDOS PRA TOCAR

    Ah, fui ver a "Má Educação" do Almodovar. Não adianta, não consigo gostar dele. Sempre me parece uma novelona, um ritmo televisivo, uma minissérie de 20 capítulos condensada em duas horas. Esse até que tem algumas coisas interessantes, mas sei lá. Fora que não entendo como aquele anãozinho cucaracha do Gael virou simbol sexual. Sou mais o Nelson Ned, ahahha.

    Bem, então continuo com as listas. Dessa vez dos clássicos. Não é minha especialidade, mas nada é minha especialidade (Hum, talvez eu devesse ter investido mesmo na publicidade, hahaha, onde se sabe de tudo e não se sabe de nada.)

    Après Une Lecture du Dante – Franz Liszt (1811-1886)
    Ahhhhh, Liszt é foda, fodíssimo. Foi por ele que eu resolvi estudar piano clássico – e por ele também que eu desisti. Ele tem todo aquele exagero, aquele virtuosismo do romantismo que eu adoro (e por isso ele foi muito criticado. Diziam que suas composições eram apenas uma demonstração de técnica, sem criatividade ou sentimento). Ele também é uma figura interessantíssima, lindíssima, cheias de demônios. Li três biografias dele. A melhor é a "Rapsódia Húngara", do Zsolt Harsányi, uma biografia romanceada que está mais do que esgotada e não é fácil achar em sebos. Bem, voltando à música, essa é uma das minhas favoritas, que ele compôs baseado na "Divina Comédia" de Dante. Tenho diversas execuções, inclusive com o Arnaldo Cohen, mas minha favorita é com o inglês Stephen Hough.

    Dance Macabre – Camille Saint-Saëns (1835-1921)
    Hum, essa eu ouvia desde pequenininho, num disco que herdei do meu pai. É uma coisa tri-gótica, uma história de caveiras tocando violino no cemitério, com doze badaladas e tudo mais. É perfeita para apresentar música clássica às crianças - crianças góticas, claro. O Liszt também fez uma transcrição dela para o piano, em que ele exagera os temas e os tornam bem mais complicados, ahaha.

    Tzigane – Maurice Ravel (1875-1937)
    Depois do Liszt, Ravel é meu compositor erudito favorito. Tem o "Bolero", "A Valsa’ e esse "Tzigane", outro ato de virtuosismo. Peça complicadíssima para piano e violino, baseada em músicas ciganas. Também tem um toque gótico – porque essas músicas clássicas pastorais e alegrinhas não são a minha.

    Nocturne 10 – Frédéric Chopin (1810-1849)
    Eu tirei uma foto em Paris no túmulo do Chopin com flores na boca. Não simpatizo muito com ele não, por causa da competição com meu Liszt, mas ele tem umas coisas bonitas, quando fica mais depressivo, como os "Noturnos". Este é cheio de codas, cria uma sensação meio esquisita, meio sonambulesca... Pena que é curtinho.

    Piano Concerto No. 3 – Sergei Rachmaninov (1873-1943)
    Dizem que é uma das obras de mais difícil execução para pianistas. Como eu mal toco o "bife", não posso avaliar. Essa eu conheci naquele filme "Shine", que eu não gosto muito, mas tá valendo pelas execuções. JAMAIS comprem a trilha sonora, que é cheia de heresias, picotando as músicas e colocando trechos sem sentido. O melhor é comprar um disco do próprio David Helfgott, como o que eu tenho em que ele toca esse concerto.

    Cravo Bem Temperado – Johann Sebastian Bach (1685-1750)
    Esse é um salto lá pra trás, no barroco, um conjunto de peças para cravo que também são um ato extremo de virtuosismo. Fica meio cansativo de escutar depois de um tempo; o cravo solo ganha um tom de videogame 8-bits, hahaha, mas escutando as peças isoladas, tentando seguir os dedos de Bach no teclado, você tem um exercício audio-mental maravilhoso. Foi assim que eu tive meu primeiro ataque epilético.

    Sinfonia no 5 – Gustav Mahler (1860-1911)
    Bom, acho que essa só tem sentido depois de se assistir o filme "Morte em Veneza" do Visconti. Na verdade, o filme só usa o quarto movimento dessa sinfonia (e exaustivamente). A sinfonia ganha outra dimensão escutada inteira. Mesmo assim, escutando essa música é impossível não se lembrar de Tadzio... e de quando eu morri na praia.

