12/12/2022

MAIS UM ANO HORRÍVEL

Com Manal, leitora querida, na Bolívia. 


Não deu para ser feliz em 2022.

Foi  um ano muito difícil, de eterna luta, atrás de trabalho, de reconhecimento, de sanidade. Os trabalhos, que haviam se mantido estáveis durante a pandemia, desde o fim do ano passado começaram a miar, miar, e no começo do ano pararam de vez. Chegou ao ponto que eu não tinha mais pro aluguel, não tinha mais pros boletos, não tinha nem mais pra comer.

Tive que pedir help pelas redes, e a tristeza da situação só foi balanceada pela generosidade de alguns amigos, de muitos leitores e desconhecidos. Gente que me indicou para trabalhos, que me mandou ovo de páscoa, até pix recebi. No meio dessa crise, pifou minha geladeira, e uma querida surgiu do nada e me DOOU uma geladeira. Sem a bondade de estranhos eu não teria conseguido sobreviver...

(Tem gente que diz que eu só reclamo. Queria eu poder ser daqueles que é só gratiluz, que só compartilha sucesso e riqueza; quando eu posso, eu compartilho, mas tem sido raro... Por mais que seja constrangedor expor fraquezas e penúrias, se eu não exponho, nada acontece. Se eu não peço ajuda pelas redes, não arrumo trabalho, não tenho o que comer. Vivo sozinho, trabalho sozinho, todas as minhas relações são meio distantes. Meu único jeito de pedir ajuda é esse.. Só assim é que lembram que eu existo.)

Quando expus as dificuldades no começo do ano, muita, muita gente sugeriu que eu desse oficinas de escrita. Sempre tenho resistência - porque acho que é ganhar em cima do sonho do outro, com uma promessa que não leva muito a nada. Mas vamos lá, os boletos não param, então fui de oficina. 

Organizei nos moldes em que já dei, uma ou outra vez, não uma oficina de escrita, mas sobre escrever-publicar-divulgar, como funciona o meio literário e a carreira do escritor. (Muita gente me escreve com dúvidas sobre isso, mas na hora de PAGAR pelo conteúdo...)

A oficina que não foi. 

Criei dentro da plataforma da Balada Literária, do querido Marcelino Freire, e NINGUÉM se inscreveu. Tá certo que estava um pouco caro, R$ 600 pila por uma oficina não-presencial, mas deixou claro que oficina não é a solução. Alguns meses depois, em agosto, tentei de novo de forma independente, cobrando a metade do preço - assinei Zoom, patrocinei post, enchi o saco de divulgar - e consegui 8 alunos. Acabou sendo bem bacana, 4 aulas de 2 horas, todos os sábados. que sempre se estenderam além. Mas arrumar esses 8 alunos já foi tão sofrido, que se eu fizesse outra creio que ninguém mais viria...

Grandes discussões com alunos lindos. 

Tirando essas coisas que eu tive de inventar, quase nada. Dizem que os eventos literários voltaram com força, mas talvez meu momento já tenha passado. Não colhi nada de frutos das finais dos prêmios ano passado. Fiz DOIS eventos e só. Ao menos teve uns cachezinhos...

O Oceanos ao menos promoveu uns debates online (com cachê) e me chamou pro júri deste ano. O Jabuti cagou pra mim. 

O primeiro foi em maio, no Pantanal, a grande viagem do ano. Tive uma mesa no Festival América do Sul, em Corumbá (MS), que estava lotada e inesquecível. Consegui ainda dar um pulo (literalmente) na Bolívia, logo ao lado, atravessando a fronteira a pé, para almoçar carne de jacaré. Foram três horas fora do Brasil, mas posso dizer que fiz uma viagem internacional em 2022.

Ótima mesa no Pantanal, com Carla Maliandi e Márcia Medeiros, medidos por Wellington Furtado Ramos.

Em setembro, teve a segunda viagem. Uma turnezinha por três cidades do Paraná, pelo Sesc, que gerou ótimos encontros e papos. E foi só. Não viajei mais pra nada, férias, praia, nada. Nem na virada do ano, nem no meu aniversário - na virada do ano eu dormi e no meu aniversário não fiz absolutamente nada.

Ótimos encontros no Paraná. 

Todo esse tédio, toda essa depressão ajudaram na escrita, sim. Se passei quase dois anos sem escrever, em 2022 fluiu toda minha criatividade represada. (Mas é aquela coisa, as tristezas e decepções alimentam a escrita... que não alimenta nada... ou só alimenta mais tristezas e decepções...)

Sem ter mais o que fazer, nos primeiros meses do ano comecei e terminei uma novelinha, que foi vendida para a Companhia das Letras e deve sair no primeiro semestre do ano que vem. Tem uma estrutura bem diferente de tudo o que já fiz - estruturada só em diálogos - e é um retrato dessa geração atual, militante, não-binária, que sabe contra o que lutar, mas não o que defender. Será mais um grande fracasso... ou um fracasso mediano. 

Falando nisso, mês passado tirei do armário um infanto-juvenil que havia sido engavetado, "O Príncipe Precoce". Com a dificuldade de encontrar uma nova editora para ele, resolvi experimentar uma publicação independente, em ebook e impressão sob demanda, pela Amazon, com a parceria do irmãozinho Alexandre Matos nas ilustrações. NINGUEM comprou (bem, poucas dezenas, mas teve centenas de joinhas nas minhas redes). Ainda tá lá para quem quiser, baratíssimo, de repente uma hora engrena. Por enquanto, considero (mais) uma experiência fracassada. 


Em ebook aqui: https://www.amazon.com.br/Pr%C3%ADncipe-Precoce-Alexandre-Matos/dp/B0BLGDR995

Daí veio OUTRO livro, outro romance, que comecei a escrever mês passado. (Porra, entreguei romance pra Companhia em março, comecei a escrever outro em novembro - não tem nada de outro mundo; pra mim, escritor é quem ESCREVE.) Mas esse ainda deve levar um tempo. É um romance bem baseado na minha infância nos anos 80, talvez o mais próximo que eu já tenha chegado da autoficção. Por enquanto ainda está meio sem estrutura, os capítulos surgindo como lembranças, em ordens aleatórias, mas já engrenei na escrita diária, então acho que dá um livro, a médio prazo. 

