Foto de Sally Mann. |
Tenho me surpreendido com a vontade dos meus amigos em viver.
Achei que meus amigos eram todos trevoso suicidas.
Mas agora eles, que não precisam pegar transporte público, que podem pedir delivery, estão borrifando tudo com álcool gel, pegando com a ponta dos dedos, mostrando uma generosidade em não transmitir ao próximo que eles próprios não tinham na hora do sexo...
Estamos todos trancados. Alguns mais paranoicos do que outros.
Também é um momento único, porque quem fica mais confortável dentro de casa (porque tem casa grande, porque está acostumado a ficar em casa – como eu – o manco sedentário ou quem está numa casa confortável com família) pode se considerar mais altruísta e pregar #FiqueEmCasa para o autônomo que vive em quitinete, num barraco, na frente de uma obra.
Ou para a menina da escola que vive com o pai abusador.
Minha mãe, que é senhora de idade, grupo de risco, sei que está saracuteando por aí. Minhas tentativas de interditá-la diante da família foram em vão exatamente por eu ser esse rapaz tão indoor, que não sente os efeitos do confinamento. Não sei como é difícil viver trancado. Eu mesmo não a vejo desde o Natal (por precaução, gente, desde o Natal senti que era arriscado e evitei visitá-la).
E eu mesmo tenho saído: duas, três vezes por semana, vou ao mercado, corro pela rua – tenho de comprar verduras para a Gaia, afinal. Dia desses vi na Globonews que a população tinha de limitar a saída: “Sair no máximo UMA VEZ AO DIA”! Porra, uma vez ao dia?! Vou fazer toda minha cota neste fim de semana.
Nessas parcas saídas pelo bairro, encontrei algumas pessoas – envergonhado, “só vou logo ali”- inclusive meu primo, meu tio “Naza” (o apelido de rico dos “Nazarian”), que também é grupo de risco, e saracuteava como minha mãe. Porém se há um efeito bom do covid que eu espero que fique é esse de evitar beijinhos e abraços. Podemos agora todos nos cumprimentarmos com tchauzinho, até o resto da vida, não?
Mas agora eles, que não precisam pegar transporte público, que podem pedir delivery, estão borrifando tudo com álcool gel, pegando com a ponta dos dedos, mostrando uma generosidade em não transmitir ao próximo que eles próprios não tinham na hora do sexo...
Estamos todos trancados. Alguns mais paranoicos do que outros.
Também é um momento único, porque quem fica mais confortável dentro de casa (porque tem casa grande, porque está acostumado a ficar em casa – como eu – o manco sedentário ou quem está numa casa confortável com família) pode se considerar mais altruísta e pregar #FiqueEmCasa para o autônomo que vive em quitinete, num barraco, na frente de uma obra.
Ou para a menina da escola que vive com o pai abusador.
Minha mãe, que é senhora de idade, grupo de risco, sei que está saracuteando por aí. Minhas tentativas de interditá-la diante da família foram em vão exatamente por eu ser esse rapaz tão indoor, que não sente os efeitos do confinamento. Não sei como é difícil viver trancado. Eu mesmo não a vejo desde o Natal (por precaução, gente, desde o Natal senti que era arriscado e evitei visitá-la).
E eu mesmo tenho saído: duas, três vezes por semana, vou ao mercado, corro pela rua – tenho de comprar verduras para a Gaia, afinal. Dia desses vi na Globonews que a população tinha de limitar a saída: “Sair no máximo UMA VEZ AO DIA”! Porra, uma vez ao dia?! Vou fazer toda minha cota neste fim de semana.
Nessas parcas saídas pelo bairro, encontrei algumas pessoas – envergonhado, “só vou logo ali”- inclusive meu primo, meu tio “Naza” (o apelido de rico dos “Nazarian”), que também é grupo de risco, e saracuteava como minha mãe. Porém se há um efeito bom do covid que eu espero que fique é esse de evitar beijinhos e abraços. Podemos agora todos nos cumprimentarmos com tchauzinho, até o resto da vida, não?