    Dança das Horas de "La Gioconda"– Amilcare Ponchielli (1834-1886)
    Ah, essa eu peguei daquele desenho "Fantasia", do Walt Disney. Tinha umas coisas bem kitsch, como hipopótamos dançando balé com avestruzes. Cruzes! Ahaha. Mas a música é bonita, tem toda uma dramaticidade meio kitsch. Aliás, se formos ser rigorosos, toda música clássica tem algo de kitsch, não? Algo melodramático, exagerado, flamboyant.

    24 Caprichos – Nicolo Paganini (1782-1840)
    Esse cara tinha pacto com o demo! Paganini era um romântico maldito que levantou muitos boatos na época sobre ter vendido a alma para o diabo para dominar o violino. Esses "caprichos" dele são exercícios de técnica (como os de Bach no cravo). Muitas vezes me lembram a risada do Pica-pau, haha (tenho certeza de que o Walter Lantz tirou de lá). E como eu gosto dessas coisas excessivas, me delicio. Além do mais, Liszt pagava pau pra ele.

    O Lago dos Cisnes – Pjotr Ilyitch Tchaikovsky (1840-1893)
    Tchaikovsky é um desses compositores mais "alegrinhos", né? Que também teve sua música em desenhos animadinhos da Disney e tudo mais. O "Lago dos Cisnes" também não é especialmente exagerado ou "mórbido", mas tem um primeiro movimento que acabou sendo associado aos filmes de terror da década de 30, como o "Drácula" do Bela Lugosi. Teve também a história de ter sido criado como um ballet, mas era considerado complicado demais para se dançar. Por essas e outras, entra no meu top 10.

    E não vamos esquecer que na próxima terça (23) eu vou estar num debate no Itaú Cultural, às 17 horas. Para ver a programação completa do evento, clique no:

    http://www.itaucultural.org.br/index.cfm?cd_pagina=2398


    16/11/2004

    CAZUZA, RAUL, RENATO E CAETANO.

    Ok, agora é a listinha dos meus favoritos MPB de TODOS OS TEMPOS DO MUNDO E DO UNIVERSO DE DEUS. E antes que o Jaspion volte aqui para me chamar de Nick Hornby, digo que ele, o Nick, só foi esperto de ganhar dinheiro com essas listas que todo adolescente sempre fez. Enfim, eu também nunca li Nick Hornby, não posso criticar, mas nunca contaminaria minha "LITERATURA" com essas coisas pop, haha. Pra isso servem os blogs...

    Pelos Ares – Adriana Calcanhotto
    Eu gosto de quase tudo da Adriana (e o que eu não gosto eu detesto). Na verdade, ela tem letras bem melhores do que esta, mas as imagens que esta música me traz são ótimas. É uma música-catálogo, né? Aquela coisa de lista: "bicicleta, planta, céu", que muitos compositores fazem hoje em dia. Só que me lembra uma instalação que vi numa Bienal dos anos 90, que era um barraco que eles explodiram, depois penduraram os caquinhos todos numa sala, como se estivéssemos no meio da explosão (alguém sabe o nome/lembra de quem é?). O arranjo dessa música me lembra bem o "Libertango", do Piazzolla, na versão da Grace Jones.

    Mutantes – Panis et Circenses.
    Esta é previsível, eu sei. Eu nem sou tão fã de Mutantes assim. Gosto, mas não demais. Mas esse album – Tropicália – é bem forte. Ouvia em LP da minha mãe, ainda criança. Eu poderia tirar mais duas músicas dele para meu top 10: "Lindonea" – com a Nara Leão, e "Baby" – com a Gal Costa, só que ia ficar muito repetitivo. Pena que o Caetano morreu tão jovem...

    A Marchinha Psicótica – Júpiter Maçã
    Ahhhhh, esse cara é muito bom, muito tosco, muito bom. Vi um show dele recentemente. Que maravilha, psicodelia pura. E o que é a letra dessa música: "doidão é apelido para a paranóia, toda a jibóia, toda a bóia toda a clarabóia", haha. É o tipo de imbecilidade genial. A música é um caldeirão de referências: Bob Dylan que se encontra com um alien que tinha cabeça de Woody Allen e barba de Allen Ginsberg. Haha.

