DUZENTOS DEDOS PRA TOCAR
Ah, fui ver a "Má Educação" do Almodovar. Não adianta, não consigo gostar dele. Sempre me parece uma novelona, um ritmo televisivo, uma minissérie de 20 capítulos condensada em duas horas. Esse até que tem algumas coisas interessantes, mas sei lá. Fora que não entendo como aquele anãozinho cucaracha do Gael virou simbol sexual. Sou mais o Nelson Ned, ahahha.
Bem, então continuo com as listas. Dessa vez dos clássicos. Não é minha especialidade, mas nada é minha especialidade (Hum, talvez eu devesse ter investido mesmo na publicidade, hahaha, onde se sabe de tudo e não se sabe de nada.)
Après Une Lecture du Dante – Franz Liszt (1811-1886)
Ahhhhh, Liszt é foda, fodíssimo. Foi por ele que eu resolvi estudar piano clássico – e por ele também que eu desisti. Ele tem todo aquele exagero, aquele virtuosismo do romantismo que eu adoro (e por isso ele foi muito criticado. Diziam que suas composições eram apenas uma demonstração de técnica, sem criatividade ou sentimento). Ele também é uma figura interessantíssima, lindíssima, cheias de demônios. Li três biografias dele. A melhor é a "Rapsódia Húngara", do Zsolt Harsányi, uma biografia romanceada que está mais do que esgotada e não é fácil achar em sebos. Bem, voltando à música, essa é uma das minhas favoritas, que ele compôs baseado na "Divina Comédia" de Dante. Tenho diversas execuções, inclusive com o Arnaldo Cohen, mas minha favorita é com o inglês Stephen Hough.
Dance Macabre – Camille Saint-Saëns (1835-1921)
Hum, essa eu ouvia desde pequenininho, num disco que herdei do meu pai. É uma coisa tri-gótica, uma história de caveiras tocando violino no cemitério, com doze badaladas e tudo mais. É perfeita para apresentar música clássica às crianças - crianças góticas, claro. O Liszt também fez uma transcrição dela para o piano, em que ele exagera os temas e os tornam bem mais complicados, ahaha.
Tzigane – Maurice Ravel (1875-1937)
Depois do Liszt, Ravel é meu compositor erudito favorito. Tem o "Bolero", "A Valsa’ e esse "Tzigane", outro ato de virtuosismo. Peça complicadíssima para piano e violino, baseada em músicas ciganas. Também tem um toque gótico – porque essas músicas clássicas pastorais e alegrinhas não são a minha.
Nocturne 10 – Frédéric Chopin (1810-1849)
Eu tirei uma foto em Paris no túmulo do Chopin com flores na boca. Não simpatizo muito com ele não, por causa da competição com meu Liszt, mas ele tem umas coisas bonitas, quando fica mais depressivo, como os "Noturnos". Este é cheio de codas, cria uma sensação meio esquisita, meio sonambulesca... Pena que é curtinho.
Piano Concerto No. 3 – Sergei Rachmaninov (1873-1943)
Dizem que é uma das obras de mais difícil execução para pianistas. Como eu mal toco o "bife", não posso avaliar. Essa eu conheci naquele filme "Shine", que eu não gosto muito, mas tá valendo pelas execuções. JAMAIS comprem a trilha sonora, que é cheia de heresias, picotando as músicas e colocando trechos sem sentido. O melhor é comprar um disco do próprio David Helfgott, como o que eu tenho em que ele toca esse concerto.
Cravo Bem Temperado – Johann Sebastian Bach (1685-1750)
Esse é um salto lá pra trás, no barroco, um conjunto de peças para cravo que também são um ato extremo de virtuosismo. Fica meio cansativo de escutar depois de um tempo; o cravo solo ganha um tom de videogame 8-bits, hahaha, mas escutando as peças isoladas, tentando seguir os dedos de Bach no teclado, você tem um exercício audio-mental maravilhoso. Foi assim que eu tive meu primeiro ataque epilético.
Sinfonia no 5 – Gustav Mahler (1860-1911)
Bom, acho que essa só tem sentido depois de se assistir o filme "Morte em Veneza" do Visconti. Na verdade, o filme só usa o quarto movimento dessa sinfonia (e exaustivamente). A sinfonia ganha outra dimensão escutada inteira. Mesmo assim, escutando essa música é impossível não se lembrar de Tadzio... e de quando eu morri na praia.
Dança das Horas de "La Gioconda"– Amilcare Ponchielli (1834-1886)
Ah, essa eu peguei daquele desenho "Fantasia", do Walt Disney. Tinha umas coisas bem kitsch, como hipopótamos dançando balé com avestruzes. Cruzes! Ahaha. Mas a música é bonita, tem toda uma dramaticidade meio kitsch. Aliás, se formos ser rigorosos, toda música clássica tem algo de kitsch, não? Algo melodramático, exagerado, flamboyant.
24 Caprichos – Nicolo Paganini (1782-1840)
Esse cara tinha pacto com o demo! Paganini era um romântico maldito que levantou muitos boatos na época sobre ter vendido a alma para o diabo para dominar o violino. Esses "caprichos" dele são exercícios de técnica (como os de Bach no cravo). Muitas vezes me lembram a risada do Pica-pau, haha (tenho certeza de que o Walter Lantz tirou de lá). E como eu gosto dessas coisas excessivas, me delicio. Além do mais, Liszt pagava pau pra ele.
O Lago dos Cisnes – Pjotr Ilyitch Tchaikovsky (1840-1893)
Tchaikovsky é um desses compositores mais "alegrinhos", né? Que também teve sua música em desenhos animadinhos da Disney e tudo mais. O "Lago dos Cisnes" também não é especialmente exagerado ou "mórbido", mas tem um primeiro movimento que acabou sendo associado aos filmes de terror da década de 30, como o "Drácula" do Bela Lugosi. Teve também a história de ter sido criado como um ballet, mas era considerado complicado demais para se dançar. Por essas e outras, entra no meu top 10.
E não vamos esquecer que na próxima terça (23) eu vou estar num debate no Itaú Cultural, às 17 horas. Para ver a programação completa do evento, clique no:
http://www.itaucultural.org.br/index.cfm?cd_pagina=2398