De traduções, este ano fiz mais versões para o inglês, que pagam melhor (ou deveriam pagar), mas levam bem mais tempo pra mim. E só vieram coisas pequenas, infantojuvenis, trabalhos de 500, 600 reais. Fiz bastante tradução pra dublagem - que foi algo novo, indicação de um colega querido, que me deu essa puta força quando eu mais precisava. Mas também longe de me salvar, mais trabalhinhos de 500 pila. Tem vindo tudo assim, picado, que não cobre nem meu aluguel. A gente tem 20 anos de carreira, fala 5 línguas, se especializa, mas só surge trabalho de 500 pila. Estudar pra quê, né? Pra ser Uber!

E estamos aqui falando de trabalho, de falta de trabalho, de falta de dinheiro, mas e na vida pessoal? O que meu ano deu? (com trocadalhos)

Bom, eu nunca tenho muita vida pessoal, né? Se não acontece muita coisa na vida profissional, na vida pessoal menos ainda. 

Eu estava namorando, até dois meses atrás, mas tivemos que acabar. Fomos nos distanciando, nos víamos cada vez menos, e eu não reconhecia mais a pessoa com quem eu estava - e não foi só pela transição de gênero. Às vezes parece que a gente conhece mais a pessoa no começo do namoro, porque projeta tantas coisas, tem uma visão equivocada. Com o tempo, com a intimidade, a pessoa vai se tornando mais estranha, mais diferente, até você achar que não tem mais nada a ver com você...

Mas foi um término tranquilo, sem dramas. Ela é uma ótima pessoa e eu só quero que dê tudo certo, estou aqui para o que ela precisar. 

No momento, não penso em namorar nunca, nunca mais. Estou cansado, desesperançado, pensando em morrer e me aposentar...


Pequeno se foi. 

Não tem mais namoro e não tem mais coelho. Gaia morreu no final do ano passado e ainda faz falta. No começo do ano veio o Pequeno, coelho do Ayrton Montarroyos, que perguntou se eu não podia cuidar por uns meses. Foram 9 meses, um hóspede muito bonzinho, educado, que não deu trabalho nenhum, mas também não deu amor. Totalmente ao contrário da Gaia (e da Asda), ficava o dia inteiro quietinho, na dele, sem interagir. Ayrton enfim levou embora, há poucas semanas e não penso em pegar mais bicho nenhum. Mal consigo cuidar de mim...

E as perspectivas para 2023... São as piores. Sei que muita gente apostava na eleição do Lula, mas eu na verdade fui de Bolsonaro... MENTIRAAAAA (tô querendo me diplomar em auto sabotagem). Acho que ano que vem vai ser MAIS difícil, mais penoso. Lula pegou um país totalmente quebrado. Derrotado, Bolsonaro jogou um fodasse total, cagou na economia, mijou na educação (me pergunto em que condições Lula vai encontrar o Palácio da Alvorada). Não vai ser fácil colocar tudo nos eixos e acho que não dá para esperar felicidade em 2023. 

Em 2025... quem sabe. Mas eu não devo chegar até lá...


22/11/2022

APOCALIPSE FUTEBOLÍSTICO

 


Acho curioso criticarem, boicotarem a Copa atual pela homofobia, misoginia, exploração. Futebol não foi sempre isso?

Fui daquelas crianças viadas com horror. E a total falta de interesse, de talento com a bola minaram muitas das minhas relações sociais durante toda a infância, até meados da adolescência. “Para que time você torce”, é das primeiras perguntas que um menino escuta ao entrar numa nova turma. Geralmente eu dizia “Corinthians”, só pela cor (porque sempre fui um trevosinho); levou muitos anos para eu conseguir admitir: “Não gosto de futebol.”

O fato de ser trevosinho, por sinal, é o que me salvava de ser totalmente excluído, que me denotava certa masculinidade: gostar de filmes de terror, HQs, videogame, ainda era considerado um traço masculino. E talvez eu até pudesse ter sido mais popular, ter tido mais amigos, se não fosse pela aula de educação física...

Na educação física ficava clara minha inadequação: ninguém me queria. A clássica cena de dois meninos (os “dois melhores”) escolhendo seus times e eu sobrando com os mancos, com os vesgos, com os gordos. Mal conseguia tocar na bola, meio que eu fugia, e nunca consegui marcar um gol na vida. (Alguns diriam que nem na literatura...)

(Até pouco tempo... até agora, acho, eu poderia ter dito que na educação física eu só era bom em queimada. Mas fico pensando se era mesmo um talento em fugir da bola, ou se os meninos nem se importavam em mirar primeiro em mim. Eu só era um dos últimos que sobrava.)

Eu tinha um primo rico que era dos meus melhores amigos. Quando estávamos só nós dois, a gente se divertia com o Nintendo, com o He-man, Comandos em Ação. Quando tinha outros amigos – e ele era cheio de amigos – ele ia jogar futebol no campinho da própria casa. Eu continuava na TV, até zerar o “Simon’s Quest.”

Foi uma falha na minha criação. Na minha casa, nunca se teve o menor interesse por futebol, nem os homens. Era dado um interesse exagerado pelas artes. (E deu no que deu...) Futebol só se assistia em Copa do mundo, o que pra mim era um martírio, não fazia sentido. Mesmo depois de entender minha sexualidade, a hipermasculinidade dos jogadores nunca me foi um atrativo. Nesse quesito, acho bem mais interessante as Olimpíadas, onde há de fato celebração de diversidade.

(Nota: Essa ilustração foi outra feita pelo meu irmãozinho Alexandre Matos, para um texto de jornal antigo, mais ou menos com esse mesmo tema, que o jornal não quis publicar...)

07/11/2022

O PRÍNCIPE PRECOCE

 

TEMOS LIVRO NOVO, hoje! Já!

(bem, é uma autopublicação infantojuvenil, não se decepcione...)

Depois de "A Festa do Dragão Morto", a editora me pediu outro infantojuvenil, comprou meu Príncipe e estava tudo pronto para sair, chegou até a ser revisado... 

Mas mudanças internas inviabilizaram o livro - a editora achou muito violento, eu preferi manter como estava e minha antiga agente não conseguiu fazer nada. Ouvi de muitos sobre essa dificuldade de livros que não sejam “adotáveis” pelos padrões atuais, que não sigam a cartilha infantiloide da literatura infantojuvenil, para vender para o governo, e decidi por uma publicação independente.