    Marina Lima – Deixe Estar
    Eu só comecei a ouvir Marina Lima recentemente, por influência do Daniel (Luciancencov). Esse cd "Pierrot do Brasil", é ótimo. Totalmente deprê, ela sem voz nenhuma, recorre a co-incidência de teclados e backing vocals para manter a linha melódica, enquanto ela praticamente lê as letras. Parece que estamos espremendo a última gota do bagaço de uma fruta...azeda.

    Nelson Ned – Meu Jeito de Amar
    É sério, é sério. Ë bom pra caralho! Aliás, esse cd (que reúne dois discos do Nelson, "Tudo Passará" e "Meu Jeito de Amar") é um dos melhores da minha coleção. Tem uns arranjos absurdos de orquestra, tecladinhos assombrados e o Nelsinho cantando num vozeirão "tamanho não é documento, pelo menos tenho sentimento!" Haha. E essa música – Meu Jeito de Amar – tem a melhor letra gay que eu já vi. Nela ele conta que sente algo estranho por um amigo, mas não tem coragem de confessar. Daí no refrão entra a orquestra e ele diz que "como eu queria dar um beijo na sua boca e te fazer vibrar de amor". Haha, imagine só aquele Nelsinho...Eu não sei se ele é gay, talvez tenha sido só um "surto poético".

    Angela Maria – Garota Solitária
    Ok, essa entra na linha do Nelson Ned. Adoro a Angela, essas músicas de fossa. E esta, em específico, tem uma das melhores letras. Ela fala que sofre por não ter um amor, que vive "sozinha sem um bem" e ataca no refrão. "Será que eu sou feia?" e o coro responde: "não é não senhor". E ela pergunta: "então eu sou linda?" e basicamente eles respondem: "também nem tanto", ahahah.

    Bastidores – Cauby Peixoto
    Continuando na linha "le kitsch c’est chic", Cauby, Cauby! Eu tenho muita coisa dele. Gosto de quase tudo, mas acho que essa é a música mais representativa. "Com muitos brilhos me vesti, depois me pintei, me pintei, me pintei". Glamour total! Letra do Chico Buarque. Eu vi um show dele em 2000, em Porto Alegre, mas foi meio deprê. Ele estava muito debilitado, cantando sentado, com ajuda para entrar e sair do palco. Mas a voz ainda estava poderosa.

    Pato Fu – Eu
    A melhor banda da atualidade? Prova de que é possível vender pop alternativo? Pato Fu é tão bom que a gente nem liga para a (falta de) voz da Fernanda Takai. O John também é foda, fodíssima, um puta guitarrista. Eles têm letras ótimas, insólitas. Esta, especificamente, é do Graforréia Xilarmônica (grande banda também), mas o Pato Fu deu uma boa recauchutada no arranjo, mais pesado, cheio de guitarras e timbres de theremim.

    Cidadão Instigado – Minha Imagem Roubada
    Acho que ninguém conhece essa banda. Quem me apresentou foi a (minha ex) Fabbie, que produz shows e festivais de rock. Eles são do Ceará e misturam algumas coisas regionais com rock progressivo, psicodelismo e experimentalismo. Da letra dessa música eu não posso falar muito, não entendo o que quer dizer, hehe, mas o arranjo é uma delícia, com uns tecladinhos kitsch e uma batidinha de bolero.

    Kid Abelha – Eu Contra a Noite.
    Eu nunca fui fã do Kid Abelha. Na verdade, só fui escutar mesmo recentemente, um dia que estava de bobeira e assisti o acústico pela TV. Eles têm umas puta letras. Acho que são as melhores letras do pop nacional. A Paula Toller também é o máximo, e eu adoro a voz dela. Esta música está no acústico e no album "Surf" (que tem aquela bagaceirice "Te Amo pra Sempre"). Ela tem uma coisa "surf music" sim, e é tão gostosa. A letra não é genial, eles têm melhores (e bem piores), mas é ok. O título parece título de conto meu. Eu escuto direto aqui em casa, por isso entra na lista.

    Conclusões? Mulheres sofredoras e rapazes afetados. De novo!


    14/11/2004

    PIRANHAS ARRANCARAM MEUS OLHOS DOS LIVROS

    Neste final de semana, fui para a casa da minha mãe no interior paulista. É uma casa super gostosa, no meio do mato, construída por ela mesma (ALIÁS, vai sair na Casa Cláudia – ou Casa & Jardim? - de janeiro).

