06/11/2004

MINHA VIDA NO GELO

Alguém conhece um bom professor de Finlandês em SP? Hum, eu podia propor essa prova numa gincana escolar...

Larguei meu curso na Milennium faz dois meses, desde que o professor Marku Lira disse que eu estava "possuído pelo demônio", tudo por uma tola discussão relativista. Eles têm um método muito estranho, pseudo-psicanalítico, com uma filosofia bem rasa e completamente anti-didática.

Para vocês terem uma idéia (e já contei essa história numa palestra), uma das primeiras frases que aprendi lá em finlandês foi: "Kateellinen ihmninem ei näe, ei halua nähda", que significa "A pessoa invejosa não vê, ela não quer ver."

Seis meses depois, fui aprender a falar "mãe" (äiti), "pai" (isä), "cachorro" (koira), etc.

No dia da minha última aula, o professor tentava explicar que o "mal" é a "ausência do bem", assim como o frio e a ausência do calor (e eu provoquei dizendo que o "feminino era a ausência do masculino", haha. E que esses conceitos de "bem" e "mal" eram relativos, etc, etc, etc). Enfim, papo de barzinho de faculdade, e por isso o "demônio estava no meu corpo".

O chato de ter largado o curso é que, infelizmente, a Milennium é a única escola que dá finlandês em SP, e é bem difícil encontrar professor particular. Também é muito difícil encontrar material – filmes, música. A maioria das bandas (boas) da Finlândia canta em inglês. O mundo praticamente conspira para você aprender inglês, mas, no finlandês, o mundo conspira contra. Estou estudando há quase dois anos, sendo que um ano e meio foi lá com o Marku Lira.

Tudo começou na Finlândia mesmo. Estive lá duas vezes em 2002. Primeiro passei só cinco dias, num mochilão pela Escandinávia. Depois, quando estava saindo de Londres e quase voltando pro Brasil, passei mais 15 dias. Fiquei apaixonado pelo país: melancólico-bucólico, com pessoas tão receptivas, tão bonitas (apesar de que os suecos em geral são mais bonitos, mas são os menos simpáticos da Escandinávia).

Na primeira vez que eu fui, peguei uma ferry em Estocolmo para Helsinque (capital da Finlândia). Achei que a viagem ia demorar algumas horas, como a ferry entre Alemanha e Dinamarca. Mas tive uma ótima surpresa. Os barcos que fazem esse trajeto são navios enormes, com boates, restaurantes, cassinos, lojas. E a passagem não é cara não (para quem já está lá...). Acho que era uns 30 Euros. Parece que a distância é curta, mas eles fazem a ferry navegar mais devagar para o povo passar a noite gastando no navio (você sai às quatro da tarde de Estocolmo e chega a Helsinque na manhã do dia seguinte). É "tax-free" para bebidas, e muitos adolescentes pegam a ferry como uma balada, só para farrear, não como meio de transporte. Tem cabines para dormir lá também, mas eu não sabia e só tinha comprado o ingresso. Felizmente um professor muito receptivo me ofereceu a cama extra que sobrava em sua cabine...

Nessa primeira vez que eu fui era final de inverno. E não era tão frio assim (por volta de 0oC – chega a fazer menos 30oC na capital). Quando eu voltei no verão, de avião, a cidade estava ainda mais vibrante e divertida. Tão vibrante que todos os albergues estavam lotados, e eu tive de dormir uma noite no cemitério. Mas no dia seguinte conheci um casalzinho tri-querido que me levou para a casa deles...

Então, então, é claro que fiquei cheio de histórias sobre a Finlândia. Porém mais importante do que o que aconteceu (que pode ser contado num blog como esse) é o clima que eu senti lá. Aquela realidade polar, tão distante, tão receptiva, mas ao mesmo tempo desconfiada. Um sofrimento carinhoso, que eu queria vivenciar.

E é por isso que estudo Finlandês, e quero, num futuro não muito distante, passar alguns meses lá para escrever um romance. Entenderam agora? Moi moi!

NESTE SÁBADO!