14/04/2020

NOTAS SOBRE O APOCALIPSE

Ilustração de Alexandre Matos para meu "O Prédio, o Tédio e o Menino Cego."



Será que daqui a trinta anos lembraremos dessa época dizendo: “Não sabe como foi louco quando tivemos de ficar de quarentena em casa”? Ou será: “Não sabe como era bom quando a humanidade podia andar em bando”? Será que teremos humanidade daqui a trinta anos?

Estou entrando em inferno astral, embora não acredite nisso. Estou entrando em inferno astral sem Fé no Inferno. O livro foi adiado, talvez para maio, talvez para junho... Certamente não será para o meu aniversário (no 12 de maio – já tínhamos agendado o evento de lançamento para sábado dia 9).

Me dá mais desânimo do que ansiedade. Não dá para ficar ansioso com um lançamento nesta época (com aniversário nesta idade). E afinal, é o décimo segundo... tantas vezes tive grandes expectativas que não deram em nada. Ou deram em pouca coisa. Deram. Cada livro foi um pequeno degrau, que manteve minha carreira fluindo. (Enquanto tanta gente lança dois, três livros, e sorve pelo resto da vida como escritor...)

O mais prazeroso para mim sempre foi o ato, escrever, criar, quando engreno num livro novo – esse é o momento que mais quero compartilhar, quero que as pessoas vejam, leiam – mas desse momento até o livro ser lido levam meses, anos. Daí o pique já esfriou, o livro já ficou distante, já é menos meu, já tenho outras coisas a dizer...

Só que agora não tenho nada a dizer.

Sempre invejei os artistas que trabalham “ao vivo”, que têm respostas imediatas do público: os músicos, os atores de teatro. Escritor não recebe aplauso.

(Ato falho ou não, tinha escrito "sempre invejei os artistas que TRABALHAVAM ao vivo" - será que agora ao vivo só em live de Instagram?)

Eu devia era começar outro romance – não é isso que todos os escritores estão fazendo? Ou fazer uma novelinha, um conto, um microconto, um post de Facebook. Bem, ao menos tenho mantido aqui atualizado.

NESTE SÁBADO!