Então, sim, O PRÍNCIPE PRECOCE já pode ser comprado HOJE, em ebook na Amazon, aqui:  

https://www.amazon.com.br/dp/B0BLHR8B1X


Vai ter impresso? JÁ TEM! A Amazon oferece a opção de impressão por demanda, mas estranhamente só nas lojas de outros territórios (EUA, Europa, Ásia), então para comprar o impresso é preciso pedir nas Amazons de fora, como aqui: 

https://www.amazon.com/PR%C3%8DNCIPE-PRECOCE-Portuguese-Santiago-Nazarian-ebook/dp/B0BLHR8B1X/ref=sr_1_1?crid=3U8T5QNDDYC8D&keywords=O+Pr%C3%ADncipe+Precoce&qid=1667650627&sprefix=o+pr%C3%ADncipe+%2Caps%2C1311&sr=8-1

Ainda não sei como fica a impressão. Quero juntar uma quantidade para pedir - fica uma grana de frete, demora. Esse esquema inviabiliza que eu possa vender o impresso autografado, pelo menos por enquanto, mas assim que eu souber como fica o impresso eu divulgo. (Se alguém de fora comprar, me mostra?). De repente mais pra frente conseguimos uma edição convencional também (mas isso depende do sucesso do ebook). 

Foi lindamente ilustrado pelo meu ilustrador favorito, Alexandre Matos, (que já ilustrou livros meus, do Noll e muito mais) e custa só R$10 em ebook, U$10 no impresso (e valores similares em euros e tais).




Vai ser uma nova experiência para mim, uma publicação independente, que de repente dá outros frutos. (Mas romance novo sai pela Companhia, ano que vem.) Quem já tiver publicado assim, pela KDP, e tiver dicas e conselhos, vou adorar.

Conto com a força de vocês, como sempre: comprem, divulguem, avaliem, que no espírito eu sempre fui um autor independente, e agora só posso mesmo contar com o boca-a-boca. 

Talvez alguns reconheçam a história - é uma velha fábula minha - que foi totalmente reescrita, retrabalhada, com várias surpresinhas... 

Sinopse:

O Príncipe Precoce sempre fez tudo muito cedo na vida - nasceu de sete meses, foi alfabetizado aos três anos e aos dez já era o melhor cavaleiro do reino. Por isso, no seu aniversário de quinze anos, não foi surpresa quando ganhou de seu pai uma espada mágica, para invadir o reino inimigo e conquistar a Princesa Pretérita. Mas para chegar lá, ele terá de enfrentar muitos desafios, soldados, ogros e seres mágicos. Em sua primeira publicação independente pela KDP, o premiado autor Santiago Nazarian narra um conto de fadas divertido, cínico e sangrento - uma alegoria do despertar da adolescência com uma pegada de musical da Disney. Com belas ilustrações de Alexandre Matos, O Príncipe Precoce é uma aventura para (quase) todas as idades...




ATUALIZAÇÃO: Para quem é de fora, parece que a versão impressa vale. Um amigo em Portugal recebeu em três dias, me mandou fotos e vídeos. A capa ficou linda, o papel e a impressão também são bacanas (mas as ilustrações internas perdem um pouco a qualidade). Pena que para pedir para o Brasil fique tão caro e demore tanto, mas é uma opção. (Eu ainda não tenho em mãos...)

O livro físico, impresso sob demanda. 



#literaturajuvenil #literaturainfantojuvenil #contosdefadas #kdp

28/10/2022

OS MELHORES FILMES DE TERROR DE 2022

"The Sadness" (do final de 2021)

Já há uns bons anos, sempre a tempo do Halloween, faço minha lista de melhores filmes de terror do ano (vistos pós-halloween passado para cá). Assim, você pode maratonar...

Achei um ano especialmente bom para o gênero (pelo menos para isso...), com o streaming a todo vapor, lançando pérolas (literalmente). Acho que é um reflexo da pandemia: não só forneceu inspiração para se criar dentro do gênero, como impulsionou muito os serviços de streaming, e o terror se beneficia disso, porque é um gênero que não depende de grandes nomes, grandes verbas, pode fisgar um público só pelo tema, pelo argumento.

Nesse contexto, as grandes franquias foram as que mais decepcionaram: Halloween, Hellraiser, lançaram bombas, com roteiros estúpidos (a série do Chucky eu nem perdi tempo em continuar acompanhando). Mas novas franquias se fortaleceram.

O medo da velhice, o machismo, a misoginia são temas em alta, que geraram produções fodonas. Infelizmente, não teve NENHUM filme nacional - alguns anos atrás eu conseguia sempre colocar um ou dois. Mas isso só confirma minha triste teoria de que terror não vinga por aqui...

Então vamos à lista: 


SPEAK NO EVIL

Se eu tivesse de escolher "O" melhor do ano, seria esse, filme de terror cult, tenso do começo ao fim, sem nada de óbvio. Uma família dinamarquesa vai passar o fim de semana na casa de uma família holandesa. Eles estranham os modos dos anfitriões, sentem-se cada vez mais desconfortáveis, e as agressões vão escalando a níveis absurdos. Tem muito da passividade dos escandinavos, ecos de "Funny Games" (e até de "Bacurau"), e tem de ser lido de forma mais alegórica do que realista. INCRÍVEL.

X (e PEARL)


Em "X", um grupo de jovens aluga uma casa de fazenda para gravar um filme pornô, e é atacado pelos velhinhos proprietários. Já "Pearl" é uma prequel, conta a história de juventude da velhinha assassina (interpretada pela Mia Goth nos dois filmes), uma espécie de paródia de filmes de época (da primeira guerra), também tem muito de Coringa (do Joaquin Phoenix), na construção do personagem e da psicopatia. Os dois foram lançados este ano, produções da cultuada A24 (de "Midsommar" e "Hereditário") e gosto dos dois igualmente. Então valem como um da lista.

