BATATINHA QUANDO NASCE
"Quando escrevemos versos aos vinte anos, é porque temos vinte anos; quando os escrevemos aos sessenta é porque somos poetas."
Hum, não sou muito de citações, mas achei essa – de Alain Borer - numa edição bilíngüe de Rimbaud e me pareceu bem oportuna...
Também não sou de poesia. Gosto de histórias, de criar personagens, mas é claro que já tive vinte anos e já fiz das minhas...
Navegando pela net, encontrei algumas. Acho todas bonitinhas, todas rimadinhas – se não consigo fugir das rimas nem na prosa...(ALIÁS, o Joca Terron me disse uma vez que odiava as rimas de "A Morte Sem Nome")
A primeira que encontrei foi uma que fiz para um site da Mariana D. Bandarra, de Porto Alegre. Ela me pediu um poema sobre o nariz (na época eu devo ter entendido que era sobre a cocaína). Saiu isso:
Fossa Nasal
O que m’escapa por entre os dedos
penetra-me pelo nariz,
inspira-me gozo e medo,
me forçando a continuar e insistir.
E o qu’eu fiz? É o que sempre faço.
O que faço é o que sempre me faz.
Reciclando entre beijos e abraços
a poesia que o papel não tem.
E a poesia que o papel não traz,
é fluido no meu nariz,
Se me ajuda como respiração,
se invade minha circulação,
se domina a minha razão,
tampouco me faz feliz.
Teve também uma que o (videomaker) Marcelo Garcia pediu para mim em Londres, sobre os estranhamentos com a língua e a cultura estrangeira. Parece que ele fez um vídeo em cima disso, mas eu não cheguei a ver. Aí vai a "poesia":
Vaca Amarela
Abro a boca e fecho os olhos
Falo alto pra engolir
Grito forte e sem sentido
Sem perigo de errar
E pra quem quiser ouvir,
já não basta escutar
abra a porta e baixe a guarda
venda os olhos e tire as calças
Abro a boca e fecho os olhos
Sugo a língua do estrangeiro
Como toda a bossa dela
Como quem fala primeiro
E pra meio entendedor
Me entrego por inteiro
Para quem não entendeu
Calaboca já morreu.
Tem também uma que eu tinha mandado pro site do Habacuque (Ludov), mas não encontrei mais. Lembro só do primeiro verso, e era bonitinho:
"A pena é mais forte do que a espada,
mas é a espada que está contra mim
É a espada que escapa aos meus dedos
Com pena de escreverem assim."
E o mais bonitinho, que escrevi em dor-de-cotovelo, era assim:
Morra, Plebeu!
Que nosso amor acabe de uma forma diferente.
Devagar, derrapando, de repente.
Mas que nosso amor não termine, não acabe simplesmente.
Que nosso amor morra atropelado por um trem,
Espancado, estendido, sem ninguém.
Mas que nosso amor não morra, não termine também.
E que ele me deixe, que ele parta, que ele vire uma nova esquina.
Em Madri, em Marrocos, n’Argentina.
Mas que nosso amor não seja apenas mais um amor que termina.
Ahhh, lendo esses "tesouros da minha juventude", eu só posso lamentar meu cinismo e minha frieza atuais. Haha!