    O problema é que deixei de dirigir há alguns anos e sou meio perdidinho. Então acabei perdendo a saída e desci do ônibus DOZE quilômetros a frente. Tive de andar a pé duas horas pelas Castelo Branco, de mochila nas costas, para chegar até a casa da minha mãe. Mas foi bom, eu preciso mesmo de exercícios diários intensos para manter a cabeça em ordem...

    Lá também pude relaxar com essas coizinhas boas do campo: lareira, nosso lindo pastor-alemão Tomé e os mais de QUATRO MIL livros que formam a biblioteca da minha mãe (outro dia até encontrei um vendedor da Livraria Cultura que comentou isso comigo. Parece que a "ficha" da minha mãe lá é de impressionar, haha).

    Sempre eu colaboro para esvaziar um pouco as prateleiras dela, para que os livros não se tornem um vírus que tome conta de todos os cômodos. Dessa vez eu voltei com as Ficções Completas do Guimarães Rosa, em dois volume da Nova Aguilar. (o Guimarães nunca foi um dos meus heróis, por isso mesmo preciso ler mais...)

    Lá eu li também outro conto fodíssimo do Paulo Henriques Britto, "O Companheiro de Quarto", publicado na revista literária Ficções 1. Não é porque ele acabou de ganhar o Portugal Telecom não. Os livros de poesia dele mesmo eu não conheço. Mas os contos que eu já li são estupendos (para ficar entre meus heróis, sim). Ele inclusive publicou um conto também na Ficções 12, em que eu participo com o meu conto "Pó de Vidro e Veneno de Cobra." E ainda impressiona como tradutor. Li uma ótima tradução dele para "A Artista do Corpo", novela do Don Delillo que ganhei de presente do (poeta) Donizete Galvão.

    Enfim, como não consegui roubar essa Ficções 1 da minha mãe (ei, tem alguém da 7 Letras aí?), acabei achando o texto na net. Vocês podem ler "O Companheiro de Quarto", do Paulo Henriques Britto, no site da 7 Letras. Entre no www.7letras.com.br, clique em "ficções – 1, que o conto tá lá, na íntegra. Eu mesmo detesto ler contos na net, mas para quem curte, recomendo esse.

    De resto, li algumas entrevistas com Burroughs e Ginsberg, fiquei vendo os documentários de répteis da National Geographic, um documentário sobre uma balsa que afundou na Estônia e o filme PIRANHAS 2 – ASSASSINAS VOADORAS – praticamente uma obra-prima do Escher, ahahah.

    11/11/2004

    BATATINHA QUANDO NASCE

    "Quando escrevemos versos aos vinte anos, é porque temos vinte anos; quando os escrevemos aos sessenta é porque somos poetas."

    Hum, não sou muito de citações, mas achei essa – de Alain Borer - numa edição bilíngüe de Rimbaud e me pareceu bem oportuna...

    Também não sou de poesia. Gosto de histórias, de criar personagens, mas é claro que já tive vinte anos e já fiz das minhas...

    Navegando pela net, encontrei algumas. Acho todas bonitinhas, todas rimadinhas – se não consigo fugir das rimas nem na prosa...(ALIÁS, o Joca Terron me disse uma vez que odiava as rimas de "A Morte Sem Nome")

    A primeira que encontrei foi uma que fiz para um site da Mariana D. Bandarra, de Porto Alegre. Ela me pediu um poema sobre o nariz (na época eu devo ter entendido que era sobre a cocaína). Saiu isso:

    Fossa Nasal

    O que m’escapa por entre os dedos
    penetra-me pelo nariz,
    inspira-me gozo e medo,
    me forçando a continuar e insistir.

    E o qu’eu fiz? É o que sempre faço.
    O que faço é o que sempre me faz.
    Reciclando entre beijos e abraços
    a poesia que o papel não tem.

    E a poesia que o papel não traz,
    é fluido no meu nariz,
    Se me ajuda como respiração,
    se invade minha circulação,
    se domina a minha razão,
    tampouco me faz feliz.