THE SADNESS

Trazer algo novo ao desgastado tema da epidemia zumbi não é fácil... O taiwanês "The Sadness" consegue não apenas pela ultra violência, mas também pela forte carga sexual de zumbis depravados, que querem "comer" suas vítimas de todas as formas possíveis. ("Lar dos Esquecidos", filme da Netflix, também tem um twist interessante nesse subgênero, com velhinhos de um asilo enlouquecendo; não entra no meu top 10, mas entraria num top 20). 

TERRIFIER 2











A baixíssima produção de Damien Leone conseguiu consagrar o palhaço Art como o maior ícone do terror em atividade - no nível de Freddy, Jason, Michael Myers. Esse segundo filme pesa tanto no gore que entra no terreno do absurdo, do pesadelo (para mim, a maior qualidade que um filme de terror precisa ter). Longe de ser perfeito (é longo demaaaais, tem um roteiro meio precário) é com certeza o filme que eu mais esperava, e não me decepcionou. 

BARBARIAN

Ao chegar no endereço de um Airbnb, uma mulher descobre que tem companhia para a noite... O filme mescla diversos gêneros - thriller, comédia romântica, zumbis - e tem viradas surpreendentes. Não é ótimo, mas é tenso e muito divertido. (Mini spoiler: tem uma cópia descarada da Niña Mederos, do Rec). 

THE HATCHING







Finlandês estranhíssimo (se isso não é pleonasmo), sobre uma menina que vive numa família perfeita-margarina, encontra um ovo no jardim e resolve "chocar" uma estranha criatura. Daqueles terrores de alegoria da puberdade.

MEN

Após o suicídio do namorado, uma mulher busca refúgio numa casa no interior. A premissa parece bem manjada, mas é aproveitada para discutir a passividade agressiva do machismo. Tem cenas memoráveis (como a conversa com o padre) e um ato final pra lá de bizarro.

THE BLACK PHONE

Talvez a maior produção desta minha lista, acompanha uma cidade do final dos anos 70, atormentada por um sequestrador de meninos. É baseado num conto de Joe Hill, filho do Stephen King, e parece um suco de King ("It", "Stand by Me", "O Telefone do Sr. Harrigan"...). Tem também muito do diretor, Scott Derrickson (dos ótimos "Sinister" e "O Exorcismo de Emily Rose"), com as crianças fantasmas, a máscara do vilão, os atores... É bacana, mas temos um belo exemplo de um filme limitado por seu grande alcance - não pôde ousar na questão da violência e muito menos na questão sexual. 

PREY

Em termos de velhas franquias, a maior surpresa foi esse novo Predador, pelo qual eu não dava mais nada. Aqui a história é passada em 1719, com uma nativa comanche querendo se provar como caçadora e tendo que enfrentar o maior predador que sua tribo já viu. Lembra muito o original, tem uma fotografia linda e toca em temas muito atuais. 

FALL

Filme pequeno, minimalista, no estilo que eu amo. Para superar um trauma, duas amigas decidem escalar uma imensa torre de telefonia, mas ficam presas lá em cima, depois que as escadas desabam. O melhor filme de vertigem que já vi - despertou medos de altura que eu nem sabia que tinha. 


(Desisti de colocar os trailers. Geralmente coloco os trailers aqui, mas me deparei com vários bloqueios do Youtube e dos estúdios. Trailer não devia ser uma peça PUBLICITÁRIA, para DIVULGAÇÃO do filme? Em tese eu devia até RECEBER por colocar o trailer no meu site...)

Bom Halloween, e boa sorte a todos nós contra o palhaço genocida...


#terror2022 #besthorrormoviesof2022 #terrornacional #halloween #besthorrormovies #Lula13 


27/10/2022

NOTAS SOBRE O PRÉ-PÓS-APOCALIPSE

Minha casa está me expulsando...


Acho que muitos brasileiros tiveram essa sensação, com o resultado das eleições de 2018. A exclusão que era sentida por muitos foi oficializada, outros tiveram o primeiro choque de realidade. Não queriam gays, pretos, indígenas, esquerdistas, artistas... Votaram num presidente contra isso. Foi uma verdadeira facada – em alguns pelas costas – de famílias que até “nos aceitavam”, mas preferiam que não existíssemos...

Mas eu não ia falar disso.

Ia falar do meu apartamento, minha casa, é uma velha bolsonarista. E eu moro sozinho.

A moça do IBGE veio ontem de manhã aqui. Eu não queria recebê-la. Tava fodido tentando entregar uns trabalhos de tradução, de preparação de texto, trabalhos que exigem domínio profundo da escrita em duas línguas, e pagam “500 conto”, para estruturar textos de ricaços semianalfabetos. (A educação é uma mentira, te digo, ao menos que você estude “autoconhecimento”, “planejamento financeiro”...).

Mas enfim, veio a moça do IBGE... E depois eu li que você pode até ser multado por não receber o IBGE. Mas não foi por isso que eu a recebi.

A moça do IBGE era uma gatinha pós-púbere. Que teve de entrar sozinha no apartamento de um quarentão pós-cult, como tantos outros, talvez mais trevoso, pedir licença, pedir desculpas e perguntar quem morava aqui.

"Só eu, acho.”

Nesse momento, teve um estrondo na cozinha.

“Tem um coelho também”, eu disse, certo de que aquele barulho não viera do coelho.

Ela continuou me perguntando amenidades, fugindo do meu cabelo ensebado, se deparando com o tamanho dos meus pés descalços, e eu meio culpado por gostar de vê-la desconfortável, porque eu precisava voltar a trabalhar.

“Alguém faleceu aqui entre janeiro e julho de 2022?” (Juro que ela perguntou.)

“Se eu respondesse com honestidade, não te deixaria sair” (Juro que respondi).

Ela ainda conseguiu sorrir, constrangida: “É por causa da pandemia...” explicou. Eu me esforcei para que ela fosse embora em paz.

Depois, constatei que um vaso (meu ÚNICO vaso), havia se espatifado na área de serviço, por sorte não pegou o coelho. Daí que veio o barulho... Do vento?

De noite, enquanto eu assistia a “Barbarians”, acabou a luz. Fui dormir. Acordei de madrugada, do nada, com uma prateleira de livros chumbada à parede literalmente despencando no meu quarto.

Minha casa não quer meus livros. Minha casa não me quer aqui. Minha casa é uma velha bolsonarista e precisamos exorcizá-la. 

