FILHOS DO MILHO
Eu pisava nos grãos, no chão, grãos de milho. Deixados não sei por quem, não sei por que, para pombas que pousariam quando fôssemos embora. Quando o sol varresse as ruas, nos limpasse das sarjetas, e desaguássemos em bocas-de-lobo. Mas naquele momento as bocas eram outras, de noite. E o fogo dentro de mim fazia com que cada grão pipocasse quando eu pisava Eu pisava.
E eu sorria. Pois assim o álcool me fazia. Tarde demais para pipocas mas ainda cedo para pombas. Alimentaríamos outras. Nós, os grãos dourados da civilização, espalhados pela rua como pássaros ciscando. Nossos corpos se dilatando, amanteigados e salgados, uma dor que chamam de delícia. Meu cérebro pulsava em cada sinapse como se a genialidade não encontrasse mais espaço. Se eu despejasse, seria apenas vômito. Mais ainda era cedo. E era tarde. Era tarde demais.
Para voltar atrás.
Meu apartamento há dois metros de mim. Longe. Bastava virar uma esquina para sair de uma zona nobre para minha miséria. Praticamente, bastava apenas minha intenção. A intenção de todos nós. A fome com minha vontade de pipocar. Sal nas minhas costas. O calor, e o suor, o sal sobre minha língua dizendo para eu provar.
Como todo mundo tem preguiça de ler na tela, vou deixar só esse trecho do conto. Afinal guardo sempre o melhor para quem está dispostos a pagar... ops!
Vocês também podem ler os restos nos grãos jogados no chão da Frei Caneca... da Augusta...
E falando em Pomba, dores e delícias, Daniel fez um release sobre mim pro Grindzine - a revistinha do Grind - deste mês, com as fotos que a gente fez no Lord:
http://www.aloca.com.br/grindzine/71/especial.html