    Teve também uma que o (videomaker) Marcelo Garcia pediu para mim em Londres, sobre os estranhamentos com a língua e a cultura estrangeira. Parece que ele fez um vídeo em cima disso, mas eu não cheguei a ver. Aí vai a "poesia":

    Vaca Amarela

    Abro a boca e fecho os olhos
    Falo alto pra engolir
    Grito forte e sem sentido
    Sem perigo de errar

    E pra quem quiser ouvir,
    já não basta escutar
    abra a porta e baixe a guarda
    venda os olhos e tire as calças

    Abro a boca e fecho os olhos
    Sugo a língua do estrangeiro
    Como toda a bossa dela
    Como quem fala primeiro

    E pra meio entendedor
    Me entrego por inteiro
    Para quem não entendeu
    Calaboca já morreu.


    Tem também uma que eu tinha mandado pro site do Habacuque (Ludov), mas não encontrei mais. Lembro só do primeiro verso, e era bonitinho:

    "A pena é mais forte do que a espada,
    mas é a espada que está contra mim
    É a espada que escapa aos meus dedos
    Com pena de escreverem assim."

    E o mais bonitinho, que escrevi em dor-de-cotovelo, era assim:

    Morra, Plebeu!

    Que nosso amor acabe de uma forma diferente.
    Devagar, derrapando, de repente.
    Mas que nosso amor não termine, não acabe simplesmente.

    Que nosso amor morra atropelado por um trem,
    Espancado, estendido, sem ninguém.
    Mas que nosso amor não morra, não termine também.

    E que ele me deixe, que ele parta, que ele vire uma nova esquina.
    Em Madri, em Marrocos, n’Argentina.
    Mas que nosso amor não seja apenas mais um amor que termina.

    Ahhh, lendo esses "tesouros da minha juventude", eu só posso lamentar meu cinismo e minha frieza atuais. Haha!


    10/11/2004

    APOCALÍPTICOS E INTEGRADOS

    Quando eu morava em Porto Alegre, e escrevia meu primeiro romance, recebi da minha mãe o livro de contos "Angú de Sangue", do Marcelino Freire. Acho que foi meu primeiro contato com essa "nova literatura". Eu ainda tinha aquela mentalidade de que "bicho bom é bicho morto" e não tinha o menor interesse em conhecer os contemporâneos.

    Mas o livro do Marcelino me trouxe uma nova dimensão, uma literatura viva, atual, identificável, que estava acontecendo enquanto vivíamos – e que ainda assim continuava sendo literatura.

    Só anos depois fui conhecer pessoalmente o Marcelino, aprofundar meu conhecimento sobre essa literatura, descobrir onde estava o povo minha idade que escrevia. Minha temporada em Parati, com JP Cuenca e Chico Mattoso também foi ótima para isso. Apesar de eu ser o único dos três que já tinha publicado um romance, eles pareciam muito mais inteirados da "cena" do que eu. O Mattoso, especificamente, me despejou uma horda de novos autores, com sua ótima revista literária "Ácaro".

    Agora é inevitável eu fazer parte. Acabo recebendo vários livros de colegas aqui em casa, convites de lançamentos e estou sempre conhecendo novos escritores em eventos (ALIÁS, acabo de voltar do Prêmio Portugal Telecom – concedido ao grande Paulo Henriques Britto). Eu acho uma bobagem esses rótulos de "Geração 00", ou mesmo os grupos e panelinhas. Se eu quisesse pertencer a um grupo, eu continuaria tocando teclado numa banda de rock. Para mim, o principal atrativo da literatura é a independência, a prática solitária (e masturbatória). É mais ou menos sobre isso que trata meu conto "Seis Dedos pra Contar" (que está aí no site, no link das "Formigas").

    Mas se a prática é solitária (e, acredito eu, densa, verdadeira e particular), a promoção tem de ser solidária. É preciso se integrar, vender o peixe (abrir a espinha) e "todos juntos somos fortes". Também não dá para negar que, por mais que queremos ser únicos, há traços comuns nas obras escritas atualmente. Não dá para fugir do "peso da geração".

    Enfim, são essas (e outras) discussões sobre "nova literatura" que formam os temas de um encontro literário no Itaú Cultural –Encontros de Interrogação (dias 22 e 23 de novembro) - promovido pelo Marcelino Freire, Nelson de Oliveira, Claudio Daniel e Frederico Barbosa.

    Marcelino me mandou um email com um convite e uma pergunta, que será o tema da minha mesa. Respondi para ele de imediato. Vai aí:

    Cadê a Nova Clarice? Cadê o Novo Rosa?