20/10/2022

NOTAS SOBRE O APOCALIPSE SILENCIOSO

Eu sou uma pessoa sem sonhos...

Há uns dez anos, na verdade, não tenho mais nenhum sonho na vida.

É errado viver assim? Seria eu mimado-spoilt por meus privilégios ou apenas #gratiluz pelo que já conquistei?

Ainda tenho vontades, ainda tenho prazer nas pequenas coisas, como escrever, cozinhar, ouvir música, estar em contato com a natureza, e assim sigo. Mas às vezes acho que estou “quietly quitting”, para usar uma expressão do momento. Apenas tentando sobreviver... ou morrendo aos pouquinhos.

Ou talvez as pessoas vendam uma imagem errada do que deve ser o sonho, né? Ser famoso. Ficar rico. Morar fora... Esse era um sonho, mas nos lugares em que eu sonhava morar, eu já morei. Agora talvez haja o sonho de um lugar para morrer.
 
Pode ser um sonho, sim, ter uma casinha num lugar tranquilo e viver só do que eu escrevo, das coisas que a terra adubada dá... Mas esse sonho não parece uma aposentadoria? Aposentadoria pode ser um sonho? (Bem, no país em que vivemos, parece uma utopia.) Aos 45 do primeiro tempo eu deveria ter sonhos mais grandiosos, ou tudo bem?

(Às vezes vejo aqueles programas de casas lindas no GNT, e fico pensando como eu daria conta, como cuidaria do gramado, como tiraria o pó de todas as superfícies... Ser feliz é muito trabalhoso e caro.)

Eu não tenho como sobreviver à velhice...
 
(Nem motivos.)

Às vezes tenho a impressão de que você precisa desejar muito mais do que vai obter, porque se não deseja muito, não obtém o mínimo. Para conseguir pagar as contas, você precisa querer ser rico. As coisas mínimas nunca acontecem pra mim por acaso, de surpresa; muito menos as coisas máximas...

Mas eu vivo sob uma maldição...

Quem já usou muita droga sabe que o mundo real não basta, mas geralmente quem usou drogas demais conhece um Inferno que eu não conheço. Eu desisti do paraíso, de mansinho.
 
Admiro os amigos convalescentes na luta, admiro a força e a vontade que eu não sei se teria. Se eu acordo de madrugada com dores no peito, se vejo uma pinta estranha no queixo, eu fecho os olhos e espero que me leve rápido; não precisa ser totalmente indolor, posto que é morte, mas que eu não tenha de gastar o dinheiro público.

(Também não tenho nenhum, nenhum desejo para meu velório-enterro-funeral, sempre digo. Façam o que for mais fácil e barato. Joguem meu corpo no lixo. Joguem aos cachorros.)

#quietqutting #gratiluz

30/09/2022

ELEIÇÕES 2022



Deputado Federal: Augusto De Arruda Botelho 4004
Deputada Estadual: Chirley Pankará 50522
Senador: Márcio França 400
Governador: Fernando Haddad 13
Presidente: Lula 13


(Em 2018 votei no Ciro, no primeiro turno. Não me arrependo, pelo contrário - acho que deve ter se arrependido quem votou no PT. Não tinha o menor ambiente pro PT. Se Hadad ganhasse, com o fervor bolsonarista, seria um caos...)

(Agora o ambiente é bem diferente.)

(Não tem essa de "Ai, prefiro o Ciro", Ciro não vai pro segundo turno.)

(Então é concentrar pro Lula ganhar no primeiro, pra não deixar o Coiso se armar, pra não dar chance pro golpe, pra deixar claro o recado.)

(INOCENTE ninguém é. Mas o nível de canalhice, desonestidade, maldade, analfabetismo de quem está no poder é OUTRO.)

20/09/2022

AUTOFICTION

 


No fim de semana saiu o novo (nono) álbum do Suede, minha banda favorita de todos os tempos, que acompanho desde a adolescência, já vi vários shows, conheci os integrantes, etc, etc.

Eles descrevem "Autofiction" como o disco "punk" da banda, com canções curtas, diretas e barulhentas. Na verdade, soa mais como pós-punk, um baixo em primeiro plano, guitarras sombrias e vocais esganiçados - Suede sempre teve um pé no gótico.

Eu gosto. Achei o álbum melhor do que eu esperava, porque os primeiros singles ("She Still Leads Me On" e "15 Again") são bem fracos. Mas ouvindo o disco inteiro, dá para entender algumas escolhas questionáveis, como os falsetes desafinados de Brett Anderson no meio de uma palavra e as guitarras em segundo plano, sem grandes solos. O destaque fica para o baixo de Matt Osman, que soa bem diferente e mais proeminente do que nunca. É um disco para ouvir alto... e acabar rápido. 

Achei corajoso, diferente do que eles vinham fazendo, e traz um frescor em plena meia idade da banda. Minhas favoritas são "The Only Way I Can Love You", "What Am I Without You" e "Personality Disorder". Algumas começam muito bem (como "Black Ice" e "Turn Your Brain and Yell"), mas ficam uma zona no refrão, com essa mescla de falsetes. 

Enfim, 2022 tem sido um bom ano pros meus artistas favoritos (e Röyksopp continua lançando). 

Vai aí meu ranking atual (do melhor pro pior), de todos os discos do Suede: 

- Suede

- Dog Man Star

- Coming Up

- Night Thoughts

- A New Morning 

- Head Music

- Autofiction

- Bloodsports

- The Blue Hour





18/09/2022

NA ESTRADA


Acabo de voltar de uma turnezinha do Sesc, por 3 cidades do Paraná. 

Apucarana. 

Sesc é o nosso Ministério da Cultura restante; o do Paraná tem uma tradição literária forte, e sempre me prestigia. Já estive algumas vezes rodando por lá. Mas agora teve um sabor especial, depois de tanto tempo com os eventos parados, os debates online tomando conta. Sempre digo que é fundamental para o escritor circular, não só pelos encontros, as conversas oficiais e de bastidores, mas o próprio ato de arejar, ver novas paisagens, passar alguns perrengues...

Apucarana

A escrita é uma atividade solitária e muito masturbatória.  

