NO FUNDO DO POÇO
Ok, como eu só tenho comentado tosqueira aqui... eu fui ver “O Chamado 2”.
Todo mundo sabe que sou fã daquela menina, Samara, a morta-viva presa num poço. Acho o primeiro filme (e a versão americana mesmo, do Verbinski) uma pérola. Tem uma das melhores cenas de horror de todos os tempos. Tem um vídeo surrealista inserido que é melhor do que “O Cão Andaluz”. E a premissa já é genial, a história de morrer sete dias depois de assistir uma fita.
Li também o romance do Koji Suzuki, no qual o filme original foi baseado. O livro é bem bom, mas menos assustador. Trata toda a questão mais de uma maneira metafísica do que sobrenatural. O vídeo é mais propagador de um vírus do que de uma maldição. E a história da Samara/Sadako é completamente diferente.
Agora resolveram foder com tudo e fazer esse “Chamado 2”. Transformaram a menina num demônio televisivo, com novas motivações e nenhuma coerência. A verba estava mais polpuda, então meteram CGI, efeitos bizarros e uma avalanche de situações absurdas.
O primeiro filme se concentrava na fita. E a partir dela ia se extraindo todas as outras imagens e a própria explicação do filme. Tinha um enredo simples e eficiente, que ia se revelando aos poucos. Nessa segunda parte, fizeram um pouco de tudo. É “O Exorcista” meets “A Hora do Pesadelo” meets “A Profecia”. E “O Chamado” não se encontra.
Para não dizer que o filme é de todo mal, começa muito bem. Mostra como a maldição da fita se alastrou, e como a protagonista do filme anterior (Naomi Watts) se torna paranóica e arrependida por ter liberado o espírito por aí. Mas isso logo termina. Acho que o roteirista quis sumir com a premissa da “fita assassina” por ela estar se tornando retrô. Afinal, cada vez tem menos gente com videocassete no Estados Unidos. Mas eles podiam ter explorado isso, imagine. Uma pessoa tenta passar a fita pra frente (para se livrar da maldição, é preciso mostrar a fita para outra pessoa), mas não consegue, porque agora todo mundo só tem DVD em casa, haha. Seria ótimo.
Pelo visto, essa história de Hollywood chamar diretores japoneses para refilmar suas próprias obras não está dando certo. Bem, cá pra nós eu também não gosto muito das versões originais japonesas. Só fico com medo de pensar o que virá com Walter Salles refilmando “Dark Water”. Aliás, será que os americanos o chamaram porque acham que o Brasil também fica na Ásia?