    "Agora que você me perguntou, eu escuto a Clarice toda noite, fazendo o sino tocar. É na igreja aqui do lado, na rua de cima, atrás do meu apartamento, de hora em hora. Quando estou sozinho de noite. Quando estou deitado com insônia, alguém toca o sino na igreja e me diz que não estou só. Não estou sozinho nessa madrugada onírica, com Clarice, mas talvez esteja apenas sonhando."

    "Já o Rosa eu não sei por onde anda, não sei por quem dobra, nem que esquinas virou. Na verdade, eu nem saberia reconhecê-lo, porque só olho por trás de franjas. Talvez seja o assassino do papa, no meu suicídio não publicado. Talvez seja aquela cadeira reservada, em sorveterias, botecos e bares. Sempre que eu quero puxá-la, alguém me diz: "já tem gente", e eu me sento na sarjeta... "olhando as estrelas."

    O meu debate é dia 23 de Novembro, terça-feira, às 17 horas no Itaú Cultural (Av Paulista 149). Estarei numa mesa com Cecília Giannetti, João Filho e Verônica Stigger, mediado pelo grande Marçal Aquino. Mais pertinho eu aviso de novo.

    08/11/2004

    FREELA PORQUE QUI-LO

    Estou terminando a tradução de um livro para a Planeta. Fora isso, estou soltinho-soltinho / equals pobrinho- pobrinho (não, ainda não recebi por minhas últimas conquistas...).

    Quem tiver freela de redação/tradução, é só assobiar.

    Já trabalhei de redator publicitário, redator de marketing direto, redator de horóscopo, roteirista de tele-sexo (é sério!), vendedor de livraria, barman, professor de inglês e monitor de mostra, além de fazer tradução e transcrição. Desses todos, o único que eu não me garanto é como professor. Não tenho didática nenhuma. Tem algum ex-aluno meu por aqui?

    06/11/2004

    MINHA VIDA NO GELO

    Alguém conhece um bom professor de Finlandês em SP? Hum, eu podia propor essa prova numa gincana escolar...

    Larguei meu curso na Milennium faz dois meses, desde que o professor Marku Lira disse que eu estava "possuído pelo demônio", tudo por uma tola discussão relativista. Eles têm um método muito estranho, pseudo-psicanalítico, com uma filosofia bem rasa e completamente anti-didática.

    Para vocês terem uma idéia (e já contei essa história numa palestra), uma das primeiras frases que aprendi lá em finlandês foi: "Kateellinen ihmninem ei näe, ei halua nähda", que significa "A pessoa invejosa não vê, ela não quer ver."

    Seis meses depois, fui aprender a falar "mãe" (äiti), "pai" (isä), "cachorro" (koira), etc.

    No dia da minha última aula, o professor tentava explicar que o "mal" é a "ausência do bem", assim como o frio e a ausência do calor (e eu provoquei dizendo que o "feminino era a ausência do masculino", haha. E que esses conceitos de "bem" e "mal" eram relativos, etc, etc, etc). Enfim, papo de barzinho de faculdade, e por isso o "demônio estava no meu corpo".

    O chato de ter largado o curso é que, infelizmente, a Milennium é a única escola que dá finlandês em SP, e é bem difícil encontrar professor particular. Também é muito difícil encontrar material – filmes, música. A maioria das bandas (boas) da Finlândia canta em inglês. O mundo praticamente conspira para você aprender inglês, mas, no finlandês, o mundo conspira contra. Estou estudando há quase dois anos, sendo que um ano e meio foi lá com o Marku Lira.

    Tudo começou na Finlândia mesmo. Estive lá duas vezes em 2002. Primeiro passei só cinco dias, num mochilão pela Escandinávia. Depois, quando estava saindo de Londres e quase voltando pro Brasil, passei mais 15 dias. Fiquei apaixonado pelo país: melancólico-bucólico, com pessoas tão receptivas, tão bonitas (apesar de que os suecos em geral são mais bonitos, mas são os menos simpáticos da Escandinávia).