Em Londrina

Agora estive em Jacarezinho na quinta (15), Apucarana na sexta (16) e Londrina no sábado e domingo. Os diferentes públicos e mediações geraram papos totalmente diferentes, o que é mais estimulante. O pessoal de Jacarezinho era um público mais cru, de EJA - Ensino de Jovens e Adultos; em Apucarana eu conversei com uma sala lotada de alunos de Letras, o que gerou a melhor mesa, divertida e com ótimas perguntas. Em Londrina eu dividi a mesa com o Oscar Nakasato, mediados pelo Ricardo Dalai. A conversa entre nós foi ótima, mas era um público bem disperso, com uma feira de livros acontecendo, crianças correndo, gente gritando, carros passando...


Os alunos de Apucarana. 


Deu também para fazer um turismo básico, encontrar leitores queridos como a Mariene Boldiere, sair para beber com os colegas e caminhadas bucólicas pelas manhãs. Não teve jacarés, mas deu para ver capivaras. 

Com Ricardo Dalai, Luigi Ricciardi e o Rafael Silvaro, em Londrina. 

E agora, por enquanto, neste ano não há mais nada. Estou nas prés do livro novo, sigo nas traduções, mas sempre receoso do que o amanhã me reserva - receoso de que não reservará mais nada. 

Em Jacarezinho.


07/09/2022

CONTEMPORANÍSSIMOS



Acabei há pouco uma avalanche de leituras como jurado do Prêmio Oceanos. Nessa primeira fase, cada jurado recebeu uma seleção aleatória de obras e tinha que dar nota. Tinha pouquíssima coisa que eu já tinha lido, pouca gente que eu conhecia, muita coisa ruim, mas algumas pérolas e boas surpresas. Fiquei feliz em ver que minhas maiores notas entraram na lista dos semifinalistas. Agora um outro júri escolhe os dez finalistas do ano. A lista completa está aqui: 

https://oceanos.icnetworks.org/oceanos/2022/semifinalistas

Pude então voltar para as leituras por prazer... que nem sempre... ou quase nunca são tão prazerosas... nem são tão por lazer assim... amigos, colegas, gente que me deu força, gente que prometi dar força...

Dos publicados este ano, alguns me chamaram especial atenção, começando com um romance que discute muito a própria situação da literatura brasileira atual.

O Homem que Escrevia para Ganhar Prêmios

Em "O Homem que Escrevia para Ganhar Prêmios", do brasiliense Lourenço Dutra (Arribaçã Editora) um escritor frustrado, homem-branco-cis-hétero-de-classe-média, tenta formatar o livro perfeito para ganhar um prêmio e mudar sua carreira. Poderia ser só autoficção ressentida, mas o romance estruturado quase só em diálogos se firma no humor para pintar a cena literária atual e dizer tudo aquilo que nós (escritores) já sabemos, mas que só poderíamos  dizer mesmo na ficção. Tem cenas hilárias, outras um pouco tolas (como criar uma espécie de Paulo Coelho chamado Pedro Lebre), mas a prosa ligeira é bem divertida de se ler e se identificar. Uma prova de que só o humor salva. 


Cristhiano

Discorrendo um pouco sobre essa história do exílio atual do escritor branco-hétero-cis-etc, me lembrei do badalado lançamento do Cristhiano Aguiar pela Alfaguara, "Gótico Nordestino". Ele alcançou o que muitos considerariam impossível: sucesso com um livro de contos de terror (de um autor branco-hétero-etc). O título em si é um achado, remete a um regionalismo contraditório, também com certo humor, mas que ilustra muito bem a proposta do livro, com narrativas calcadas no folclore nordestino. Talvez o que mais me incomode no livro seja um de seus maiores méritos: essa escrita limpa, "profissional", de quem estudou muito construção narrativa (e que se encaixou num molde respeitável). Falta um pouco de ousadia e espontaneidade, mas não deixa de sobrar talento. 


Uirapuru

Espontaneidade é o que não falta no primeiro romance do Febraro de Oliveira, de 23 anos, do Mato Grosso do Sul. Conheci ele na minha passagem pelo Pantanal, e fiquei curioso com seu "Uirapuru". 


Febraro

O livro é dos melhores exemplos do poder da juventude na literatura - algo que só poderia ser escrito muito jovem, por toda sua força lírica. Em prosa poética, o personagem discorre sobre suas relações familiares, com uma narrativa não tão traçável. (Me lembrou um pouco do meu "A Morte Sem Nome", que também escrevi aos 22, e não conseguiria escrever hoje). Eu sempre falo isso, da hipervalorização da "maturidade" na literatura, e como a juventude pode trazer um ímpeto tão necessário para ventilar nossas páginas. Febraro faz isso lindamente; um autor a se acompanhar (mas, vendo pela orelha que ele também é cria de oficinas literárias e se forma como professor, tenho medo do que o futuro pode fazer dele como "escritor profissional"). (RESISTA, FEBRARO!)


João Maria Matilde

E enfim consegui ler também o novo da Marcela Dantés, mineira finalista dos Prêmios Jabuti e São Paulo ano passado. "João Maria Matilde" (Autêntica) também é um romance sobre a busca da identidade através da família - no caso, a descoberta de um pai desconhecido em Portugal, que acaba de falecer. Dantés é muito delicada, e mordaz quando necessário, uma escritora talvez no equilíbrio ideal entre potência lírica e estrutura profissional. Fez o dever de casa, mas não deixa de sair da casinha. 

Marcela

27/08/2022

O SALDO DA OFICINA

 


 Acabou hoje a oficina que dei todos os sábados de agosto, por Zoom.

Foi uma ótima experiência – melhor do que eu esperava, na real; os alunos eram uns queridos, inteligentes, interessados, e parece que gostaram bem.

Eu sempre tenho resistência com oficinas, sempre falo; acho que tem muito truque, muita cagação de regra, e não acho que é a melhor coisa para aprender a escrever – por isso mesmo não me disponho a ensinar. A oficina que eu formatei é mais uma real do meio literário, com dados reais, valores, histórias de bastidores e tudo mais.

Foi mais ou menos assim:


AULA 1 - ESCREVER

Um livro não é feito de ideias, é feito de palavras – Lobo Antunes

- Não se vende ideia

- O que você quer dizer é mais importante do que a história que quer contar.

- A importância da leitura

- O peso da influência

- Dia-a-dia da escrita

- O personagem como personificação daquilo que se quer dizer

- A descrição a serviço da trama

- A linearidade narrativa

 

AULA 2 – PUBLICAR

- Formatação do livro

- Registro

- Leitura crítica

- Encontrar uma editora

- Autopublicação

- Valores pagos e valores recebidos

 

AULA 3 – DIVULGAR

- Capa e orelha

- Trabalho com a editora

- Trabalho do agente

- Resenha e publicidade

- Venda de direitos para o exterior

- Venda de direitos pra audiovisual

- Prêmios

 

AULA 4 – SOBREVIVER

- Do que vive um escritor?

- Eventos literários

- Antologias

- A carreira solo do autor

 

Na última aula também ouvi os projetos dos alunos, o que estavam escrevendo/publicando e adorei que só tinha coisa boa. Foi mesmo uma turma especial.

Todas as aulas se estenderam vinte, trinta minutos além das duas horas programadas (até porque eu falo demais, conto causos do meio literário, e os alunos sempre tinham ótimas perguntas). Pela ressalva que tenho com oficinas, se eu me disponho a dar, me preparo para dar o melhor possível. Quando preparava os tópicos de cada aula, se algo eu não sabia ou tinha dúvidas, ia atrás de quem sabia. E, bem ou mal, são 20 anos neste meio, tenho bastante experiência, bastante história e conheço muita gente.

Aproveito pra agradecer ao Alexandre Staut, à Cassia Carrenho, à Andrea del Fuego e ao Samir Machado de Machado, que me deram help em alguns tópicos; minha irmã, Rhena de Faria, que me ajudou nos macetes do Zoom, o Marcelino Freire e o Jorge Filholini que me ajudaram na formatação do curso e o Klauz, que fez os banners. Não se faz nada sozinho... nem na literatura... infelizmente... (e isso foi uma das discussões do curso).

Como a experiência foi tão boa, estou abrindo OUTRA TURMA AGORA EM SETEM(mentira). Foi uma boa experiência e estou com um curso formatadinho, mas foi tanto trabalho, divulguei tanto, PATROCINEI anúncio no Insta, paguei Zoom, enchi o saco de divulgar, e tive só 8 alunos (a 300 reais cada); financeiramente não é dos melhores investimentos; e  se com todo esforço consegui reunir 8, se fizesse outra agora não teria mais ninguém.

Não vai ter mais. Nunca mais. Acabou!

Mentira, claro. Em outubro devo dar uma... de um só dia, que uma livraria do Rio me pediu, nesses mesmos moldes. Mas ficou claro pra mim que oficina não é solução (nem pro autor, nem pro aluno). (No começo do ano, quando eu tava fodido, fodido, fodido de grana e trabalho, o que me mais me sugeriam era dar oficinas.)

A solução gente... é só LULA 13!

(mentira, também, é só um paliativo. Mas vamos nessa. Vamos de Lula, claro.)


19/08/2022

PROFOUND MYSTERIES II



Tô chocado...

Dos artistas-grupos-bandas em atividade no momento, a dupla norueguesa Röyksopp tá no meu Top 3. Talvez em segundo (depois de Suede, claro). 

Só que não tavam lá muito em atividade, com o último disco lançado em 2014 - com o fatídico título de "The Inevitable End", como uma despedida do formato disco-álbum, que é bacaninha (e tem singles fodásticos como "Running to the Sea" e "This Sordid Affair"). 

Daí, há poucos meses, eles lançaram "Profound Mysteries", um álbum bem mais ou menos, que agora me parece uma coleção de B-sides.

Só que poucas semanas depois começaram a soltar uma faixa nova atrás da outra e anunciaram o "Profound Mysteries II", uma segunda parte, ou um novo disco, o que me parece mais o caso, lançado menos de quatro meses depois. 

Não tava entendendo nada. E ainda não entendi direito. Lançaram uma faixa atrás da outra - fizeram uns vídeos esquisitos com trechos de músicas e clipes inteiros que chamaram de "visualizers" (que, pesquisando agora, me parece uma nova tendência em música eletrônica). O "visualizer" é como se fosse uma instalação visual pra música; no caso do Röyksopp, é a filmagem de uma peça, como uma escultura, que representa a música. Coisa trippy mesmo - (no site do Kondzilla eles definem como se fossem "ondas sonoras"). 

(isso é um "visualizer")


(isso era um "teaser", com um trecho da música, que não entendi muito o sentido.)


Mas e a música?

Tava boa. E só melhorou. Ouvindo agora o álbum inteiro - que acabou de sair - faz todo sentido e é absolutamente maravilhoso. Simplesmente o MELHOR disco de um dos meus artistas favoritos. 

É inteiro foda, começando com o suingue da instrumental "Denimclad Baboons" - o Röyksopp é uma dupla de produtores, afinal, raramente cantam, e sempre convidam artistas (a maioria escandinava) para colocar os vocais. Nesse disco temos alguns de seus parceiros favoritos (deles e meu): Susanne Sundfor (que arregaça em duas faixas), Jamie Irrepressible, Astrid S, Pixx e Karen Harding. 

Cinco das dez faixas já tinham sido lançadas - são todas ótimas, mas não tava entendendo o clima "retrô" do disco. A faixa da Karen Harding, por exemplo, "Unity", parecia um pastiche de dance dos anos 90 e achei que eles iam investir nisso, um disco propositadamente datado, com cara de eletrônica do século passado. 

Mas não é isso. Ouvindo o disco inteiro, tem outra pegada e faz todo sentido. É absurdo de bom. Tava ouvindo agora de madrugada e na metade já tava maravilhado; quando chegou na última faixa (só instrumental, e a melhor do disco) tive a certeza de que eles fizeram o melhor disco da carreira. 

Vai ser difícil alguém superar esse ano pra mim. Suede - que é minha banda favorita - lança álbum novo mês que vem, mas os dois singles lançados até agora foram bem mais ou menos... 

Enfim, há tempos não me empolgava assim com um disco. Até mandei mensagem pra eles agradecendo (porque já vi eles visualizando meus stories). E até gerou um post neste blog, veja só. Só tenho um pouco de medo de daqui a duas semanas eles começarem a lançar faixas novas e anunciarem "Profound Mysteries III"... ou não. 