    Na primeira vez que eu fui, peguei uma ferry em Estocolmo para Helsinque (capital da Finlândia). Achei que a viagem ia demorar algumas horas, como a ferry entre Alemanha e Dinamarca. Mas tive uma ótima surpresa. Os barcos que fazem esse trajeto são navios enormes, com boates, restaurantes, cassinos, lojas. E a passagem não é cara não (para quem já está lá...). Acho que era uns 30 Euros. Parece que a distância é curta, mas eles fazem a ferry navegar mais devagar para o povo passar a noite gastando no navio (você sai às quatro da tarde de Estocolmo e chega a Helsinque na manhã do dia seguinte). É "tax-free" para bebidas, e muitos adolescentes pegam a ferry como uma balada, só para farrear, não como meio de transporte. Tem cabines para dormir lá também, mas eu não sabia e só tinha comprado o ingresso. Felizmente um professor muito receptivo me ofereceu a cama extra que sobrava em sua cabine...

    Nessa primeira vez que eu fui era final de inverno. E não era tão frio assim (por volta de 0oC – chega a fazer menos 30oC na capital). Quando eu voltei no verão, de avião, a cidade estava ainda mais vibrante e divertida. Tão vibrante que todos os albergues estavam lotados, e eu tive de dormir uma noite no cemitério. Mas no dia seguinte conheci um casalzinho tri-querido que me levou para a casa deles...

    Então, então, é claro que fiquei cheio de histórias sobre a Finlândia. Porém mais importante do que o que aconteceu (que pode ser contado num blog como esse) é o clima que eu senti lá. Aquela realidade polar, tão distante, tão receptiva, mas ao mesmo tempo desconfiada. Um sofrimento carinhoso, que eu queria vivenciar.

    E é por isso que estudo Finlandês, e quero, num futuro não muito distante, passar alguns meses lá para escrever um romance. Entenderam agora? Moi moi!

    04/11/2004

    95, O ANO DO POP ROCK.

    Hum, vamos começar com as listas (o Jaspion vai gostar disso). Vai aí minhas músicas pop favoritas (internacionais).

    Legend in My Living Room (92) – Annie Lennox (Escócia)
    Sempre fui fã de Eurythmics (ALIÁS, vi hoje o filme deles dirigido pelo Amos Gitai). O trabalho solo da Annie Lennox está cada vez pior. Música de consultório de dentista. Mas o primeiro solo – Diva – tem coisas bem boas, apesar do tom "pop de meia idade". Na minha opinião, "Legend in My Living Room" é uma das melhores letras dela. Fala do lado relativo da fama (para os escritores, é mais relativo ainda). Ela conta que comeu o pão que o diabo amassou, quando começou a carreira em Londres, mas que "sabia que seria uma lenda...na minha própria sala de estar".

    Mathilde (67) – Scott Walker (EUA)
    Tudo bem, essa música é do Jacques Brel. Eu tenho a versão dele também, e prefiro bem mais a do Scott Walker. O arranjo de trompetes de Wally Stott é um primor, me faz lembrar as "baladas dos cossacos", músicas tradicionais russas, músicas de cavalaria. Fora que o vozeirão do Scott dá de dez no Jacques. Eu comprei todo o catálogo dele quando eu estava na Europa. E depois que você ouve uma música como "Mathilde" de madrugada, num navio indo para a Finlândia, não dá para não se apaixonar...

    The Motel (95) – David Bowie (Inglaterra)
    Essa não é das músicas mais famosas do Bowie. Também não deve estar entre as favoritas dos fãs, mas provavelmente é a minha. Esse album de 95 -"Outside" - eu considero um dos melhores da carreira dele. Certamente é o mais sombrio. Todas as faixas contam uma história meio "snuff", de uma menina que foi seqüestrada e assassinada como uma forma de arte. A produção é do Brian Eno, e uma das melhores coisas do album é o piano jazzístico do Mike Garson (que participa também de vários outros albuns do Bowie). Esta faixa, em específico, começa lenta, meio sem forma, com pianos e vocais esparsos e vai ganhando corpo aos poucos...

    Les Histories D’A (86) – Rita Mitsouko (França)
    Ah, essa é uma das minhas bandas favoritas. Aliás, é uma dupla. Um casal francês –Catherine Ringer e Fred Chichin - que antes de tocar fazia filmes pornográficos experimentais. Hum, eu queria ver a Catherine gemer. Que voz tem essa mulher! Nessa música, ela conta diversas histórias de amor trágicas e conclui no refrão: "as histórias de amor terminam mal, em geral."