"Profound Mysteries II" saiu nesta sexta e já dá pra ouvir nas plataformas de áudio (mas ouve direito o II; o I é muito, muito inferior). Eu, que hoje raramente compro disco, com certeza vou encomendar. 


Casalzinho lindo. 


ATUALIZANDO: (Sim, hoje anunciaram um TERCEIRO para novembro. Um motivo para ficar vivo até lá.)

05/08/2022


Beijo no Gordo (1938-2022)

Acordei hoje com a notícia da morte do Jô, uma tristeza. Ontem mesmo falei tanto dele. Das pessoas que mais deram força pra minha carreira – fui ao programa dele 4 vezes e sempre era um acontecimento. Ninguém mais no Brasil poderia fazer um programa desses, que abrangesse tantos assuntos, trouxesse tanta gente diferente, escritores dos mais variados. Por mais que falassem da soberba dele, sem ele os talk shows ficaram bem mais burros. Era um artista de um nível que não se faz mais. Ficam as boas lembranças e o privilégio de ele ter passado por minha vida.

06/07/2022

OFICINA


Vira e mexe leitores/seguidores me pedem oficinas literárias. E SEMPRE colegas autores me sugerem dar oficinas - como se fosse a única salvação do escritor hoje em dia. 

Acho esses cursos sempre duvidosos - muita gente que mal consegue escrever um livro tá aí, ensinando os outros a escrever. Mas faz certo sentido - o professor de piano não é exatamente o maior pianista, só é preciso ter didática, saber ensinar. 

Eu não sei. Não me considero apto a ensinar ninguém a escrever. Por isso, quando formato oficinas, penso em outros formatos, dar mais um panorama/real do meio literário, e discutir as ideias dos alunos.


É isso que vou fazer numa nova oficina, todos os sábados de agosto, das 10h às 12h, por zoom. 

São vinte anos de carreira nessa indústria vital, doze livros e muitas histórias para compartilhar. 

Vão ser inscrições limitadas, para poder discutir também as ideias dos alunos, responder dúvidas, etc, mas também não acho que vai lotaaaar. Já tenho um punhado de inscrições, e quando eu achar que deu eu fecho. 

As informações estão nos flyers. Para se inscrever e tirar qualquer dúvida, só me inscrever no email da foto principal. 


14/06/2022

PAUTAS ECOANDO


Escritoras na arquibancada do Pacaembu.

No fim de semana dei uma passada na Feira do Livro do Pacaembu, para encontrar os colegas e participar dos autógrafos da revista Morel, editada pelo querido Ronaldo Bressane, com a qual colaborei há alguns meses. 

Com a Giovana Madalosso, que organizou o encontro de mulheres.


Era manhã de domingo, bem o momento em que quase 500 escritoras se reuniram nas arquibancadas do estádio, para fazer uma fotografia das mulheres produzindo literatura hoje. 

Eu entendi o encontro mais como uma celebração do que um protesto. Se historicamente as mulheres sempre estiveram às sombras na literatura, o momento é de total holofote. Nunca se publicou tanto, se discutiu tanto, se fez tantos eventos, livrarias e publicações para as mulheres. 

É um momento para pautas identitárias, em que as produções literárias que mais repercutem discutem a questão das mulheres, dos negros, dos indígenas. (Lembro que, nos finalistas do Jabuti do ano passado, por exemplo, TODOS os finalistas tratavam de questões raciais, inclusive o meu livro). 

Com os góticos Nestarez e Aguiar, no Pacaembu.

Acho sempre bem vindo discutir novas pautas, trazer novos temas, novas estéticas - mas me incomoda um pouco quanto a "pauta da vez" se torna absoluta, e até se nega ou invalida quem está fora dela. Vi nos últimos tempos livros importantes de autores homens-brancos-héteros sendo escanteados por não se encaixarem na discussão de vez (sendo às vezes até invalidados por esses grupos). Sempre gosto de lembrar do exemplo de um prêmio que o Evandro Affonso Ferreira recebeu, que veio com uma avalanche de críticas femininas, por não terem mulheres finalistas. Não se pode dizer que um senhor escritor como o Evandro já teve em toda sua carreira tanto espaço quanto uma Djamila, uma Del Fuego, uma Tatiana Salem Levy, por exemplo. Então ainda que as reinvindicações por espaço de grupos marginalizados sejam legítimas, pontualmente muitas vezes ela se tornam injustas. 


Com Julia Codo e Andrea del Fuego.

Fiquei refletindo como os gays se encaixavam nesse momento. E acho que a pauta homossexual masculina não está sendo especialmente favorecida, também por não ser novidade. 

Pode se dizer que historicamente mulheres e negros estão escrevendo, publicando, comunicando seus pontos de vista há muito pouco tempo, mas isso não é exatamente verdade com os homens gays. Os homossexuais masculinos escrevem desde a antiguidade clássica - e seus pontos de vista, o homoerotismo, está presente desde então, ainda que de maneira latente ou velada. A história de afeto e amor entre os homens acontece desde os épicos gregos, os romances de cavalaria, o romantismo. 

Essa visão homoerótica de mundo, na verdade, nunca foi um grande tabu na literatura, ela só passou a ser quando a homossexualidade passou a ser assumida e discutida - daí o afeto entre os homens que "passava de boa", de forma velada, se tornou "viadagem."

Pense em Àlvarez de Azevedo, por exemplo, ou Oscar Wilde, que fez toda fama e fortuna em cima de uma literatura homoerótica, que só se tornou problematizada quando ele de fato foi condenado por pederastia no final do século XIX. Penso também em como uma obra como "Morte em Veneza" seria problematizada hoje, com a questão da pedofilia. De todo modo, esses pontos de vista de homens gays são escritos, publicados e amplamente discutidos há séculos.

Para mim é cada vez mais um desafio tentar encaixar o que eu tenho a dizer com temas que sejam relevantes no momento. "Fé no Inferno" foi pensado muito dessa forma (e ainda que tenha conquistado certo prestígio, não posso dizer que foi muito bem-sucedido). Sempre levantei a bandeira do "atemporal-universal", mas acho que estamos num momento político em que isso se confunde com o "irrelevante." É a velha história do "quem faz diferente não faz diferença." É preciso encontrar algo que soe novo, mas que ainda ecoe aos milhares - como tantas mulheres têm feito. 

NESTE SÁBADO!