    Imaginary Love (98) – Rufus Wainwright (Canadá)
    Hum, é difícil escolher uma música só do Rufus. Quase que eu pus "Dinner at Eight", do último album, mas esta também é uma pérola. Ele canta o primeiro verso, depois repete tudo uma oitava acima. E ele tem essa coisa de cocainômaco, né? emenda um verso no outro, não dá uma pausa na música inteira. Até no final, quando a letra termina, ele dá um jeito de soltar uns gemidos e terminar junto com a banda, ahah. Esse Rufus é mesmo um serelepe!

    Sixteen Days (95) – Lori Carson (EUA)
    Lori Carson é pouco conhecida. ALIÁS, tão pouco que o penúltimo album ela gravou sozinha, fez as fotos da capa e vendeu pela página da internet. Mas o album "Stars", que tem essa música, é um pouco mais pop. ALIÁS, tem a dosagem perfeita de pop, folk e new age (Ultimamente ela está new age demais, eu só escuto o último cd dela para dormir). "16 Days" é a faixa que abre "Stars". Atmosférica, melancólica e aconchegante. Lori tem ótimas letras sobre crises afetivas e relacionamentos bizarros.

    John I Love You (95) – Sinéad O’Connor (Irlanda)
    Também é foda escolher uma faixa da Sinéad. Ela tem as músicas mais bonitas do mundo pop. Claro que ela é louca, depressiva e obsessiva com a idéia de maternidade, mas para quem não é filho dela isso é até mais legal. Ela abandonou a música faz um ano. E chegou a escrever uma carta aos fãs dizendo que "se encontrassem ela na rua, mudassem de calçada, fingissem que não a conheciam". Haha. "John I Love You" é do album "Universal Mother", o melhor dela, na minha opinião. Ela estava com a voz mais suave, mas ainda poderosa.

    So Young (93) – Suede (Inglaterra)
    Ah, Suede é minha banda. Quando eu era um adolescente nerd, descobrindo o sexo e as drogas, Brett Anderson e seus amigos me mostraram um novo mundo de possibilidades, ambigüidades e androginia. Essa música, do primeiro album, fala tudo o que eu sentia na época "We’re so young and so gone, let’s chase the dragon from our home." O melhor foi conhecer a banda em 2002, quando eu trabalhava em Londres. Cumprimentei Brett Anderson (vocal), conversei um pouco com o Simon (bateria) e bati altos papos (e fotos) com Bernard Butler (o primeiro guitarrista). Na minha página do Orkut tem uma foto minha com o Butler.

    Arms of Cicero (93) – Sex Gang Children (Inglaterra)
    Sex Gang Children é das poucas bandas góticas que existe até hoje, desde o começo dos anos 80. No começo eles eram mais punks e toscos, mas bem divertidos. Hoje em dia o som está mais melancólico e "gótico fino" (se é que isso é possível com os vocais esganiçados do Andy). "Arms of Cicero" é dessa segunda fase, com arranjo de cordas e tudo mais. Eu também conheci a banda em Londres. Eles inclusive me convidaram para trabalhar com eles (mas eu ganhava mais como barman). O Andy é gente finíssima, mas completamente diferente do que eu esperava. Quem imagina que um gótico glamuroso iria ficar me perguntando sobre "futebol"?

    2HB (72) – Roxy Music (Inglaterra)
    Brian Eno é foda. Ainda mais quando ele contaminava o romantismo kitsch do Brian Ferry. Essa música, do primeiro Roxy Music, é uma mistura de glam, ambient e jazz. No "solo" de teclados desalinhados, entra um sax com um verso de "As Times Goes By". A letra inclusive faz referência ao filme "Casablanca". Um luxo só.

    Conclusões? Músicas de mulheres sofredoras e rapazes afetados.


    02/11/2004

    "Olhou pela janela e só viu o inverno. A cidade congelada, o céu tão azul, o mar parado lá longe, esperando uma chance. Não escutava som algum, nem via movimento. Era uma pintura de seu cenário, sua natureza morta, na qual ele ainda vivia. Esticava o pescoço, debruçava-se na janela, respirava o ar gelado. A felicidade caía lá embaixo e se espatifava como garrafa de vidro, de gelo. Mesmo assim, continuava olhando. Sentia-se especial por poder observar algo tão exclusivo. Observava um mundo secreto, suspenso, escondido de todos os outros homeotérmicos."

    (Trecho de "Feriado de Mim Mesmo" - meu terceiro livro que sai em março, pela Editora Planeta)

    NESTE SÁBADO!